02 junho 2005

Testemunho de um NÃO

Recebi de uma amiga francesa , este testemunho que, com a sua devida autorização e os meus agradecimentos, transcrevo em tradução livre.

Faço parte dos 55% de franceses irresponsáveis, ou de extrema-direita, ou de extrema-esquerda (segundo os jornalistas e os partidários do SIM) que disseram NÃO a ESTA constituição europeia.... Sinto-me consternada por ser irresponsável, ou de extrema-direita, ou de extrema-esquerda e de não ser apenas uma Francesa normal que acha que esta constituição não está bem “costurada”. Fiquei a saber hoje na televisão francesa que o perfil do eleitor que votou NÃO é o de um homem, jovem, na casa dos trinta anos, sem formação superior e de baixa condição social. Fiquei a saber, pois, que mudei de sexo, rejuvenesci e que, ter diploma ou não, não é assim tão importante.

Eu tinha um medo terrível que este NÃO nos trouxesse o APOCALIPSE e o CAOS profetizados pelos partidários do SIM e por José Barroso, Presidente da Comissão Europeia e que se imiscuiu várias vezes na campanha eleitoral francesa... Mas desde segunda-feira que estou mais tranquila: os mesmos políticos que nos prometeram a GUERRA e a PESTE, disseram-nos que, afinal, não é assim tão grave, desde que eles não percam a cabeça, o lugar, o mandato na Assembleia, etc. Os nossos políticos são uma turba que se está marimbando para a Europa e que só pensa nos seus benefícios individuais e imediatos. Já se sabia. Agora está confirmado. Realmente eu gostaria que MERDA fosse uma opção de resposta no referendo. É provavelmente aqui que se situa a grande maioria: aqueles que têm consciência de que os políticos não querem saber deles para nada e que estão fartos disto.

CG

Em resposta a esta contrariedade, o Imperador da República Francesa resolveu baralhar e tornar a dar. De notar que ele próprio ainda só não foi indiciado e julgado por crimes vários e graves ligados ao financiamento ilegal do seu partido porque goza de uma imunidade napoleónica. Dizem até que terá à sua espera, no dia da expiração do mandato, uma colecção de juízes “mortinhos” por o interrogar e lhe fazer engolir a arrogância imperial actual. Que decisão de fundo tomou ele? Resolveu substituir um dos primeiros-ministros mais pragmáticos que a França teve nos últimos tempos por um palaciano ajudado por um populista que o próprio Chirac tinha forçado a abandonar o governo há pouco tempo. Algo está podre no reino dos “Enarques”.

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