30 junho 2011

Balsemão e Pais do Amaral unidos contra a privatização da RTP

E cintando o DE: Francisco Pinto Balsemão e Miguel Pais do Amaral voltaram a alertar para as consequências da privatização da RTP no mercado publicitário. Segundo o presidente da Impresa e fundador do PSD, "não haverá mercado para mais um ‘player' em televisão de sinal aberto".
Ora bem, se o mercado não suporta 3 canais, qual a melhor solução? Fechar o que está a mais ou manter um excedentário à custa do contribuinte? Será assim tão díficil responder à pergunta?

Nota: Para a RTP2 não me importo de contribuir, mas apenas para essa.

29 junho 2011

Revisão dos feriados

Supostamente para aumentar a produtividade por redução das pontes demasiado longas o novo governo pensa em alterar a data efectiva dos feriados. Apetece perguntar se o problema é do coiso ou das calças. As pontes são obrigatórias ou uma fatalidade? Não. As pontes são umas prendinhas que se dão para adoçar os colaboradores ou os funcionários. Se o gestor privado ou público entende que o dia perdido é importante e negativo para os resultados da sua organização, tem uma solução simples: não dar ponte!

Quando muito pode haver algumas actividades em que arrancar na segunda, parar na terça e rearrancar de novo na quarta represente uma perda de produção significativa. Aí sim, pode-se justificar ter menos descontinuidade e deslocar o dia “feriado” de terça para segunda. Nos outros casos e muito especialmente no sector público do Estado, o que precisamos é de uma cultura de responsabilização e não ter de “legislar” desta forma para limitar a generosidade dos “chefes porreiros”.

25 junho 2011

As primaveras árabes em curso

Dizem por ai muitos opinadores e comentadores que a “Democracia” está a chegar ao mundo árabe, que isso é fantástico e acrescentam outras teorias e baboseiras. Ora bem, eu sobre os árabes mesmo lá do Médio Oriente sei pouco, mas sobre o norte de África posso acrescentar algo. Dentro de toda a gente que mexe ou faz mexer actualmente aquela parte do mundo, identifico 4 grupos. Não necessariamente rigidamente estanques e homogéneos, mas dentro da simplificação esta divisão já é suficiente para não concluir assim rapidamente que não há “um” povo a sair à rua.

Grupo 1 – A alternativa. Aqueles que de uma forma ou de outra e com motivações distintas aspiram subir ao poder. Considerando um acesso pela via da democracia, será necessário que cheguem a uma boa camada da população. E aqui surge o primeiro problema: na maior parte desses regimes os partidos do poder podem ser um ou vários mas de nenhuma forma são projectos de mudança. Os outros, que serão mesmo de oposição, quando existem, estão desgastados numa imagem envelhecida de “pregadores do deserto” e sem conseguirem uma afirmação credível que mobilize uma larga fatia do eleitorado. Os únicos que conseguem apresentar um projecto que pode alcançar e convencer uma boa parte da população, são os de base religiosa. Aqui convém confirmar se estes se manterão democratas mesmo após subirem ao poder ou se uma vez lá e como representantes de um poder divino inquestionável trancarão as portas a qualquer outra posterior mudança.

Grupo 2 – Os esclarecidos, que querem viver num país melhor, mais justo, mais desenvolvido, que premeie o mérito, em que o poder preste contas a sério e que acreditam que a democracia é o caminho para lá chegar. Alguns desta base já emigraram e os que ainda lá estão e são mesmo esclarecidos vêm com bastante apreensão o panorama do grupo 1.

Grupo 3 - Os pobres, aqueles que simplesmente querem ter uma vida melhor. Se para viver como na Europa em que há democracia, o caminho é a democracia, eles serão democratas; se os convencerem de que essa melhoria passa pela x_cracia, eles serão x_cratas. Não estão necessariamente preocupados com a justiça na distribuição da riqueza, o mais importante é que o caminho da riqueza passe por eles. Em caso de democracia, mesmo democracia, provavelmente será da escolha deste grupo que sairá o novo poder.

Grupo 4 – Os vândalos que aproveitam a desestabilização para sair à rua e quebrar e queimar, sem uma preocupação construtiva. Destroem por instintos de maus fígados ou/e por vontade de primária de demonstrar que existem e que esta é a sua forma de afirmação.

Do peso de cada um destes grupos e da sua interacção com a realidade sócio, económica, histórico e política de cada país, nascerá uma realidade diferente e perspectivas diversas de mudança. Veremos isso a seguir.

10 junho 2011

A Banda do Chico passa em Barcelos


"A Banda" de Chico Buarque por Nara Leão.
Bonecos de João Ferreria (Oleiro de Barcelos).
Versão com melhor qualidade aqui .

E, para quem quiser ver algo relacionado, há um jovenzinho a cantar isto aqui.

