30 junho 2005

Em Lisboa, está tudo lá!

Há países que, na impossibilidade de proporcionarem um nível de infra-estruturas razoável em toda a sua extensão, concentram no centro da sua capital “tudo” para dar a impressão que não estão assim tão mal. Como se se investisse numa sala de visitas decorada luxuosamente e, nas traseiras, que ninguém visita, ficassem os móveis quebrados, as paredes bolorentas e os vidros das janelas partidos.

É frequente encontrar no terceiro mundo essa diferença brutal, que tem ainda por efeito a geração de fluxos migratórios internos e a concentração na capital de uma percentagem muito elevada da população. Acho que este retrato não está muito longe de Portugal e de Lisboa.

Um pequeno exemplo. Ainda não há muito tempo a Agência Europeia de Segurança Marítima veio para Portugal e isso foi equivalente a vir para Lisboa. Nas centenas de quilómetros de costa que possuímos, porquê Lisboa?

E lembrei-me de Miguel Torga que no seu livro muito interessante “Portugal”, diz que Portugal não gosta de Lisboa e que esta lhe retribui na mesma moeda. Será por isto?

E lembrei-me ainda uma conversa que tive com um lisboeta sobre a percepção que os estrangeiros têm do nosso país. Depois de estudarem os dados macro económicos médios de Portugal, ao chegarem a Lisboa, os seus visitantes ficavam abismados com o que aí viam. Esperavam encontrar algo muito pior. Pudera! Ele achava que isso era um crédito para a cidade de Lisboa, que superava as expectativas. Eu acho que é um descrédito para o país.

Não me move nenhuma animosidade particular ou de estimação contra Lisboa. Somente acho que tem que existir uma política de desenvolvimento do país equilibrada, sob pena de nos tornarmos cada vez mais terceiro-mundistas e, ao mesmo tempo, muito provincianos e orgulhosos de termos na sala de visitas uns sofás italianos espectaculares.

28 junho 2005

Canto seguro

O meu país herdou de todas as cores que há no mundo.
Curtindo uma estranha raça, mestiça de graça e fado.

26 junho 2005

Atrás da riqueza

Portugal teve a infelicidade de, ao longo de um longo período da sua história, ter tido acesso a várias fontes de riqueza demasiado fáceis. Primeiro do Oriente, depois do Brasil e, finalmente, de África. É sabido que, a forma como estas riquezas foram aproveitadas, foi pobre. Limitámo-nos a reexportá-las sem valor acrescentado e, em contrapartida, a importar praticamente todos os produtos manufacturados. Quando acabou o fluxo, pouco ficou de material. De mentalidade ficou, no entanto, algo de muito negativo: a noção de que não é fundamental contribuir para a criação da riqueza, basta estar estrategicamente colocado por onde ela passa.

Para os interesses dominantes neste modelo, não interessava sequer o desenvolvimento de valor acrescentado nacional. Ganhavam dinheiro a exportar as matérias-primas e ganhavam dinheiro a importar os produtos acabados de qualidade. A indústria nacional era um concorrente que lhes retirava influência. É curioso registar que as primeiras tentativas de industrialização do país, como os lanifícios na Beira, encontraram tudo menos facilidades da parte do poder instalado.

A indústria que, apesar de tudo, se foi desenvolvendo foi sempre considerada de segunda classe. Criou-se, e ainda subsiste, a noção de que “tudo” o que é importado é bom e “tudo” o que é nacional é fraco. Esta postura da não valorização objectiva do “made in Portugal” é um dos maiores problemas culturais que temos. A dificuldade em reconhecer que “o que é bom, é bom” e “o que é mau, é mau”, não motiva que se procure fazer melhor, não proporciona o “fazer diferente” e não recompensa a inovação.

Como consequência deste complexo, existe uma quase completa ausência de marcas Portuguesas implantadas no Mundo e uma indefinição da imagem do próprio país também. Uma internacionalização estará condenada se, em vez de uma entidade forte, tiver, por trás dela, uma crise existencialista de valores.

A nossa riqueza futura depende de assumirmos que não nos podemos limitar a arranjar um bom lugar na margem do rio e esperar ir apanhando uns bons peixes que passem. Estes rios trazem cada vez menos peixe. É necessário escolher que peixes temos condições para desenvolver, proporcionar as condições para cultivá-los, criá-los com conhecimento e todo um conjunto de outras coisas diferentes do ficar bem sentado numa tribuna. Esta mensagem é, naturalmente, dirigida prioritariamente a uma certa forma de ver o país em Lisboa.

Não será sintomático que um notável empresário da nossa praça seja um mero importador de automóveis? Que tenha, inclusive, destaque em bolsa, acompanhado por analistas que fazem previsões da evolução dos ganhos da sua empresa em função do lançamento de novos modelos pelo fabricante alemão??

