30 junho 2005

Em Lisboa, está tudo lá!

Há países que, na impossibilidade de proporcionarem um nível de infra-estruturas razoável em toda a sua extensão, concentram no centro da sua capital “tudo” para dar a impressão que não estão assim tão mal. Como se se investisse numa sala de visitas decorada luxuosamente e, nas traseiras, que ninguém visita, ficassem os móveis quebrados, as paredes bolorentas e os vidros das janelas partidos.

É frequente encontrar no terceiro mundo essa diferença brutal, que tem ainda por efeito a geração de fluxos migratórios internos e a concentração na capital de uma percentagem muito elevada da população. Acho que este retrato não está muito longe de Portugal e de Lisboa.

Um pequeno exemplo. Ainda não há muito tempo a Agência Europeia de Segurança Marítima veio para Portugal e isso foi equivalente a vir para Lisboa. Nas centenas de quilómetros de costa que possuímos, porquê Lisboa?

E lembrei-me de Miguel Torga que no seu livro muito interessante “Portugal”, diz que Portugal não gosta de Lisboa e que esta lhe retribui na mesma moeda. Será por isto?

E lembrei-me ainda uma conversa que tive com um lisboeta sobre a percepção que os estrangeiros têm do nosso país. Depois de estudarem os dados macro económicos médios de Portugal, ao chegarem a Lisboa, os seus visitantes ficavam abismados com o que aí viam. Esperavam encontrar algo muito pior. Pudera! Ele achava que isso era um crédito para a cidade de Lisboa, que superava as expectativas. Eu acho que é um descrédito para o país.

Não me move nenhuma animosidade particular ou de estimação contra Lisboa. Somente acho que tem que existir uma política de desenvolvimento do país equilibrada, sob pena de nos tornarmos cada vez mais terceiro-mundistas e, ao mesmo tempo, muito provincianos e orgulhosos de termos na sala de visitas uns sofás italianos espectaculares.

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