20 setembro 2011

Finalmente !



Finalmente um filme em que valeu a pena o preço do bilhete e a proximidade das pipocas e afins.

O último de Woody Allen conjuga humor e profundidade, ritmo e fotografia. Cada qual face à sua terra/tempo prometidos e à insatisfação crónica do “só estou bem onde não estou”.

Um belíssimo retrato do conflito fundamental entre o pragmático e o poético, entre a realidade e o fantástico e apresentado num pleno de elegância e bom gosto.

19 setembro 2011

Questão de Democracia?

Pedro Passos Coelho disse que a ocultação da dívida na Madeira é grave mas que é o PSD da Madeira e o seu eleitorado quem deve tirar conclusões. Não disse, como a sua antecessora, que a Madeira era um exemplo de um bom governo PSD. No entanto, acho que este problema não pode ser apenas democrático a ser sancionado com o resultado, oxalá negativo, das eleições. Da mesma forma como o resultado das últimas presidenciais não branqueia as suspeitas sobre o benefício indevido que Cavaco Silva terá tido com a SLN/BPN.

Para o eleitorado madeirense, numa perspectiva muita pragmática, esta habilidade de A. João Jardim permitiu trazer para a região mais dinheiro. Serão os princípios de ética e moralidade suficientes para o sancionar como espera Pedro Passos Coelho? Tenho sérias dúvidas.

Tem que haver uma forma clara e expedita de sancionar estas ilegalidades. Se tiverem impacto negativo no eleitorado também não me choca demasiado. A responsabilidade na democracia deve ser a 360º. Duas reflexões finais. O factor tempo é fundamental e se pensarmos que estamos num país que ao fim de uma década ainda não conseguiu colocar na prisão violadores de menores. Do ponto de vista preventivo ou há aqui um problema sistemático de autonomia a mais e/ou fiscalização a menos… ou há outras falhas para lá da original do governo regional.

17 setembro 2011

14 setembro 2011

Há um vírus no ar

Anda por aí um vírus perigoso e parece-me atacar com mais intensidade na Antena 1.
É uma espécie de música portuguesa nova que…

Tem uns imberbes a cantar (quase) que fazem os gatos do telhado parecerem tenores;

Tem umas letras que, pior só ler anúncios classificados, e que fazem o Quim Barreiros parecer um poeta;

A “música”em si dá aquela sensação que não foi acabada, uma coisa assim não maturada – vulgo “aborto”.

Não me perguntem nomes porque não os fixo, mas garanto que é mesmo um vírus mais perigoso do que a simples música pimba que não presumia nada nem tentava enganar ninguém.

11 setembro 2011

A amálgama do pós 11 de Setembro

Pois… eu não gosto de efemérides e até tinha planeado passar ao lado desta, mas não resisti. Sei bem onde estava na altura mas isso interessa pouco, como também sei que a 11/9/2006 estava a apanhar um avião para me instalar de armas e bagagens na Argélia.

Quanto ao de 2001, acho que ele criou/cria muitos equívocos quanto à relação do mundo ocidental com o Islão. Por um lado, uma negativa pela identificação dos atentados com os muçulmanos em geral e subsequente desconfiança e repulsa; por outro lado uma simpatia e compreensão de outra facção para com quem está a ser injustamente ostracizado. Vamos por partes … a Al Qaeda é uma organização que não se pode identificar com a globalidade do Islão. É terrorista como o foram as Brigadas Vermelhas e ainda o é a ETA. A grande maioria dos muçulmanos não se identifica com ela, apesar de não lhes ficar mal uma condenação mais clara e rotunda destes actos. Mas, por muito perigosa que seja a ameaça da Al Qaeda, existe um arsenal de legislação, polícia e tribunais para a combater. Com mais ou menos vítimas a lamentar o desfecho é claro como o foi para as Brigadas Vermelhas e é/será para a ETA.

No entanto, para o Sr Dupont e o Sr Smith o seu problema com o Islão não está nos potenciais atentados da Al Qaeda. Está em um dia, pela evolução demográfica e pelo princípio da democracia serem impedidos de tomar um pastis ou um pint à luz do dia, a menos de x metros da mesquita mais próxima. O Sr Silva ainda não imagina isso…

PS: E rever aqueles momentos com G.W. Bush bloqueado sem saber como reagir após receber a notícia é revelador da capacidade de discernir e agir do homem...