24 junho 2005

Os imigrantes

Sabemos que somos um país de emigrantes e estamos a descobrir que lidamos mal com os imigrantes que nos chegam.

Uma característica fundamental dos Portugueses é uma aparente inconsistência dos extremos que se tocam. Como emigrantes tendemos a criar família em qualquer lado e, ao mesmo tempo, a manter a casa em Portugal. Entendemos e seguimos com alguma facilidade as regras alheias mas sem nunca verdadeiramente lhes "vestir a pele".

Temos uma diversidade genética de culturas tal que ainda muito recentemente pouco se notavam cá os imigrantes. Vamos comparar a "visibilidade" dos magrebinos em França ou na Bélgica com a sua visibilidade cá? Por outro lado, tendemos a descair para um primarismo epidémico em situação de crise.

Os emigrantes económicos normalmente não são felizes. A relativa prosperidade sai-lhes muito cara. O momento mais feliz é provavelmente quando vão a caminho da "terra".

Já repararam na cara dos magrebinos ao descer as auto-estradas do Sudoeste de França no mês de Julho com os carros pejados de tralhas? Acho que raramente se vê gente tão feliz. Só na ida. Uma vez chegados vão estar impreparados para lidar com um choque com os que ficaram. As "fífias" dos emigrantes em férias são fundamentalmente uma manifestação de insegurança e de desconforto gerida de forma infeliz por quem é "meio estrangeiro" em todo o lado.

Já reparam na cara dos que aterram de regresso em Bruxelas, Paris ou Frankfurt sob um céu de chumbo depois do Natal na Terra? Uma boa imagem para angústia.

Abertura total: não. Co-responsabilização pela melhoria das condições nos países de origem: óbvia. Com os que cá estão, aprender e ensinar. É fácil ser intolerante com quem é diferente; é fácil ser inconveniente em ambiente diferente. É lamentável evoluir para a segregação que se auto-alimenta e amplifica como já se vê nalguns países da Europa Ocidental. Será enriquecedor cruzar experiências e culturas e resistir à tentação de que a “culpa” é do diferente e que, quanto mais diferente, mais óbvio que é culpado.

23 junho 2005

Coerência ou autismo?

Coerência foi a palavra mais vezes repetida para caracterizar o carácter e a vida de Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal. No entanto, coerência também significa nexo e lógica e eu acho que esta caracterização falha completamente nestes dois casos.

Acredito que é possível acreditar numa utopia e ser-se coerente defendo-a ao longo da vida. É possível ter um sonho, aparentemente irrealizável, e lutar por ele obstinadamente. Muitos grandes avanços da humanidade começaram assim.

Agora, o que não é coerente é existir uma realização concreta desse projecto, que falha completamente numa série de valores básicos, como por exemplo a liberdade individual, e continuar de olhos fechados, “coerentemente” a insistir em que esse é o caminho e que está bem. “Todo o mundo é composto de mudança” e assim deverá evoluir a nossa visão do mesmo. O normal é questionarmo-nos e aprendermos. Mudar de opinião, face ao confronto com uma nova realidade, é sinónimo de inteligência. Daí a minha incompreensão para o facto de que gente de alto nível intelectual como Álvaro Cunhal não tenha mudado a sua concepção do mundo e, em particular, o seu julgamento sobre a então URSS.

Apesar de tudo, tenho muito mais respeito por Álvaro Cunhal do que por outros, que provavelmente até ficarão na história como grandes estadistas, mas que se limitaram a colocarem-se de feição relativamente ao vento dominante, privilegiando a sua ambição pessoal em detrimento de um projecto ideológico ou de desenvolvimento do país (não vale a pena nomear, pois não?).

22 junho 2005

Oliveiras, oliveiras


Ao longe são olivais, ao longe são olivais...

Coisa comum

O que há de comum entre um executivo de uma empresa multinacional que, entre manipulação de contas e off-shores, faz desaparecer uns largos milhões e um autarca/empreiteiro/dirigente desportivo que com tráfico de influências e corrupção se apropria de dinheiros públicos?
E que haverá de comum entre estes dois e um trabalhador que não quer trabalhar e que de baixa em baixa consegue uma reforma fraudulenta? E entre estes e um funcionário público que, para ir de férias, “arranja” um atestado médico?

O que há de comum entre todos, contexto e dimensão à parte, é partilharem e aplicarem o princípio de que “o mundo é dos espertos”. Que é “normal” aproveitarmo-nos dos vazios legais, ou da sua deficiente fiscalização, para obter tudo o que for possível, devido e indevido. Curioso é serem vistos, muitas vezes, mais com inveja pela sua “habilidade” do que com reprovação clara. Deveremos resignarmo-nos a que se trata de comportamentos intrínsecos da natureza humana e, como tal, colectivamente inevitáveis e mesmo um pouco toleráveis?

