28 abril 2014

Não temos cura

Estando a malfadada troika de saída, um período que em discurso oficial até já foi absurdamente comparado à ditadura salazarista porque quem devia pensar antes mesmo de falar, e com um cheirinho a eleições ao virar da esquina, já se vê vontade de festa em todos os quadrantes. Seguro quer acabar com os cortes e era interessante ele concretizar como seria o seu orçamento sem eles. Cavaco Silva vem falar no dividendo do crescimento que permitiria aliviar a austeridade e, como ele até é economista, eu gostava de ver essas considerações quantificadas. Até o inefável MarcAntónio refere estarmos a caminhar para um “espaço de liberdade”.

É de recordar que os dados da última execução orçamental apontam para um défice de 4%. Ou seja, o Estado recebe 100 e gasta 104. A dívida pública continua, portanto, a aumentar, apenas a um ritmo mais moderado. Se tivéssemos um superavit (palavra muitíssimo rara) de 10%, e reduzindo cortes se passasse para 3 ou 4%, sempre de superavit, poderia fazer sentido. Mas não é assim. Apesar de todos os cortes o saldo continua negativo!

Mas isso não interessa. Aliás, é curioso que se a situação não melhorasse, pedir-se-ia para acabar com a austeridade porque não estava a resultar; se a situação melhora pede-se para acabar porque melhorou. Falando em coerência, eu gostaria muito de ver o revoltado e revoltoso Mário Soares a ler hoje em público o que ele dizia quando era primeiro-ministro em 1977 e 1983 e o FMI por cá (m)andava. Seria extremamente interessante, se bem que algo embaraçoso para ele.

Quase apetece dizer à troika: “Não se vão embora porque os que cá ficam não nos sabem governar…”, ou então, triste e pragmaticamente, “Adeus e até breve!”.

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