03 julho 2013

Voos e sobrevoos

Vamos lá a ver. Nem sou Américas nem anti-américas. Não acho que a maior parte dos prisioneiros de Guantanamo, incorrectamente detidos, sejam uns coitadinhos vítimas de injustiça, nem acho que Snowden seja um perigoso bandido, apesar de ter infringido a lei do seu país.

Agora, que para transportar os prisioneiros para Guantanamo as nossas bases dos Açores tenham sido usadas “no problem” e que o avião presidencial da Bolívia não possa ter aterrado em Lisboa por pretensamente transportar Snowden... há aqui qualquer coisa que não bate certo!

19 junho 2013

É a guerra, estúpido !

Um assunto bélico de grande actualidade é a utilização dos zângãos ,“drones”, os aviões telecomandados e com a polémica dividida em dois eixos. Por um lado, os seus tripulantes não estão presencialmente em cenário de guerra, mas sim em segurança e à distância, voltando ao lar, doce lar, no final do turno, depois de terem disparado e morto gente; por outro lado, qual a legitimidade de se poder matar assim de forma tão selectiva.

Relativamente ao primeiro ponto, também já ouvi comentários daqueles que disparam à queima-roupa à cabeça de uma adolescente à saída da escola, segundo os quais esta é uma forma covarde de fazer a guerra...!  Entendo que possa ser psicologicamente perturbador voltar para casa e a abraçar mulher e filhos umas horas depois de ter atingido mortalmente um alvo, mas será pior do que estar submerso num teatro de guerra, correndo riscos reais? Tenho dúvidas que seja pior e, sobretudo, é uma parte muito fácil de resolver. 

Quanto à selectividade e ao carácter assassino, na guerra matam-se inimigos e com meios mais convencionais aumentam os chamados danos colaterais. Achar a selectividade negativa é estranho. A haver guerra certamente que quanto mais cirúrgica melhor. Na campanha em curso até se usa o adjectivo “robot”, invocando uma certa desumanização. Ora bem o “drone” típico é apenas telecomandado, não é automático. Um míssil convencional é mais “cego” e ainda muito mais será o velhinho canhão! Não vou acreditar que a origem da campanha seja uma reacção à liderança que os Estados Unidos têm da tecnologia, mas parece. Apenas concluo que falar no problema zangão é estar ao lado do problema, o verdadeiro e estúpido problema é mesmo a guerra. É a guerra, estúpido!

Foto googleada

14 junho 2013

Ainda a Síria

No Iraque descobriram armas de destruição maciça, aqui finalmente descobriram utilização de gás sarin pelo governo sírio, que era mesmo o que faltava para justificar uma ajuda aos “bons rebeldes”.

E recordei-me da ajuda aos talibans do Afeganistão quando eles combatiam os russos que deveria ter ensinado que nem sempre o inimigo do meu inimigo, meu amigo será.

07 junho 2013

Morto pelas ideias ...?

França está em estado de choque esta semana. Um estudante de esquerda, anti-fascista, morreu após uma agressão por um grupo de extrema-direita. A exploração política dispara e há quem diga que ele morreu pelas suas ideias, quase um Martin Luther King.

Ora bem, fui investigar e, ao que parece, foi assim: havia uma venda privada de roupa de marca bastante apreciada tanto pelos jovens da extrema-esquerda como da extrema-direita… Aí, dois grupos ter-se-ão cruzado e “naturalmente” provocado. A provocação teve como consequência uma pancadaria no exterior. Clement, que até era franzino, recebe um murro que o faz cair e bater com a cabeça num poste, o que provocou a sua morte.

Para lá de naturalmente ser a lamentar a morte e uma morte assim, passar este assunto para a esfera da “luta política” e das ideias é patético e pateta.


Foto estraída do "Le Monde"

06 junho 2013

Bê5 - de bandido a clássico

Estarão certamente na memória de muitos neurocirurgiões dos anos 70 e 80. Muito lhes enriqueceram o curriculum quanto a tratamento de traumatismos cranianos!  Juntamente com a também famosa XF17 eram duas máquinas terríveis.

Hoje tem o charme de um clássico !

03 junho 2013

O mal de ser novo

O novo pacote fiscal, que traz a inovação de pretender reduzir a carga fiscal em vez de a aumentar, tem uma particularidade principal muito nociva e que é precisamente o facto de ser “novo”. O que um investidor valoriza é a estabilidade. Para alguém que pense em investir seriamente em Portugal esta não é uma boa notícia, pelo contrário. É a prova provada de que não se pode confiar nas regras existentes hoje, porque a qualquer momento podem mudar. E, como é óbvio, sem regras minimamente estáveis para o horizonte do investimento, ninguém gosta de ir a jogo.

Esta medida pode aliviar o esforço para projectos já pensado e planeados mas um investimento a sério, como nós precisamos, não é definido numa semana para durar um semestre. Pretender que relançar a economia e a confiança dos investidores se consegue com coisas assim, anunciadas hoje para terem efeito amanhã e depois de amanhã logo se verá, é demagogia ou ignorância.

Não sou economista mas posso ter a pretensão de fazer uma sugestão. Em vez de andarem com ideias novas com esta frequência assustadora, definam um quadro macro-económico e particularmente fiscal estável para um horizonte de 10 anos. É um grande desafio e que devia envolver governo e oposição. Para o desenvolvimento da economia, criação de emprego e isso tudo de que precisamos seria muitíssimo mais eficaz do que este tirar e a dar rebuçadinhos dia sim, dia não.

29 maio 2013

Onde começa e onde acaba

A fotografia vencedora do prémio World Press deste ano é espectacular. Apetece quase dizer que se o autor a tivesse realizado em estúdio com iluminação preparada não sairia muito melhor! Donde que: fantástico e parabéns!