Se analisarmos a história da humanidade, concluímos que os padrões de ética evoluíram ao longo do tempo. A escravatura já foi em tempos, considerada aceitável. A lavagem da honra por crime já foi desculpada. A guerra já foi considerada uma forma normal de resolver problemas diplomáticos (esta evolução ainda não está generalizada a nível mundial...).

A dissuasão, detecção e a repressão destes delitos terão sérias dificuldades de eficácia se existir um senso comum de que, afinal, só não se aproveita quem não pode. É crucial que, individualmente, se assimile a noção de que este mundo é de todos e não prioritariamente dos “espertos”. Que uma boa parte dessas fraudes lesam aqueles que as acham “normais”. Que são roubados e “condescendem” com aqueles que os roubam. Que esses “espertos” afinal são “ladrões”.

19 junho 2005

As janelas do nosso futuro II

(continuação....)

Esta imagem aplica-se ao sistema de ensino em que o cumprimento dos objectivos é conseguido ajustando a referência para baixo e em que desde o básico ao superior há uma propagação da redução do nível de exigência de baixo para cima e uma desresponsabilização cima para baixo.

Não está em questão se é importante que hoje na Universidade se desconheçam algumas coisas que antes se aprendiam na Primária. O que é dramático é que todos os intervenientes pareçam unicamente motivados para que se cumpra uma fasquia que é cada vez mais baixa e que, consequentemente, mantém o nome mas vale cada vez menos.

Este valer menos é as pessoas saírem do ensino sem formação para cumprirem as funções que potencialmente lhes são destinadas. Que até passados alguns anos possam ser chamadas a tentar ensinar o que não conseguiram aprender. Felizmente que é possível nessa altura não ser muito exigente. Mesmo o domínio da Língua Portuguesa não é indispensável!

O que está em causa é a nossa riqueza futura. E a riqueza primária, aquela que reside no conhecimento e na capacidade intelectual e também na disciplina dos hábitos de trabalho, no rigor, na persistência, no compromisso com os objectivos e na recusa do “facilitismo”.

A continuarmos assim, mais vale nem colocar janelas. Deixar um buraco é mais honesto e menos perigoso. A solução não reside exclusivamente no ensino. Depende de todos os intervenientes, inclusive dos pais e do que eles entendem por “sucesso” dos filhos na escola. Agora enterrar a cabeça na areia é que não é aceitável face ao que está em jogo.

18 junho 2005

As janelas do nosso futuro I

O Sr António tinha por função colocar janelas. Entendia que as devia colocar com um alto grau de exigência. Algumas não vinham bem feitas e eram recusadas. Noutras alturas embirrava com alguns modelos e não tinha forma de as considerar aptas.

Então chegou a mudança. O Sr. António passaria a ser pago pelo número de janelas colocadas. Quantas mais colocasse, mais recebia. Imediatamente deixou de ter birras e aumentou a produtividade. Depois descobriu que algumas recusadas poderiam ser ajustadas com um jeitinho. Não ficavam perfeitas mas facturava mais. Em seguida achou que usava demasiados pontos de fixação e reduziu-os para metade. Rescreveu as normas de colocação de janelas para ficar tudo conforme.

Na altura em que as casas ficavam prontas, não se notariam os defeitos se fossem examinadas mais ligeiramente e mais de longe. O Sr António, no âmbito da sua nova autonomia, conseguiu que estes exames de aceitação fossem mais ligeiros. A facturação continuava a subir.

Como as exigências nesta fase eram menores, maior era o número de janelas que chegavam mal preparadas.

As casas assim construídas funcionavam mal porque as janelas já não cumpriam a sua função. Algumas colapsavam mesmo. Segundo o Sr António isso acontecia porque as janelas já não tinham chegado bem às suas mãos, que ele não as podia recusar a todas e a cadeia de desresponsabilização seguia até se perder de vista.
Esta história não se destina a ilustrar nenhum exemplo do mundo empresarial em que trabalhar por objectivos sem regras claras e sem controlo externo tem por consequência uma deriva assim.
(continua...)

Tecnologias da Informação e Comunicação

É típico nos sistemas ligeiros e pouco rigorosos avaliar as coisas pelo rótulo, não pelo conteúdo, e considerar que “tudo está bem” se o título estiver bem. É um pouco como se, à entrada da minha casa, eu pusesse uma placa a dizer “Palácio” e, por isso, pudesse dizer a todos que vivo num palácio.

Vem isto a propósito da recém criada disciplina de “Tecnologias da Comunicação e Informação” para o 9º ano. A avaliar pelo título, a ideia é excelente. Facultar um contacto precoce com um assunto tão relevante, numa idade em que é mais fácil a sua assimilação, é de aplaudir. Por outro lado, o apelo potencial do tema poderia proporcionar um interesse acrescido pela aprendizagem. Poderia ainda ser uma disciplina diferente das outras, desenvolvendo capacidades dedutivas e de análise sistemáticas.

