30 abril 2014

Outra vez!!!

Estado : Oklahoma

Data: 29/4/2014.

Problema: Sedativo não funcionou e o condenado esteve 33 minutos em convulsões até morrer, provavelmente consciente.

Depois de ter escrito sobre este assunto aqui há cerca de 3 meses, não imaginava que fosse possível haver uma reincidência a tão curto espaço de tempo. Não é a papel químico porque os químicos terão sido outros mas o fundo da questão é exactamente o mesmo. Não bastando ainda manterem e aplicarem a pena de morte, continuam a inventar e a torturar os condenados na hora de os executar.

28 abril 2014

Não temos cura

Estando a malfadada troika de saída, um período que em discurso oficial até já foi absurdamente comparado à ditadura salazarista porque quem devia pensar antes mesmo de falar, e com um cheirinho a eleições ao virar da esquina, já se vê vontade de festa em todos os quadrantes. Seguro quer acabar com os cortes e era interessante ele concretizar como seria o seu orçamento sem eles. Cavaco Silva vem falar no dividendo do crescimento que permitiria aliviar a austeridade e, como ele até é economista, eu gostava de ver essas considerações quantificadas. Até o inefável MarcAntónio refere estarmos a caminhar para um “espaço de liberdade”.

É de recordar que os dados da última execução orçamental apontam para um défice de 4%. Ou seja, o Estado recebe 100 e gasta 104. A dívida pública continua, portanto, a aumentar, apenas a um ritmo mais moderado. Se tivéssemos um superavit (palavra muitíssimo rara) de 10%, e reduzindo cortes se passasse para 3 ou 4%, sempre de superavit, poderia fazer sentido. Mas não é assim. Apesar de todos os cortes o saldo continua negativo!

Mas isso não interessa. Aliás, é curioso que se a situação não melhorasse, pedir-se-ia para acabar com a austeridade porque não estava a resultar; se a situação melhora pede-se para acabar porque melhorou. Falando em coerência, eu gostaria muito de ver o revoltado e revoltoso Mário Soares a ler hoje em público o que ele dizia quando era primeiro-ministro em 1977 e 1983 e o FMI por cá (m)andava. Seria extremamente interessante, se bem que algo embaraçoso para ele.

Quase apetece dizer à troika: “Não se vão embora porque os que cá ficam não nos sabem governar…”, ou então, triste e pragmaticamente, “Adeus e até breve!”.

26 abril 2014

Valores de Abril

Não se/nos enganem.

O PCP não é dono nem representativo dos valores de Abril. A revolução teve um apoio popular amplo, muito para lá dos 12,46% que o PCP obteve nas eleições de 1975 e do que tem hoje, com mais ou menos filiais.

E se há uma coisa que inequivocamente Abril trouxe, foi a democracia.

Não se enganem nem nos enganem.

25 abril 2014

E depois do Abril

40 Anos depois, o acontecimento “25 de Abril”, que podia e devia ser consensual, continua a perder valor para quem não o viveu, desvalorizado pela politiquice entre pretensas apropriações e usurpações. E há demasiada nostalgia e lamentação. Nostalgia do antes, do respeitinho, nostalgia do depois, das canções de intervenção e até do PREC. E há lamentos. Lamento do 25 de Novembro, lamento das nacionalizações, lamento da descolonização, etc.

Tudo isto fica pela rama. O dia em si é/foi um dia fantástico e, bom ou mau, o nosso quadro sociopolítico actual não é tão diferente dos outros países que não tiveram uma PIDE, uma guerra colonial, um programa brutal de nacionalizações e outras particularidades. Neste ponto de vista o pós-revolução correu bem. O espírito do dia 25 de Abril foi cumprido e evoca-lo ou invoca-lo 40 anos para ultrapassar os problemas actuais é um sebastianismo rubro.

O que correu, e corre, mal não pode ser atribuído a esses episódios simbólicos que a esquerda e a direita hasteiam, seja pela positiva, seja pela negativa. Esses episódios são as árvores na frente da floresta. Se não tivessem existido, outros lhes teriam tomado o lugar. Nostalgia e lamentação ao jeito de um Brasil que considera não ter a pujança dos EUA por terem sido descobertos/colonizados por um latino e em vez de um anglo-saxão é preguiça e assumir a preguiça. O que corre mal é deficiência de atitude, é a desonestidade material e intelectual e o oportunismo. Subindo na cadeia de razões e procurando a causa primeira, esta será: seriedade. Daí para a frente tudo será possível.

