24 junho 2005

Os imigrantes

Sabemos que somos um país de emigrantes e estamos a descobrir que lidamos mal com os imigrantes que nos chegam.

Uma característica fundamental dos Portugueses é uma aparente inconsistência dos extremos que se tocam. Como emigrantes tendemos a criar família em qualquer lado e, ao mesmo tempo, a manter a casa em Portugal. Entendemos e seguimos com alguma facilidade as regras alheias mas sem nunca verdadeiramente lhes "vestir a pele".

Temos uma diversidade genética de culturas tal que ainda muito recentemente pouco se notavam cá os imigrantes. Vamos comparar a "visibilidade" dos magrebinos em França ou na Bélgica com a sua visibilidade cá? Por outro lado, tendemos a descair para um primarismo epidémico em situação de crise.

Os emigrantes económicos normalmente não são felizes. A relativa prosperidade sai-lhes muito cara. O momento mais feliz é provavelmente quando vão a caminho da "terra".

Já repararam na cara dos magrebinos ao descer as auto-estradas do Sudoeste de França no mês de Julho com os carros pejados de tralhas? Acho que raramente se vê gente tão feliz. Só na ida. Uma vez chegados vão estar impreparados para lidar com um choque com os que ficaram. As "fífias" dos emigrantes em férias são fundamentalmente uma manifestação de insegurança e de desconforto gerida de forma infeliz por quem é "meio estrangeiro" em todo o lado.

Já reparam na cara dos que aterram de regresso em Bruxelas, Paris ou Frankfurt sob um céu de chumbo depois do Natal na Terra? Uma boa imagem para angústia.

Abertura total: não. Co-responsabilização pela melhoria das condições nos países de origem: óbvia. Com os que cá estão, aprender e ensinar. É fácil ser intolerante com quem é diferente; é fácil ser inconveniente em ambiente diferente. É lamentável evoluir para a segregação que se auto-alimenta e amplifica como já se vê nalguns países da Europa Ocidental. Será enriquecedor cruzar experiências e culturas e resistir à tentação de que a “culpa” é do diferente e que, quanto mais diferente, mais óbvio que é culpado.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Carlos, conheci o teu blog através de outro e estive a ler alguns dos teus posts. "É fácil ser intolerante com quem é diferente..." - esta frase podia ter sido escrita até por um dirigente esquerdista e eu concordaria com ela em q.q. outro contexto, exceptuando o tema que abordaste.
Temos sido demasiado tolerantes e permissivos a meu ver. Não consigo deixar-me tocar por discursos anti-racistas e anti-xenófobos actualmente. "Aprender e ensinar"? Não é um pouco tarde para isso?
Nunca vi nenhum país revoltado com o comportamento dos emigrantes portugueses. Assisto agora a um Portugal revoltado com os imigrantes. Não sei onde iremos parar, não vejo medidas passíveis de serem executadas, lirismos não funcionam...

Um bj

Carlos Sampaio disse...

Sara

O problema com os imigrantes, e muitas outras coisas, é a generalização. Não são todos uns coitadinhos desenraizados a quem se tem que perdoar tudo nem são todos uns bandidos. Já vivi nalgumas partes do mundo a situação de os portugueses serem todos padeiros, merceiros, empregados de mesa, pedreiros e etc,o que, convenhamos, não será 100% rigoroso. Vamos ser iguais ou piores cá?

Anónimo disse...

Carlos
Não creio que o problema seja a generalização mas sim a acomodação... e o medo.