07 abril 2014

Crónica de um treinador aos papéis

- Pessoal, temos que marcar golos! É fundamental marcarmos golos! Tem que ser!
- Mas, ó Mister, vamos jogar em 4-4-2 ou 4-3-3?
- Não complique homem! Marcar golos é na baliza do adversário, lá na frente, não é? É ir para lá e marcar!
- Mas, ó Mister, se toda a gente for para a frente, deixamos a nossa baliza desprotegida…
- Irra que é chato! Não complique. Quando for preciso defendemos a nossa baliza, mas o objectivo é marcar golos!

Ao intervalo tínhamos marcado um golo mas o adversário fizera cinco. Não era previsível que eles atacassem assim. Agora não podemos sofrer mais golos.

- Pessoal, não podemos sofrer golos! É fundamental não sofrermos! Tem que ser!
- Mas, ó Mister, vamos jogar em 4-4-2 ou 4-3-3?
- Não complique homem! Eles marcam golos na nossa baliza não é? É ficarem lá todos e não os deixar marcar! Ninguém sai dali.
- Mas ó Mister, se nunca sairmos dali também não marcaremos e assim vamos perder o jogo.
- Irra que é teimoso! Quer sofrer 10 golos numa partida, é?

A segunda parte correu muito melhor. Nós não marcamos mais, é certo, mas eles apenas fizeram mais um. Melhoramos muitíssimo. Para o próximo jogo vamos fazer a primeira parte já a defender e também não vou convocar aquele tipo complicado, quero ter mais autoridade na equipa.


Transportado para diferentes contextos este é um cenário relativamente habitual de um gerir imediatista, tonto, incompetente e sem estratégia nem planeamento. O curioso é que um treinador assim sobreviveria muito pouco tempo, contrariamente ao que se passa noutros meios mais relevantes como, por exemplo, na governação do país. Há uma altura em que é prioritário investir e gasta-se à larga. Não resulta? Então param-se os investimentos e o prioritário é poupar. Pode o resultado final ser 5-1, 6-1 ou 10-1… mas a derrota está garantida.

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