10 setembro 2011

Steve Jobs

Steve Jobs deixou as suas funções executivas na Apple no mês passado, no que será mais do que provavelmente o fim da sua vida profissional, pelo menos, e os comentadores de fim de jogo lá vão dando os seus palpites, comentários e conclusões. Alguns até ousam compará-lo de alguma forma a outra figura de referência contemporânea do mesmo meio: Bill Gates, com a Microsoft suposta inventora do Windows. Aqui, vamos com calma, por favor: Bill Gates também ficou milionário e influenciou a nossa relação com a informática mas não inventou nada: aproveitou bem as oportunidades que teve, e é um mérito, mas não inventou nada e tudo que fez/copiou raramente funcionava bem à primeira. A ideia do Windows (rato mais interface gráfico) nasceu na Xerox e foi pela primeira vez aplicado comercialmente nos Macintosh … da Apple. Quem, como eu, tentou trabalhar, e digo tentar porque não se passava da tentativa, com os primeiros Windows 2.x da Microsoft enquanto uns Macintosh’s ao lado funcionavam perfeitamente, só pode ficar com os cabelos em pé ao ver atribuir a paternidade do Windows à Microsoft … e curiosamente quem está a mudar esse paradigma e a tirar o rato da ligação do operador com a máquina … é a Apple.

O insucesso dos anos 80 e o sucesso dos anos 2000 da Apple/Steve Jobs têm o mesmo fundamento. A preocupação pelo design, elegância, bom gosto, eficácia e prazer de utilização. Só que nos anos 80 poucas empresas ou pessoas tinham o design dos equipamentos informáticos como critério prioritário. O importante era o preço e o desempenho; cor, forma ou tamanho do caixote era irrelevante. Se o Ipod e o Itunes marcaram, foi o Iphone que realmente fez descolar a Apple, oferecendo aos consumidores um brinquedo interessante e bonito que era comprado com a desculpa de ser um telefone. E isso foi tão bem feito e tão bem compreendido que se seguiu o sucesso espectacular do Ipad. Quando foi lançado alguns viam apenas um Iphone grande que nem fazia chamadas… mas no fundo é um brinquedo que o pessoal compra sem precisar da desculpa de ser também um telefone…

08 setembro 2011

Participação de um roubo

Acho curioso averiguar o significado dos nomes próprios: podem ser qualidades físicas ou morais, objectos, animais, plantas, etc. Nalgumas culturas é frequente quando alguém se apresenta, acrescentar de imediato a “tradução” do seu nome. Pelos nossos lados esse significado é frequentemente desconhecido. A larga maioria das vezes o nome é escolhido pela sua sonoridade e estética ou por antecedente familiar ou homónimo célebre e muito raramente pelas qualidades do nome com que gostariam que os filhos se identificassem.

Ao investigar se um nome próprio era masculino ou feminino caí num site que parecia ser precisamente de informação/aconselhamento para futuros pais sobre a origem e o significado dos nomes próprios. Obviamente que testei o meu e, para minha enorme surpresa, deu “homem livre”! Surpresa porque me recordo bem de uma revistinha juvenil, dos tempos em que as recebia, numa secção tipo “Como te chamas”, ter visto lá bem escrito que Carlos vinha do alemão Karl e significava “viril/forte”! E acreditei nisso estes anos todos...

Numa investigação mais aprofundada confirmei a versão do “homem livre” com a variante de apenas “homem” e até podemos assumir que, no fundo, dizer “homem livre” é algo redundante.

Foi um choque: não porque preferisse o “viril” ao “livre”, até pelo contrário, mas por ficar a pensar: então não é que Salazar e os seus censores não queriam que eu soubesse que, pelo nome, eu era um homem livre? É um abuso confiscarem-nos assim a identidade antroponímica! Será que irei necessitar de acompanhamento psicológico para vir a ser plenamente um “homem livre”?

07 setembro 2011

Santa...

