18 junho 2005

As janelas do nosso futuro I

O Sr António tinha por função colocar janelas. Entendia que as devia colocar com um alto grau de exigência. Algumas não vinham bem feitas e eram recusadas. Noutras alturas embirrava com alguns modelos e não tinha forma de as considerar aptas.

Então chegou a mudança. O Sr. António passaria a ser pago pelo número de janelas colocadas. Quantas mais colocasse, mais recebia. Imediatamente deixou de ter birras e aumentou a produtividade. Depois descobriu que algumas recusadas poderiam ser ajustadas com um jeitinho. Não ficavam perfeitas mas facturava mais. Em seguida achou que usava demasiados pontos de fixação e reduziu-os para metade. Rescreveu as normas de colocação de janelas para ficar tudo conforme.

Na altura em que as casas ficavam prontas, não se notariam os defeitos se fossem examinadas mais ligeiramente e mais de longe. O Sr António, no âmbito da sua nova autonomia, conseguiu que estes exames de aceitação fossem mais ligeiros. A facturação continuava a subir.

Como as exigências nesta fase eram menores, maior era o número de janelas que chegavam mal preparadas.

As casas assim construídas funcionavam mal porque as janelas já não cumpriam a sua função. Algumas colapsavam mesmo. Segundo o Sr António isso acontecia porque as janelas já não tinham chegado bem às suas mãos, que ele não as podia recusar a todas e a cadeia de desresponsabilização seguia até se perder de vista.
Esta história não se destina a ilustrar nenhum exemplo do mundo empresarial em que trabalhar por objectivos sem regras claras e sem controlo externo tem por consequência uma deriva assim.
(continua...)

1 comentário:

Anónimo disse...

gostei das janelas vs buraco, o incentivo à quantidade foi do sr. cavaco, o homem do pogresso.