23 junho 2005

Coerência ou autismo?

Coerência foi a palavra mais vezes repetida para caracterizar o carácter e a vida de Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal. No entanto, coerência também significa nexo e lógica e eu acho que esta caracterização falha completamente nestes dois casos.

Acredito que é possível acreditar numa utopia e ser-se coerente defendo-a ao longo da vida. É possível ter um sonho, aparentemente irrealizável, e lutar por ele obstinadamente. Muitos grandes avanços da humanidade começaram assim.

Agora, o que não é coerente é existir uma realização concreta desse projecto, que falha completamente numa série de valores básicos, como por exemplo a liberdade individual, e continuar de olhos fechados, “coerentemente” a insistir em que esse é o caminho e que está bem. “Todo o mundo é composto de mudança” e assim deverá evoluir a nossa visão do mesmo. O normal é questionarmo-nos e aprendermos. Mudar de opinião, face ao confronto com uma nova realidade, é sinónimo de inteligência. Daí a minha incompreensão para o facto de que gente de alto nível intelectual como Álvaro Cunhal não tenha mudado a sua concepção do mundo e, em particular, o seu julgamento sobre a então URSS.

Apesar de tudo, tenho muito mais respeito por Álvaro Cunhal do que por outros, que provavelmente até ficarão na história como grandes estadistas, mas que se limitaram a colocarem-se de feição relativamente ao vento dominante, privilegiando a sua ambição pessoal em detrimento de um projecto ideológico ou de desenvolvimento do país (não vale a pena nomear, pois não?).

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