18 junho 2005

Tecnologias da Informação e Comunicação

É típico nos sistemas ligeiros e pouco rigorosos avaliar as coisas pelo rótulo, não pelo conteúdo, e considerar que “tudo está bem” se o título estiver bem. É um pouco como se, à entrada da minha casa, eu pusesse uma placa a dizer “Palácio” e, por isso, pudesse dizer a todos que vivo num palácio.

Vem isto a propósito da recém criada disciplina de “Tecnologias da Comunicação e Informação” para o 9º ano. A avaliar pelo título, a ideia é excelente. Facultar um contacto precoce com um assunto tão relevante, numa idade em que é mais fácil a sua assimilação, é de aplaudir. Por outro lado, o apelo potencial do tema poderia proporcionar um interesse acrescido pela aprendizagem. Poderia ainda ser uma disciplina diferente das outras, desenvolvendo capacidades dedutivas e de análise sistemáticas.

Depois de ter ouvido alguns comentários, fiquei curioso sobre o verdadeiro conteúdo da disciplina e fui consultar um dos manuais, concretamente o da Porto Editora. A decepção é enorme. Para começar, uma lista de definições vagas, superficiais e resumidas. Depois uma lista de componentes e acessórios pouco mais do que enumerados e que mais parece um catálogo de uma loja de informática. Por fim os exercícios que, de tão básicos, são quase um insulto à capacidade duma geração que em “três tempos” descodifica o modo de funcionamento duma consola de jogos.

Seria muito mais interessante apresentar uma “máquina simples e virtual” e vê-la a operar de A a Z, do que listar os componentes sem apresentar a dinâmica interna de funcionamento, os ciclos, a lógica sequencial e os princípios básicos de programação e execução. Não serve de nada dizer que existe um barramento de endereçamento e um de dados, se não houver a mínima ideia do que é um endereço neste contexto. Não faz sentido identificar a memória cache dentro da caixa do computador antes de conhecer a dinâmica de funcionamento das memórias.

Infelizmente parece que tudo se resume a dizer “a coisa A está no local B” e, a partir deste frase, já se podem fazer duas perguntas: “ Que coisa está no local B?” e “Em que local está a coisa A?”. Este tipo de aprendizagem enumerativa, que torna as disciplinas todas iguais, baseia-se na capacidade de memorização (e de memória estão os computadores cheios...) e não desenvolve a capacidade de raciocinar, correlacionar e de entender porquê é que a coisa A foi parar ao local B e de questionar e investigar quando ela aparecer no local C. Sendo assim, não é de admirar que a Matemática seja um “problema”. É que, com ela, resistente, memorizar não serve.

No fim, só me resta dar um pouco de razão à Nisa e à Marta quando disseram, para meu escândalo, que a disciplina de TIC “não era lá muito interessante”. O rótulo até estava bem.... Depois de tudo isto, acharam muito mais giro e interessante quando lhes demonstrei um simples interpretador de BASIC.

1 comentário:

Anónimo disse...

É óbvio, que esta élite que nos (des)governa não vai além da embalagem!

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