Depois de ter ouvido alguns comentários, fiquei curioso sobre o verdadeiro conteúdo da disciplina e fui consultar um dos manuais, concretamente o da Porto Editora. A decepção é enorme. Para começar, uma lista de definições vagas, superficiais e resumidas. Depois uma lista de componentes e acessórios pouco mais do que enumerados e que mais parece um catálogo de uma loja de informática. Por fim os exercícios que, de tão básicos, são quase um insulto à capacidade duma geração que em “três tempos” descodifica o modo de funcionamento duma consola de jogos.

Seria muito mais interessante apresentar uma “máquina simples e virtual” e vê-la a operar de A a Z, do que listar os componentes sem apresentar a dinâmica interna de funcionamento, os ciclos, a lógica sequencial e os princípios básicos de programação e execução. Não serve de nada dizer que existe um barramento de endereçamento e um de dados, se não houver a mínima ideia do que é um endereço neste contexto. Não faz sentido identificar a memória cache dentro da caixa do computador antes de conhecer a dinâmica de funcionamento das memórias.

Infelizmente parece que tudo se resume a dizer “a coisa A está no local B” e, a partir deste frase, já se podem fazer duas perguntas: “ Que coisa está no local B?” e “Em que local está a coisa A?”. Este tipo de aprendizagem enumerativa, que torna as disciplinas todas iguais, baseia-se na capacidade de memorização (e de memória estão os computadores cheios...) e não desenvolve a capacidade de raciocinar, correlacionar e de entender porquê é que a coisa A foi parar ao local B e de questionar e investigar quando ela aparecer no local C. Sendo assim, não é de admirar que a Matemática seja um “problema”. É que, com ela, resistente, memorizar não serve.

No fim, só me resta dar um pouco de razão à Nisa e à Marta quando disseram, para meu escândalo, que a disciplina de TIC “não era lá muito interessante”. O rótulo até estava bem.... Depois de tudo isto, acharam muito mais giro e interessante quando lhes demonstrei um simples interpretador de BASIC.

16 junho 2005

Inovação e conhecimento. Sim mas

De vez em quando lá ouvimos, uma vez mais, umas declarações de princípio sobre a importância da inovação e do conhecimento na nossa riqueza futura. Não posso estar mais de acordo. No entanto, da minha experiência nesta área, não posso prescindir de acrescentar alguns apontamentos.

Que não haja projectos de investigação que pareçam aparentemente destinados a sustentar uma equipa de investigadores e nos quais os objectivos finais passam para segundo plano.

Investigar é semear. Poder-se-á colher mais cedo ou mais tarde; umas vezes sim, outras vezes não. O que não se pode é investigar sem uma estratégia definida e um objectivo de retorno claro por detrás do esforço.

Que os resultados sejam medidos de alguma forma que não seja só em quilos de relatórios em papel (ou no respectivo tamanho dos ficheiros no caso de não se pretender imprimi-los).

Que, sempre que aplicável, haja um plano de negócios coerente e realista por trás de cada projecto de desenvolvimento. A realização subsidiada de um protótipo é uma coisa. Aperfeiçoá-lo para se tornar comercialmente viável e com dimensão que suporte o seu ciclo de vida é outra coisa.

Tive algumas experiências de colaboração entre universidade e indústria. Algumas bem sucedidas, outras nem tanto. Muitas vezes falta à universidade a noção de compromisso com os resultados.

Que as escolas não investiguem em circuito fechado resolvendo os problemas que elas próprios formulam. Que venham ao terreno dar o seu contributo onde ele pode ser realmente criador de riqueza.

15 junho 2005

Défice na educação

O Problema do ensino em Portugal é uma sopa com muitos ingredientes e não serve de nada responsabilizar exclusivamente a batata ou a cenoura. Ao contrário de outras áreas, em que é fácil e cómodo apontar a escassez de recursos, parece até que aqui nem sequer é esse o caso. Gastamos comparativamente muito para os resultados obtidos. Talvez signifique que gastamos mal.

Um campo representativo é, sem dúvida, a formação contínua dos professores do ensino básico e secundário. É assim: ao fim de “x” anos, o professor necessita de “y” créditos para “progredir na carreira”. Os créditos obtêm-se por frequência de acções de formação. Dentro das acções creditadas, cada um escolhe as que quer fazer. Não necessariamente pelas suas lacunas de formação; não necessariamente em função de um plano de desenvolvimento pessoal minimamente coordenado. Muitas vezes somente numa perspectiva de: como é que eu consigo os créditos da forma mais imediata, fácil e menos chata possível?

Como corolário desta lógica, soube recentemente de um caso concreto exemplar. Para ter “frequência”, e os créditos correspondentes, basta assistir a uma percentagem das horas, creio que 2/3. Uma acção de formação que começou numa quarta-feira com 19 participantes, terminou no sábado à tarde com... 3! À medida que foram completando a quota horária mínima, os participantes acharam que já não tinham “necessidade” de continuar.

