05 outubro 2013

Convicções irrevogáveis

No séc XII desenvolveu-se no sudoeste de França um movimento cristão autónomo – os cátaros, palavra derivada do grego, significando “puros”. Recusavam a obediência a Roma, alguns dos seus princípios e, principalmente, muitas das suas práticas. Naturalmente, por um certo prisma, foram classificados de “hereges”. Chegaram a ter um nível elevado de desenvolvimento, organização e abrangência, o que muito irritou o bispo de Roma da altura. À questão espiritual juntaram-se ambições materiais e conflitos territoriais da época e resultou na organização de uma cruzada, exactamente no mesmo estilo das feitas aos sarracenos, com os correspondentes e brutais saques e massacres. Ficou célebre a resposta do Abade Arnaud Amaury quanto na tomada de Beziers o questionaram sobre como distinguir os hereges dos bons fieis: “Matem-nos a todos, Deus saberá reconhecer os seus…!”

A cruzada foi longa e as forças eram maiores do outro lado. À medida que a pressão subia os cátaros foram-se refugiando nos castelos da região, verdadeiros ninhos de águia. O último foi Montsegur. Da base da colina ao topo são 150 m de desnível íngreme. Após um cerco de 10 meses, o castelo foi finalmente tomado. Aos sobreviventes do assalto final foi proposto renegarem a sua fé. Mais de 200 recusaram-se e foram queimados ali mesmo.

Outros tempos, outro contexto social, cultural, outra escala de valores e não é fácil fazer leituras daqui para lá. No entanto, assumindo a diferença nos tempos e o facto de que também já nem sequer haver fogueiras, quantos estão dispostos nos dias de hoje, mesmo depois de irremediavelmente derrotados, a prescindirem de algo valioso, para manter um caminho e uma convicção até ao fim, nem que isso represente perder o pouco que lhes resta? E, no entanto, a grandeza da dimensão humana está precisamente nisso!

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