Santana Lopes provedor da Santa Casa. Surpresa... estranho?
Que existe em comum entre a pessoa e a instituição?
Ora, é fácil, claro e está mesmo à vista: as 5 primeiras letras.

01 setembro 2011

Os ricos e as taxas

Acabadas as férias nada de especial a anotar. Mesmo ministro cobrador vir anunciar que arranjou mais uma forma de nos meter a mão no bolso não constitui novidade… Ao menos com o Sócrates ainda se enumeravam os PEC … agora já perdemos a conta, é todas as semanas uma nova… já não chega! ?! Como é que se pára isto? Anunciam-se cortes futuros na despesa… e enquanto não se corta, lá se vai cobrando mais de toda a forma e feitio.

Entretanto, os políticos desta desorientada Europa encontraram um chavão populista para animar a malta.” Vamos taxar os ricos!”, que é como que dizia há uns anos: os ricos que paguem a crise. Para já é só anúncio, não sei se concretiza, pelo menos cá em Portugal. Quem tem mais rendimentos (declarados) já paga mais em percentagem e em valor absoluto, naturalmente, mas se é pedido um “esforço adicional”, esse suplemento deve tocar a todos. O argumento de que essas novas taxas podem fazer fugir os capitais… é bem verdade, como também é verdade que aumentar o IRS e reduzir o rendimento disponível pode fazer emigrar gente, subir o IRC pode fazer cancelar investimentos criadores de riqueza e de postos de trabalho e subir o IVA pode proporcionar a organização de excursões a Espanha para encher a despensa, como em tempos se fazia do interior para os hipermercados.

Quanto aos ricos, há ricos e ricos e não me refiro ao nível cultural ou de responsabilidade social. Se alguém colocou tudo o que tinha num projecto arriscado que ao fim de uns anos resultou, que criou postos de trabalho, que desenvolveu conhecimento e que neste momento contribui para o aumento da riqueza do país, não me importo que esteja rico. Agora aqueles que compram acções A ao início da manhã para trocar por B meia hora depois, com a promessa de recomprar à tarde e apostando na expectativa de …. Esses, não são investidores, são especuladores e o enriquecimento por este meio tem que ser travado e taxado. Por falar em acções, ricos e taxar, lembrei-me daqueles papeizinhos a que se chamavam acções da SLN aos quais o Sr Oliveira e Costa atribuía um valor de venda e de compra arbitrário, sem nenhuma sustentação económica subjacente e que enriqueceram muita gente… Esses deviam ser taxados a 100% (é preciso fazer um desenho?).

09 agosto 2011

Indignação

Não, não é sobre os indignados que acampam nas praças públicas, especialmente em Espanha (apesar de um espanhol me ter comentado recentemente que são uma ruidosa… minoria). Nem é uma indignação especial minha. Essa chegará quando actualizarem o IMI em valor patrimonial e em taxa para evitar a falência das autarquias que se endividaram irresponsável e alegremente e, agora, adivinhem quem irá pagar...

Está longe esta questão e que é mais sobre a falta de indignação. Leio que a reacção do poder na Síria já matou mais de 2000 manifestantes. E lembrei-me da ofensiva Israelita em Gaza de 2008 que causou uns 1400 mortos e criou uma ruidosa indignação em meio mundo. Sem pretender comparar qualitativamente e entrar em considerações sobre se a intervenção de Israel era muito ou pouco justificada ou desproporcionada, não me parece que um exército disparar e abater assim indiscriminadamente milhares dos seus concidadãos que manifestam nas ruas possa merecer menos indignação. E não a vejo …!

05 agosto 2011

A nuvem informática e o efeito de estufa

Sou do tempo em que a transmissão de dados mais frequente era por linha telefónica com uns modems ranhosos e cantantes, que com sorte chegavam aí a uns 1200 baud, uns 120 bytes/seg (esqueçam lá os Kilos e os Megas). Passar o equivalente a uma musiquinha de 3 minutos em MP3 seriam umas 6 horas e tal. Para lá do custo de utilização da linha, manter o canal sem cair durante esse tempo todo era outra proeza.

