28 maio 2013

Primavera ou isso

Quando o processo começou na Tunísia, todos assobiaram para o lado assumindo que com mais ou menos esforço Ben Ali colocaria ordem na casa. E Ben Ali caiu. Quando começou no Egipto as reacções já foram mais ambivalentes: é importante a democracia, é importante a legitimidade… E o regime caiu. Quando começou na Líbia, já ninguém teve dúvidas Khadafi vai pelo mesmo caminho e vamo-nos colocar do lado certo do vento da história. Enganaram-se de novo. Khadafi só caiu pela preciosa ajuda dos que quiserem activamente estar do lado “certo”.

Temos agora a Síria. Há quem ache que está em causa a simples luta entre um mau ditador e uns bons rebeldes, mas devido à má experiência da Líbia, tem havido muito mais prudência na entrada/ajuda ao conflito. No entanto, e acrescentados os ingredientes da situação geopolítica actual na zona, não é difícil concluir que o que está em confronto na Síria não é certamente a democracia contra a ditadura. É muito simplesmente uma nova declinação do histórico conflito entre sunitas e shiitas que tem quase tanto tempo quanto a religião muçulmana.

Qual o propósito de o Ocidente apoiar declaradamente uma das partes quando o registo das acções e barbaridades cometidas parece ser relativamente bem distribuído? Porque é que quando se fala do eventual uso de gás sarin pelo governo sírio é um escândalo que justifica sair a terreiro e quando parece que é antes/também usado pelos rebeldes, se assobia para o lado? Se o popular canal de televisão Al-Jazira (Qatar – Sunita) trata de uma forma diferenciada os conflitos nos diferentes países conforme o seu alinhamento com a península arábica, sede do sunismo, porque é que temos que os acompanhar nessa discriminação?

Enfim haverá interesses e razões que justificam tudo isto, como também há gente inocente que sofre e que morre, mas por favor não pintem o cenário com as cores da liberdade e da democracia. Estas merecem muito mais respeito.

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