08 junho 2011

Governar o próprio ou mandar no alheio

Como todos sabemos temos perdido ao longo dos últimos tempos parte da nossa soberania. Perdemos com a adesão à UE, perdemos com a adesão ao Euro e agora mais recente e mais dramaticamente perdemos com o plano de resgate. Será mau? Será preferível o “orgulhosamente sós”? A mim, não me choca pensar em ter um ministro das finanças alemão, um ministro do interior inglês, da cultura italiano, do ensino finlandês e por aí fora. Não me importo com uma condição: que quem quer seja que mande cá, se sinta identificado connosco e membro da mesma comunidade.

A senhora Merkel e respectiva equipa podem entender que precisam de mandar na Europa, arranjando a companhia da França só para não parecer demasiado mal o estar a Alemanha isolada nessa campanha. E isso até pode ser bom, mas desde que seja de Europa para Europa. Se a Alemanha entende que “nós mandamos nos outros”, já começa a ser uma espécie de colonização. Sendo assim, sem a tal identificação comunitária, vai dar mal resultado como deram as colonizações. Porque, por muito esclarecido que seja um governante, a sua autoridade nunca será sustentável se não for percebido como “ um dos nossos”.

PS: É claro que os alemães saberem do fantástico recorde de existirem mais de 9 mil gregos com mais de 100 anos de idade “vivos” e a receberem pensões não deve ajudar muito a essa identificação…

06 junho 2011

Pós - reflexão

Afinal o eleitorado não estava assim tão perdido quanto as sondagens pareciam manifestar. A diferença real entre o PSD e o PS é a normal e a expectável para as circunstâncias. Penso que as ameaças de empate das sondagens tiverem uma explicação: o eleitorado crítico e que define o resultado (há quem lhes chame flutuante, mas enfim, o que flutua são as rolhas, estes estão ancorados numa análise não clubista da capacidade de governação dos candidatos) demorou demasiado tempo a definir a sua tendência e, apesar de todas as dúvidas, acabou por dar o seu voto ao PSD. Está claro.

Duas notas negativas. Contra toda a expectativa, a incapacidade de o CDS subir francamente como parecia previsível - talvez uma lição para Paulo Portas pensar em reduzir a taxa de utilização da sua caixinha de alfinetes com que gosta de presentear os seus adversários e até mesmo potencial parceiros. Na sua ânsia de marcar pontos ao PSD ele exagerou, ver o infeliz debate com Passos Coelho, e acabou por criar desconfiança aos potenciais eleitores migrantes de todos os quadrantes. Depois o Bloco: aquela coisa chique tão cheia de nada terá finalmente começado o caminho de regresso à sua dimensão nuclear? Um Acácio Barreiros ou um Major Tomé que lá estão no Parlamento para apresentar de vez em quando uns discursos politicamente incorrectos e necessários, mas que obviamente não conseguem credibilidade alguma para um trabalho de governação construtivo?

E do PC/CDU nada a acrescentar, como sempre.

04 junho 2011

Dia de reflexão

Dia de reflexão para uns eleitores desesperados

- Então como é? Em quem votamos?
- Naquele que nos engana ou naquele que se engana?
- Queres dizer: no aldrabão ou no nabo?
- Nem tanto assim, mas pronto: em qual deles?
- E quem te garante que o nabo não é também aldrabão?
- Pois… mas o Sócrates, especialmente “pós-troika” tornou-se verdadeiramente impossível de aturar de tanta falta de humildade...
- Pois… e então em quem votamos?
- E o Passos Coelho não tem cara de quem consegue definir e manter um rumo. Flutua demasiado.
- Pois… e então em quem votamos?
- Venha o diabo e escolha!
- O diabo… votamos no Garcia Pereira ?
- Se calhar vamos votar no nabo…
- E daqui a seis meses, estaremos arrependidos…
- Seis meses? Optimista!

    02 junho 2011

    Campanha para quê ?

    Se há uma campanha que merecia e devia ter sido diferente, seria esta, por vários motivos e destacando especialmente o facto de estarmos em pré-falência e metade do programa de governo estar já feito e aprovado no tal documento da troika. O que é que vimos? Aqueles que disputam a vitória fazerem um verdadeiro concurso de caneladas, a ver quem pisa a canela do outro com mais intensidade; aquele que sente que de uma forma ou outra vai chegar ao poder não consegue disfarçar o seu contentamento, não importa que chapéu, boné ou boina tenha enfiado; aqueles que sabem e/ou não querem correr o risco de ter mesmo que governar lá vão debitando e ideias e utopias, como, por exemplo, o falido falar grosso ao banco, mesmo antes de este lhe ter aprovado o empréstimo que o salvará da falência.

    Para que servem os comícios, almoços, jantares, arruadas e beijinhos em feiras e em tascas? Para cada qual, no seu partido, fazer a festa e mobilizar o seu aparelho e animar os seus simpatizantes? Ainda por cima gasta-se dinheiro causando algum stress nas finanças dos partidos com soluções muitas vezes no limite… Se é pela festa basta uma anual no verão! Para o eleitorado em geral este carnaval acrescenta muito pouco.

