11 abril 2014

(Des)horários de uma espécie de trabalho

Numa daquelas picardias habituais entre franceses e ingleses, contava o jornal The Guardian que o legislador francês, sempre cioso de proteger os direitos de quem trabalha, teria decretado ilegal o trabalho fora de horas, trazendo como consequência que os telefones profissionais, deveriam ser desligados depois das 18 horas. E ironizava com a propensão do outro lado da Mancha para a boa vida, leia-se preguiça, enquanto eles eram formiguinhas “around the clock”.

Do outro lado, o jornal Le Monde pega no assunto, para desmentir a notícia. Não existia nenhuma lei assim, mas nalguns casos, de acordos com sindicatos, a coisa andaria perto. Esquecendo estas picardias em torno do canal do Mancha, sendo a Picardia até uma região francesa ali bem a meio entre as duas capitais, o assunto merece alguma reflexão.

Trocar emails às 23h será mesmo trabalhar? Haverá mesmo (sempre) necessidade disso? E o estado de espírito de quem está em casa, supostamente relaxado, será o ideal para abordar e analisar correctamente os assuntos em causa e tomar e comunicar decisões? Não fará mais sentido que no dia seguinte às 9h sentado em ambiente profissional concentrado e dedicado a tempo inteiro (não no facebook nem no youtube) se analise e decida com melhor discernimento?

Talvez não seja necessário desligar o telefone e muito menos legislar para isso, mas o pingue-pongue de emails 24 horas por dia pode-se tornar mais uma distracção do que um trabalho. E quem fica a perder não é apenas o indivíduo – é a organização, vítima de trabalho mal feito.

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