Parece-me perturbadoramente semelhante à postura dos alunos que gerem o número de faltas a dar para não chegar ao final do ano sem terem usufruído completamente desse “direito”. Que pensariam esses professores se, nas últimas 3 semanas do ano, 85% dos seus alunos faltassem, por se sentirem “desobrigados” de irem às aulas?

Neste caso pagou-se a acção de formação e a maioria dos professores nada aprendeu de útil para a sua actividade, porque nem sequer se preocupou em aprender. Deram um péssimo exemplo e, no final, receberam os créditos e acabarão por ser aumentados! É tudo prejuízo!

Há algo ainda pior do que este prejuízo material. É que, seguramente, para muitos desses professores, o que eles fizerem foi perfeitamente natural. Estavam lá pelos “créditos” e, quando os viram garantidos, não havia mais nenhuma razão para continuar a acção de formação. Assim, não vamos lá!

13 junho 2005

Convite a reagir

O “Glosa Crua” cumpre hoje o primeiro mês de existência. Nasceu numa sexta-feira 13 mas não foi por ter sido assim planeado. Os trabalhos preparatórios decorreram no dia 12 mas alguns desentendimentos com o registo no Blogger fizeram com que a versão final saísse já depois da meia-noite.

Desta vez, não vou contar nada. Somente pedir aos visitantes que aproveitam a “efeméride” para deixar uma palavra de avaliação. O que está bem, o que está mal .... e o que está péssimo!

Se preferirem, enviem por email, mas digam qualquer coisa. Ao fim e ao cabo, este espaço é para quem o lê e é interessante saber o que se pode fazer para melhorar. Se ele e vocês aguentarem até lá, quando fizer um ano, prometo outro tipo de convite!

Vá lá! Não custa nada!

12 junho 2005

Aonde vais Sérgio?

Sérgio Godinho tem uma obra com lugar garantido na história da cultura portuguesa. Poucos como ele dominam, e conseguem pôr em música, a língua portuguesa de forma tão simples e plena. Um “Espalhem a notícia” é simplesmente sublime.

Depois de 5 anos já passados desde o último álbum de inéditos, “Lupa”, e depois de algumas recriações bem conseguidas como “O irmão do meio”, assisti a um espectáculo ao vivo em 11/06/2005 em Vila Real e, infelizmente, com algum desencanto.

Para começar, uma nota negativa para o som que parecia mais de um carrossel de feira do que de um espectáculo musical. Os temas seleccionados eram estranhamente datados. Estavam lá “O Charlatão”, o “Barnabé”, o “Casimiro”, “A paz, o pão, habitação...”, etc. Só faltou mesmo o “tractor tratado com amor…”.

Depois, se é verdade que, uma vez, a “Etelvina” com guitarras eléctricas esgalhadas tem alguma piada, já se pode questionar o interesse de uma “enésima” versão do “Mudemos de assunto”. Às vezes, dá mesmo vontade é de ouvir “O primeiro dia”, “É terça-feira” ou “A noite passada” como eles “são” e não debruados com uma irritante cascata de cordas do Nuno Rafael.

Sérgio Godinho tem um património assinalável. De questionar se, à força de tanto fazer e refazer o mesmo, não o estará a delapidar…

11 junho 2005

Julgar a escravatura

Parece que agora está na moda, passado uns séculos, os ex-escravizadores pedirem formalmente desculpas ao ex-escravizados. Alguns destes, que nem são propriamente um exemplo no respeito pelos direitos humanos, aceitam-nas e até parece que se acham credores de reparação! Estamos face a uma descarada hipocrisia. É um pouco análogo ao elogio fúnebre que tende a ser generoso porque já não há perigo de o elogiado o cobrar. Com toda a desgraça actual em África e com responsabilidades claras dos “ex-escravizadores” e, também, dos “ex-escravizados”, é mais cómodo pedir desculpa por algo remoto do passado do que assumir as responsabilidades actuais e, para as quais, ainda se está muito a tempo de corrigir.

É absolutamente claro que a escravatura foi uma nódoa na história e que o que ela tem subjacente é completamente contrário a valores humanísticos básicos e inquestionáveis. Está evidentemente fora de questão dar algum tipo de justificação ou atenuante.

Mas, por outro lado, é perigoso julgar épocas muito afastadas no tempo com base na realidade cultural presente. Seguramente que muitos factos e situações correntes actuais serão considerados absurdos e bárbaros no futuro. Alguns talvez se adivinhem enquanto outros nem se sonham.

Se o que está em causa é promover o desenvolvimento social e o respeito pelos direitos humanos, não me parece fundamental simplesmente evocar a escravatura. Será muito mais importante tentar entender porque houve e, aqui sim, tentar encontrar analogias actuais: situações em que um dado interesse, considerado prioritário, leve ao menosprezo da dignidade humana.