Só que havia mesmo algo de estranho na perfeição da fotografia. De uma primeira acusação de ser uma fusão de várias, afinal parece que foi “só” ajuste de contraste e de tons… ajustes que supostamente não são manipulação. Será? É uma pergunta sem resposta clara. Mas se formos ao limite, como por exemplo nas fotos abaixo, em que eu realmente não desloquei um pixel que fosse, apenas me limitei a mexer grosseiramente nuns parâmetros de cor na da direita, podemos dizer que esta continua a ser uma “fotografia” genuína? Tenho sérias dúvidas…




28 maio 2013

Primavera ou isso

Quando o processo começou na Tunísia, todos assobiaram para o lado assumindo que com mais ou menos esforço Ben Ali colocaria ordem na casa. E Ben Ali caiu. Quando começou no Egipto as reacções já foram mais ambivalentes: é importante a democracia, é importante a legitimidade… E o regime caiu. Quando começou na Líbia, já ninguém teve dúvidas Khadafi vai pelo mesmo caminho e vamo-nos colocar do lado certo do vento da história. Enganaram-se de novo. Khadafi só caiu pela preciosa ajuda dos que quiserem activamente estar do lado “certo”.

Temos agora a Síria. Há quem ache que está em causa a simples luta entre um mau ditador e uns bons rebeldes, mas devido à má experiência da Líbia, tem havido muito mais prudência na entrada/ajuda ao conflito. No entanto, e acrescentados os ingredientes da situação geopolítica actual na zona, não é difícil concluir que o que está em confronto na Síria não é certamente a democracia contra a ditadura. É muito simplesmente uma nova declinação do histórico conflito entre sunitas e shiitas que tem quase tanto tempo quanto a religião muçulmana.

Qual o propósito de o Ocidente apoiar declaradamente uma das partes quando o registo das acções e barbaridades cometidas parece ser relativamente bem distribuído? Porque é que quando se fala do eventual uso de gás sarin pelo governo sírio é um escândalo que justifica sair a terreiro e quando parece que é antes/também usado pelos rebeldes, se assobia para o lado? Se o popular canal de televisão Al-Jazira (Qatar – Sunita) trata de uma forma diferenciada os conflitos nos diferentes países conforme o seu alinhamento com a península arábica, sede do sunismo, porque é que temos que os acompanhar nessa discriminação?

Enfim haverá interesses e razões que justificam tudo isto, como também há gente inocente que sofre e que morre, mas por favor não pintem o cenário com as cores da liberdade e da democracia. Estas merecem muito mais respeito.

23 maio 2013

Em Despedida ao Autor


De tantas vezes ter dormido
Com a minha solidão
Ficamos quase amigos
Uma doce habituação
Ela não me abandona nunca
Fiel como uma sombra
Segue-me aqui e acolá
Pelos quatros cantos do mundo

Não, eu nunca estou só
Tenho a minha solidão

Quando está no fundo da minha cama
Ela ocupa todo o espaço
E passamos largas noites
Só os dois face a face
Não sei mesmo até onde
Irá esta cúmplice
Deverei tomar-lhe o gosto
Ou reagir ?

Não, eu nunca estou só
Tenho a minha solidão

Com ela, aprendi tanto
Que até verti lágrimas
E se por vezes a repudio
Ela nunca desarma
E se prefiro o amor
Duma outra cortesã
Ela será no meu último dia
A derradeira companheira

Não, eu nunca estou só
Tenho a minha solidão

Georges Moustaki em tradução livre

19 maio 2013

As duas Europas


Neste processo em curso de clivagem entre a Europa do norte, pretensamente rica, e a do Sul, perdulária e falida, já se chegou ao ponto de identificar a linha de separação com a fronteira religiosa: de um lado o austero calvinista, do outro o católico faustoso. Nesta lógica confirma-se que a ortodoxa Grécia, ortodoxa apenas no significado religioso da palavra, é certamente um caso à parte e que a França, neste como em muitos outros campos, será uma coisa central indecisa e imprecisa. Seria interessante analisar até que ponto é a influência religiosa que determina o comportamento ou se existe algo de outra natureza que se reflecte na religião dominante; por outras palavras, qual a causa e qual o efeito.

Devo acrescentar ainda que tenho algumas dúvidas sobre essa suposta superioridade moral do norte. O sistema é menos tolerante e um sancionador mais severo, mas não me parece que ter um “ADN” moral assim tão distinto. Alemães e italianos a fazerem negócios por esse mundo fora (sejam submarinos ou sejam helicópteros) não são muito diferentes.

Para lá dessa questão espiritual e/ou moral, o que é certo e certíssimo que é há duas Europas gastronómicas: a que cozinha com azeite e bebe vinho e a outra que cozinha com manteiga e bebe cerveja. E, quem fala em gastronomia, fala em saber viver. Há uns anos quando sob um céu de chumbo eu atravessava o deprimente vale do Ruhr, com aquelas escórias das minas e tenebrosos restos de indústria pesada, eu dizia a mim próprio que preferia atravessar o Alto Douro de Fiat, do que estar ali, nem que fosse de Mercedes. Desculpando a referência explícita às marcas, o problema é por cá termos trocado os Fiats por Mercedes e não os conseguirmos pagar. Resumindo e tentando concluir com um pouquinho de exagero: deixemo-los lá então com as suas cervejas e carros de luxo em ambientes deprimentes e reaprendamos a viver conforme podemos pagar, mas com o saber que temos, e veremos no fim quem é o invejoso.

16 maio 2013

Questão de segurança

Para quem não saiba ....

Tomar um duche pode molhar o chão da banheira

a menos que já haja lavagem a seco.