Sejamos, portanto, sérios e sem preguiça olhemos e tratemos do que faltou depois do 25 de Abril e que ainda hoje falta. Para isso não precisamos de comemorações nem de nova revolução, bem pelo contrário. Precisamos de encarar e agir no dia-a-dia a sério sem suspiros nem lamentos.

21 abril 2014

Os Rapazes dos Tanques

Aparentemente, 40 anos depois, ainda há jornalismo a fazer sobre o 25 de Abril. “Os Rapazes dos Tanques” de Alfredo Cunha e Adelino Gomes é um excelente trabalho e um documento que revelou um novo herói desse dia: o cabo que se recusou a cumprir as ordens do brigadeiro e a disparar sobre os revoltosos, evitando assim o banho de sangue. Se nesse dia existiram inúmeros exemplos de deserções e desobediências da parte de quem estava inicialmente do lado do regime, talvez nenhum seja equivalente a este, decorrido no cenário dramático dos tanques frente a frente.

Esquecendo um pouco os detalhes desta situação única, a cena tem algo de “muito portuguesa”, no mau sentido da palavra. Há uma hierarquia sem ascendente dando ordens tontas. O executante não diz que sim, nem que não, faz de conta que não entendeu e fecha a porta, entrincheirando-se por umas horas, à espera que a confusão passe.

Sendo claro que pragmaticamente a atitude do soldado teve naquele momento um resultado final positivo, o contexto subjacente é o de algo que não funciona. Se não há dúvidas de que em 1974 estávamos numa cepa torta, hoje, 40 anos depois, continuaremos a encontrar dalguma forma uma chefia tonta que berra ordens sem sentido e um executante que nem diz que sim nem que não, esquecendo-se manhosamente de as cumprir? Talvez sim e assim não vamos a lado nenhum. O que fez e faz acontecer é um Salgueiro Maia pisando a rua determinado e assumindo riscos.

18 abril 2014

Ele não morreu

Se houvesse uma galeria de cinco escolhidos na minha biblioteca, Gabriel Garcia Marques estaria lá, ao lado de A Camus, H. Hess, F. Dostoivesky e J. Steinbeck.

Os livros não se explicam, lêem-se. Os romances de Garcia Marques têm uma força telúrica sem paralelo, os seus personagens têm a força e a pujança das árvores e sente-se lá o cheiro da terra molhada depois da tempestade.

Dizem que morreu, mas não é verdade. Os seus livros continuam lá, iguais ou melhores. O tempo não os estraga.

17 abril 2014

É mesmo uma teia

Não gosto de embarcar em teorias da conspiração especulativas pouco fundamentadas, mas o caso do BPN e todos os seus “episódios” parece não deixar dúvidas que este descalabro de custo inacreditável para o contribuinte é mesmo fruto de uma conjugação de interesses de alto nível que se protegem mutuamente. É espantoso como foi possível fazer rodar e desaparecer impunemente tanto dinheiro. Não é necessário recordar que entre os tantos que se aproveitaram está o actual Presidente da República, ao ter trocado com Oliveira e Costa uns papeizinhos de valor arbitrário sem fundamento económico. Depois da nacionalização precipitada ainda está por fazer o balanço da recuperação dos activos e dívidas e da reprivatização, mas as expectativas são baixas. Aliás, nem me surpreenderia que os antigos ou os novos donos colocassem uma acção ao Estado Português por qualquer coisa mal cosida no processo e ganhassem.

Aliás, o último episódio tem a ver precisamente com as acções judiciais em curso. Veio a público recentemente que os mesmos advogados representam o Estado no processo de recuperação de activos e também os antigos donos no processo de impugnação das condenações de que foram alvo pelo Banco de Portugal por prestação de contas falsificadas e outras trapalhadas. Para lá do que possa estar formalmente descrito como definição de conflito de interesses, esta é uma situação muito anormal e ainda por cima num caso tão sensível como este. É fácil adivinhar uma enorme promiscuidade, pouco higiénica e potencialmente lesiva de uma das partes. Por acaso, ou sem acaso, as condenações em causa até estão em bom caminho de prescreverem todas. Ora bem, se um mínimo de moralidade e sentido ético deveria levar os responsáveis a assumir o erro, pedir desculpas e corrigir imediatamente, pelo menos nas aparências, aqui não é o caso. Como é que alguém responsável pode argumentar que, sendo o Banco de Portugal uma entidade autónoma do Estado do Português, são assuntos independentes e que o que o seu fornecedor de serviços jurídicos faz em paralelo não lhe diz respeito? Por favor, não insultem a nossa inteligência nem continuem a utilizar o nosso dinheiro assim.