Muito mais importante do que ficar parado a olhar para trás, é olhar em redor e fazer o possível para que gerações futuras não venham a comemorar o ‘Dia Internacional de qualquer coisa terrível que se fazia no início do século XXI’.

10 junho 2005

Notas de viagem – 2 a 10 de Junho de 2005

Paris no rescaldo do referendoTambém que ideia foi esta de pedir um “sim” a um povo que, mesmo quando acha que está bem, prefere responder pela negativa dizendo “Não está mal”. Se houvesse eleições agora? Não é claro o resultado. Talvez Le Pen, se fosse uns 20 anos mais novo... Mau, Mau! Falta de seriedade dos políticos, défice de representatividade dos partidos “normais”, dificuldades de conjuntura e eleitorado mimalho vai, um destes dias, ter um fim triste. E não só em França. Veja-se o Vlaams Blok na Flandres.

Inovação em Paris – Táxi de luxo de duas rodas. Grandes motos para transporte de pessoas rapidamente em ziguezague pelo meio do trânsito. Se os condutores forem do tipo taxista que sabemos, será emoção ao nível de montanha russa.

Sindelfingen – Junto à principal fábrica da Mercedes, a sul de Estugarda, entra na estrada um novíssimo classe B. Depois de desacelerar, ao retomar o esforço, lança belas nuvens de fumo branco. Realmente, os Mercedes já não são o que eram...

Danúbio frio – Às 8 da manhã, 5 graus, em Junho, na zona em que o Danúbio é um riacho. Este rio que consegue filar milhares e milhares de quilómetros para leste, fugindo sempre, sempre, ao Mediterrâneo.

Lago de Constança – Vinhas nas margens. Deveria arranjar-se outro nome para o produto destas videiras. Chamar-lhe vinho, confunde. Um dirigível sobre o lago em Friedrischafen. Evocando o local do conde Zepplin e de um dos maiores engenheiros do século XX: Dornier. Que fez desde dirigíveis a foguetões.

Empresário de 70 anos Os políticos actuais não têm curriculum nem experiência profissional séria. “Nascem” e fazem carreira dentro do aparelho dos partidos. Não temos petróleo nem riqueza de outras matérias-primas. A nossa principal fonte de riqueza tem que estar na massa cinzenta. O sistema de ensino actual, pouco exigente, está comprometer a nossa riqueza futura. No passado, quando um aluno tinha uma má nota/comportamento era responsabilizado; agora vão os pais à escola responsabilizar os professores. Curiosamente, ou não, falava da Alemanha.

Jantar em Hamburgo na margem do Alster Os ministros são mal pagos para a função e a responsabilidade que têm. “Safam-se” com outros esquemas. É difícil motivar um bom profissional unicamente com o vencimento oficial. Em contrapartida os deputados são demasiado numerosos, deveriam ser reduzidos para metade, e a maior parte ganha demais para o que faz. Especialmente a segunda metade que lá está a mais. Curiosamente, o meu interlocutor falava da situação na Alemanha.

Rebanhos nos aeroportos – Chegou a estação em que moles de turistas vagueiam apreciando lentamente as belezas que os aeroportos têm para mostrar. Que se plantam relaxadamente, a monte, em frente aos balcões de registo em amena cavaqueira como se estivessem a sair da missa. E fica-se com cara de parvo sem saber se nos devemos pôr atrás deles sem saber bem para quê ou se devemos perguntar um a um o que estão ali a fazer e se não se importam de se organizarem um pouquinho...

06 junho 2005

O défice é a atitude

Parece que, desta vez, os 6,83 por cento tiveram o mérito de sensibilizar toda a gente para a gravidade e a insustentabiliade de se gastar mais do que se ganha.
É, no entanto, mau que se discuta o problema atirando a bola para o parceiro do lado e esperando que não toquem no nosso queijo. Mais caricato é ver um monte de ex-ministros das Finanças a opinarem muito sabiamente sobre o problema e sugerindo soluções como se não tivessem sido eles também protagonistas de primeira linha.
O problema somos nós todos no que desperdiçamos e no que vemos desperdiçar passivamente. A solução passa por sermos todos e cada um activos e contribuintes líquidos para a riqueza do país. Passa por sermos críticos e exigentes face à delapidação da mesma que vemos acontecer a cada passo junto de nós. Passa por sermos intolerantes face a incompetentes emproados e vaidosos parasitas. Nas pequenas e nas grandes coisas, com o ministro e com o presidente da câmara, mas também com o amigo e com o vizinho.
A questão de fundo está na atitude. O défice somos nós.