Ainda, antes de começar a transmissão propriamente dita, era preciso que o computador se entendesse com o modem, com aqueles fantásticos sinais de controlo, RTS – CTS – CD, etc . Até que conseguisse ter canal aberto para iniciar a transmissão propriamente dita, era um cabo de trabalhos. De tal forma, que eu achava fantástico que num simples ciclo de levantamento de Multibanco, o terminal conseguisse consultar a minha a conta e informar-me sobre o meu saldo naquele momento!

Mais tarde tivemos, já em casa, umas ligações mais rápidas - 9600 baud – 4 x mais! A musiquinha chegaria em apenas uma hora e meia, mas ainda nos cobravam ao tempo de navegação/volume de tráfego e, por isso, tínhamos algum cuidado de gestão da utilização dos meios. Talvez pela memória destes antecedentes ainda franzo o sobrolho quando vejo emails com muitos megas anexados.

Hoje não nos cobram tempo de ligação e muitas vezes nem sequer o tráfego. Até podemos, por “facilidade” ter a nossa informação algures na “dataesfera”, numa nuvem qualquer, e acedê-la com a maior facilidade de qualquer ponto. Já não é o terminal MB que se esfola a pedalar para ter acesso ao simples saldo da conta bancária; somos todos nós que com um “coiso” qualquer na mão, em quase qualquer sítio, temos acesso a tudo, muito rapidamente e sem custo/custo adicional de utilização. Tão rapidamente que navegamos e cruzamos oceanos de informação para trás e para a frente com a maior facilidade e ligeireza. Da informação que se descarrega qual a percentagem que realmente se lê/utiliza? A olho, entre coisas que abrimos e fechamos no instante seguinte, coisas que saltamos e até a publicidade, acho que se a chegar 50% já não é mau. No entanto, os outros 50% (ou mais) que andam aí para trás e para a frente gastam recursos, não gastam? E com esta nova moda da nuvem (in english cloud) faz sentido que eu tenha sistematicamente os meus ficheiros textos, músicas, fotos ou filmes algures no planeta e gaste infra-estrutura e energia nessa transmissão, mesmo que não o pague directamente, em vez de os ter no disco duro aqui ao lado? Eu acho que há aqui uma pegada de carbono que é uma verdadeira patada de dinossauro…!

02 agosto 2011

Multiculturalismo não é uma coisa a preto e branco

Dizem uns que a natureza dos atentados de Oslo foi uma desilusão para a direita europeia xenófoba. Se na origem do atentado tivesse estado um islamita, isso provaria a “razão” dessa direita e da sua argumentação de rejeição dos estrangeiros. Assim, terão ficado “contentes” os outros, os da outra “razão”, e que acham que a tal direita tem sérias responsabilidades no drama de Oslo.

Em primeiro lugar, e por muito execrável que seja o discurso de Jean-Marie Le Pen e do Vlaams Blok, estabelecer algum paralelismo entre o que sai dessa direita e o terrorismo islâmico é um absurdo de ignorância, distracção ou desonestidade. Dizer que a extrema-direita é responsável por Andres Breivik equivale a dizer que o Islão é responsável pela Al Qaeda...

Depois, a questão do chamado multiculturalismo não é qualitativa do tipo escolher entre maçã e salada de frutas: é quantitativa. Indo aos extremos: poucas pessoas se sentirão chocadas por encontrar um diferente no seu caminho quotidiano, mas poucas aceitarão, ao regressarem de férias, encontrarem na sua rua todas as pessoas diferentes em comportamento… Algures no meio fica o limite da tolerância ao diferente, que é dinâmico e evolutivo. E poderemos entender que se um supermercado na periferia de Paris parecer um da periferia de Argel, um francês “tradicional” não se sinta em casa. Se a mensagem da extrema-direita passa é por muita gente achar que o nível da “diferença” no seu quotidiano está superior ao seu limite de tolerância e será mais útil estudar isto do que simplesmente invectivar os “Le Pens”.

Para terminar, não acredito que a “Europa” esteja em risco de sucumbir a uma investida do Islão. Parece-me que o conflito principal, mas latente, é entre Islão e Islão: entre a leitura de um livro com 1400 anos e a sua interpretação no contexto social actual. Se considerarmos algum paralelismo nos ciclos, o século XV do cristianismo foi um período terrível de mudanças e de rupturas…