11 abril 2014

(Des)horários de uma espécie de trabalho

Numa daquelas picardias habituais entre franceses e ingleses, contava o jornal The Guardian que o legislador francês, sempre cioso de proteger os direitos de quem trabalha, teria decretado ilegal o trabalho fora de horas, trazendo como consequência que os telefones profissionais, deveriam ser desligados depois das 18 horas. E ironizava com a propensão do outro lado da Mancha para a boa vida, leia-se preguiça, enquanto eles eram formiguinhas “around the clock”.

Do outro lado, o jornal Le Monde pega no assunto, para desmentir a notícia. Não existia nenhuma lei assim, mas nalguns casos, de acordos com sindicatos, a coisa andaria perto. Esquecendo estas picardias em torno do canal do Mancha, sendo a Picardia até uma região francesa ali bem a meio entre as duas capitais, o assunto merece alguma reflexão.

Trocar emails às 23h será mesmo trabalhar? Haverá mesmo (sempre) necessidade disso? E o estado de espírito de quem está em casa, supostamente relaxado, será o ideal para abordar e analisar correctamente os assuntos em causa e tomar e comunicar decisões? Não fará mais sentido que no dia seguinte às 9h sentado em ambiente profissional concentrado e dedicado a tempo inteiro (não no facebook nem no youtube) se analise e decida com melhor discernimento?

Talvez não seja necessário desligar o telefone e muito menos legislar para isso, mas o pingue-pongue de emails 24 horas por dia pode-se tornar mais uma distracção do que um trabalho. E quem fica a perder não é apenas o indivíduo – é a organização, vítima de trabalho mal feito.

07 abril 2014

Crónica de um treinador aos papéis

- Pessoal, temos que marcar golos! É fundamental marcarmos golos! Tem que ser!
- Mas, ó Mister, vamos jogar em 4-4-2 ou 4-3-3?
- Não complique homem! Marcar golos é na baliza do adversário, lá na frente, não é? É ir para lá e marcar!
- Mas, ó Mister, se toda a gente for para a frente, deixamos a nossa baliza desprotegida…
- Irra que é chato! Não complique. Quando for preciso defendemos a nossa baliza, mas o objectivo é marcar golos!

Ao intervalo tínhamos marcado um golo mas o adversário fizera cinco. Não era previsível que eles atacassem assim. Agora não podemos sofrer mais golos.

- Pessoal, não podemos sofrer golos! É fundamental não sofrermos! Tem que ser!
- Mas, ó Mister, vamos jogar em 4-4-2 ou 4-3-3?
- Não complique homem! Eles marcam golos na nossa baliza não é? É ficarem lá todos e não os deixar marcar! Ninguém sai dali.
- Mas ó Mister, se nunca sairmos dali também não marcaremos e assim vamos perder o jogo.
- Irra que é teimoso! Quer sofrer 10 golos numa partida, é?

A segunda parte correu muito melhor. Nós não marcamos mais, é certo, mas eles apenas fizeram mais um. Melhoramos muitíssimo. Para o próximo jogo vamos fazer a primeira parte já a defender e também não vou convocar aquele tipo complicado, quero ter mais autoridade na equipa.


Transportado para diferentes contextos este é um cenário relativamente habitual de um gerir imediatista, tonto, incompetente e sem estratégia nem planeamento. O curioso é que um treinador assim sobreviveria muito pouco tempo, contrariamente ao que se passa noutros meios mais relevantes como, por exemplo, na governação do país. Há uma altura em que é prioritário investir e gasta-se à larga. Não resulta? Então param-se os investimentos e o prioritário é poupar. Pode o resultado final ser 5-1, 6-1 ou 10-1… mas a derrota está garantida.

05 abril 2014

02 abril 2014

Rally noutro tempo

Dizer que “antigamente…” / ”no outro tempo…” é que era bom é um princípio arriscado. Pode ser um simples exagerar a importância de qualquer coisa que vivemos e que já não existe mais, com quem diz: coitaditos dos novos… ou pode também ser uma recusa/ dificuldade/ preguiça em avaliar com rigor a actualidade e concluir superficialmente que antes é que era bom.

Isto vem a propósito do Rally de Portugal que começa agora. Antigamente durava mais tempo, tinha mais horas por dia, não seguia horário de escritório, e percorria mais país do que agora.

Tentando ser objectivo, no dia em que houver na estrada carros parecidos com os que estão ali acima e não Polos e Fiestas inchados, eu deixo de dizer que antigamente é que era bom
!