P.S. - Esta nomeação de Fernando Gomes para a Galp também parece ser algo deficitária... E quantos "Fernando Gomes" haverá por aí menos famosos? Alguém me explica o que há de verdade no famoso livro de Rui Mateus sobre o financiamento do PS? Quando se atacará de frente a teia tenebrosa e cancro da democracia que é o actual esquema de financiamento dos partidos políticos?

Carta ao Director do Jornal Público, publicada em 04.06.2005

05 junho 2005

Oxalá não percamos as nossas referências

Junto este texto para encerrar o capítulo da Europa e do projecto da sua Constituição. Quando foi escrito, em Dezembro de 2003, ainda se discutia a inclusão, ou não, da referência cristã no preâmbulo. Acabou por não ficar. Ficou, no entanto, um exemplar auto-elogio da Convenção, que se agradece a si própria pelo magnífico trabalho realizado!

Parece-me que as recentes discussões sobre a inclusão ou não de uma referência cristã no preâmbulo do projecto da eventual constituição europeia, pecaram for uma falta de definição clara do contexto: fala-se de uma referência política ou cultural? A situação é muito diferente consoante o âmbito.

Tomando o caso concreto de Portugal, pode dizer-se que a construção política do país tem uma clara referência cristã. Foi atrás do estandarte da cruz que se travaram as guerras de conquista contra os árabes (contra Leão e Castela já nem tanto...). Agora, a génese e a identidade de Portugal tem uma base predominante cristã? Não! A identidade cultural não se altera assim com a mudança da bandeira na torre do castelo. Havia na altura um forte e rico cruzamento de várias culturas e que se manteve.

Na perspectiva política, a referência cristã foi utilizada frequentemente pela política na Europa se bem que seja forçoso reconhecer que os momentos em que ela foi mais intensa não foram os momentos mais brilhantes da nossa civilização.

Por outro lado já deveríamos ter aprendido com a história que a tentação de usar a espiritualidade e a fé como elementos mobilizadores para um projecto político é a base de muitas derivas. Veja-se o Médio Oriente actual.

Na perspectiva cultural, a Europa é tudo menos monocromática e acho que a história oficial dos vencedores já nos empobreceu de referencias suficientemente.

Porque é que na nossa história oficial não há nenhuma referência a nenhum cientista, artista ou humanista da cultura islâmica que tenha vivido no nosso território, cultura essa que nos deixou tantos vocábulos numa altura em que os reis de Portugal eram analfabetos?

Não será curioso que na referência “politica” o mouro é o infiel contra o qual se lança um anátema mobilizador e de aniquilação, enquanto que na cultura popular estão as referências às mouras encantadas com o perfume do fascínio da diferença?

Oxalá não percamos mais referências... (“Oxalá”: do árabe “ua xá illáh” que significa literalmente “Queira Alá”)

04 junho 2005

Onde começa a Europa?

Ainda sobre a Europa.... Saiu no Público de 15.09.2004 a minha carta, abaixo transcrita, sobre a questão da adesão da Turquia. Em 26.09, fruto da preparação para o processo de adesão à EU, o parlamento turco aprovava um novo código penal, como um enorme passo em frente, na aproximação aos padrões europeus. Nesse mesmo dia, visitei no palácio de Topkape, em Istambul, uma exposição de ciência no mundo islâmico. Entre outras coisas interessantes, descobri os astrolábios, pais dos nossos...
A principal “voz de Roma” era o então cardeal J. Ratzinger

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No próximo dia 6 de Outubro de 2004 a Comissão Europeia tomará uma decisão sobre o início do processo de negociação da adesão da Turquia à UE.

Um pouco a propósito lá vêm umas vozes de Roma dizerem que se a Turquia vier a aderir, terão sido em vão as vitórias em Viena sobre os Turcos em 1529 e em 1683. Será o mesmo tipo de argumento que Portugal poderia ter usado contra Espanha, declarando o esforço de Aljubarrota em vão? Ou, muito mais intenso e recente, a Inglaterra e a França contra a Alemanha invocando a tragédia da II Guerra Mundial? Não, não é. Face a uma sua real/potencial perda de protagonismo, a reacção do Vaticano não é pela positiva nem pela construtiva, mas sim pela barragem dos “infiéis” e tentando ressuscitar fantasmas de guerras de há séculos.

Para Roma os muçulmanos foram e são inimigos a repelir. Como as cruzadas são do passado e não se podem repetir as bárbaras “libertações” e pilhagens por nobres aventureiros ociosos, a estratégia é outra. Passo à frente a análise do significado desta postura face aos princípios da doutrina cristã. Limito-me a mencionar que as tentativas de impor a hegemonia religiosa por decreto estiveram na origem de muita pobreza material e espiritual.

Se recuarmos ao século XVI, devemos recordar que o “bárbaro” turco Soleimão, o Magnífico, proporcionou porto de abrigo a muita boa gente escorraçada da “civilizada” Europa por perseguições religiosas, inclusive portugueses.

Não tenho dúvidas sobre o facto de que, para mim, é preferível viver num país Europeu do que num país submetido à lei islâmica. E uma pessoa “normal” como eu aí nascida provavelmente pensará o mesmo, por isso procura emigrar. Ou, melhor, preferirá viver no seu país com melhores condições de vida. As negociações relativas à aproximação com a UE serão provavelmente a forma mais eficaz de proporcionar desenvolvimento social e económico de um país como a Turquia. Fechar a porta é conduzi-los ao isolamento e aumentar a pressão migratória que tanto incomoda.

Há uma dúzia de anos, quando vivi na Bélgica, contavam-me que a presença dos magrebinos constituía um grande problema imobiliário: bastava um instalar-se numa esquina da rua para todas as casas da mesma desvalorizarem. Surpreendia-me a visibilidade deles lá, contra a absoluta integração aparente dos poucos ou muitos que em Portugal estavam. Será que a pressão de repulsão não gera um movimento de afirmação e de diferenciação acrescido?

Para aqueles que acham que a cultura árabe nos é absolutamente estranha, olhemos para o nosso vocabulário. Pensemos na expressão artística mais significativa em Portugal que é a poesia. Pensemos nas nossas trovas e cantigas. Pensemos na música tradicional, pensemos mesmo no fado. Com alguma facilidade se encontra a herança árabe nestas manifestações e nessa nossa sensibilidade. Apesar de todos os esforços de limpeza de vestígios e de todos os decretos, somos um país multi-cultural e temos responsabilidades particulares na ligação a estes “outros”.

Há uns meses, ao jantar com um amigo turco na margem do Bósforo, perguntei-lhe o que significava para eles a possível integração na Europa. Falou em livre circulação de bens e de desenvolvimento para o país. No final acrescentou que tinha grandes dúvidas sobre a perenidade da União Europeia. Que lhe faltava “cimento” para vencer o tempo.

Antes de discutirmos se a Europa termina exactamente no meridiano de Alexandria ou se pode ir mais uns graus para leste, necessitamos de reflectir sobre onde ela começa. Se a Europa for a das exclusões invocando disputas antigas, se o cimento for uma fé dominante consagrada na constituição, se os vizinhos diferentes são indesejados e a repelir, a Europa colapsará. Ou fracturada internamente ou asfixiada pelos vizinhos miseráveis.

02 junho 2005

Testemunho de um NÃO

Recebi de uma amiga francesa , este testemunho que, com a sua devida autorização e os meus agradecimentos, transcrevo em tradução livre.

Faço parte dos 55% de franceses irresponsáveis, ou de extrema-direita, ou de extrema-esquerda (segundo os jornalistas e os partidários do SIM) que disseram NÃO a ESTA constituição europeia.... Sinto-me consternada por ser irresponsável, ou de extrema-direita, ou de extrema-esquerda e de não ser apenas uma Francesa normal que acha que esta constituição não está bem “costurada”. Fiquei a saber hoje na televisão francesa que o perfil do eleitor que votou NÃO é o de um homem, jovem, na casa dos trinta anos, sem formação superior e de baixa condição social. Fiquei a saber, pois, que mudei de sexo, rejuvenesci e que, ter diploma ou não, não é assim tão importante.

Eu tinha um medo terrível que este NÃO nos trouxesse o APOCALIPSE e o CAOS profetizados pelos partidários do SIM e por José Barroso, Presidente da Comissão Europeia e que se imiscuiu várias vezes na campanha eleitoral francesa... Mas desde segunda-feira que estou mais tranquila: os mesmos políticos que nos prometeram a GUERRA e a PESTE, disseram-nos que, afinal, não é assim tão grave, desde que eles não percam a cabeça, o lugar, o mandato na Assembleia, etc. Os nossos políticos são uma turba que se está marimbando para a Europa e que só pensa nos seus benefícios individuais e imediatos. Já se sabia. Agora está confirmado. Realmente eu gostaria que MERDA fosse uma opção de resposta no referendo. É provavelmente aqui que se situa a grande maioria: aqueles que têm consciência de que os políticos não querem saber deles para nada e que estão fartos disto.

CG

Em resposta a esta contrariedade, o Imperador da República Francesa resolveu baralhar e tornar a dar. De notar que ele próprio ainda só não foi indiciado e julgado por crimes vários e graves ligados ao financiamento ilegal do seu partido porque goza de uma imunidade napoleónica. Dizem até que terá à sua espera, no dia da expiração do mandato, uma colecção de juízes “mortinhos” por o interrogar e lhe fazer engolir a arrogância imperial actual. Que decisão de fundo tomou ele? Resolveu substituir um dos primeiros-ministros mais pragmáticos que a França teve nos últimos tempos por um palaciano ajudado por um populista que o próprio Chirac tinha forçado a abandonar o governo há pouco tempo. Algo está podre no reino dos “Enarques”.