    Em resumo, em geral e muito especialmente nesta vez, uma campanha destas não serve para nada. Coloquem os líderes dos partidos, assessorados da forma que entenderem, em fóruns públicos com especialistas que os questionem abertamente e os forcem a responder às questões fulcrais: de que forma realmente pensam governar e abordar e resolver (ou tentar resolver) os gravíssimos problemas que temos pela frente. Seria muito mais útil, esclarecedor e até barato do que este carnaval fora de tempo.

    31 maio 2011

    Lugares em branco

    Eu sei que a sugestão não passará. Os que a poderiam aprovar são parte interessada, mas vale sempre a pena referir o assunto. Quem se dá ao trabalho de se deslocar a uma mesa de voto, esperar pela sua vez, receber o boletim e respeitosamente dobrá-lo em branco, não deveria ter uma leitura igual a quem vai lá desenhar uma careta ou escrever um palavrão, nem àquele que fica em casa ou na praia por não estar para se chatear.

    Quem vota em branco tem o cuidado de dizer: eu quero votar, não prescindo desse direito e obrigação, mas não me reconheço em nenhuma das propostas apresentadas. Assim, os votos em branco deveriam ser contados para a repartição dos deputados e os lugares proporcionais deixados em branco. Quem respeita o sistema dessa forma, deveria também ser respeitado e não ser ignorado com, no final, as bancadas completas (quando não há faltas), supostamente espelhando a vontade expressa de todo o eleitorado.

    Os lugares em branco seriam um sinal permanente aos deputados dizendo: não julguem que têm a representatividade garantida. Estamos aqui em nome de alguém que não vos julga merecedores do seu voto. Se querem o voto deles, tentem fazer melhor.

    29 maio 2011

    Justiça cega para todos ?

    Na minha pasta de viagem estava o último número da “The Economist” que tinha um artigo sobre as diligencias abertas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia a mais dois dirigentes africanos: Laurent Ghagbo da Costa do Marfim e M. Khadafi da Líbia. Referia ainda uma possível aproximação do Egipto e da Tunísia ao TPI, o que daria alguns motivos mais de preocupação aos seus ex-líderes. Se juntarmos a condenação formal de Omar El Bashid do Sudão e a de Charles Taylor da Libéria que pode vir a seguir, vê-se que África está fortemente representada nos casos tratados por este TPI.

    O artigo analisava o facto de os africanos se sentirem discriminados neste campo. Sem entrar muita na questão do continente estar efectivamente bem servida de déspotas criminosos, o artigo tentava concluir que não havia uma preferência especial por esse continente. No TPI existia muita África porque ele se substituía aos sistemas locais de justiça fracos.

    Isto até terá alguma lógica, mas, por acaso, eu tinha na mesma pasta de viagem o livro “A era da mentira” de M. Elbaradei. Entre outras coisas ele descreve e pormenoriza o seguinte: a administração Bush tinha decidido a guerra no Iraque e estava disposta a todo o tipo de manipulação para ter as “provas” que sustentassem a sua legalidade. Não as teve antes, nem as conseguiu obter depois, apesar de muito terem procurado. Ou seja, o que ouvimos a administração americana dizer na altura não tinha por motivação esclarecer a verdade e eliminar um perigo mas sim “To get Saddam!”. No entretanto os milhares que sofreram e morreram são certamente humanidade e uma guerra com esta base parece realmente crime. Os USA não fazem parte do TPI, assim como não faz parte o Sudão, cujo caso foi aberto a pedido do conselho de segurança da ONU, onde por acaso os EUA estão representados permanentemente e com natural poder de veto… mas, a justiça para ser justiça deveria ser cega e não depender da nacionalidade nem da importância do criminoso.

    27 maio 2011

    Glosa Crua, 6 e um p... - Tempo, 0



    Pois é. Eu bem digo que não sou muito dado a efemérides. E tanto assim é que nem me lembrei da data do sexto aniversário do Glosa Crua, no passado dia 13 de Maio... Mas pronto, cá fica o registo, um p... à frente.

    PS: E até ganhei um bom exemplo para me desculpar quando um dia me esquecer de efemérides que envolvam terceiros.

    22 maio 2011

    Continua... sim, mas como?



    Marraquexe 21-5-2011, Praça Yamaa el Fna, menos de um mês após o atentado de 28 de Abril, que causou 17 mortes.

    O café Argana está parcialmente tapado por uma estrutura coberta por um plástico opaco, como se houvesse umas simples obras em curso. Na frente um simples ramo de flores seguramente trazido por um particular familiar ou amigo de alguma vítima. Ao lado as bugigangas do costume e os negociantes que oferecem tudo o que se quiser. As motoretas ziguezagueiam por entre aquela mistura de locais e turistas. Tiram-se fotografias às serpentes e àquele pitoresco pouco espontâneo e algo forçado.

    Certamente seria pior que a praça estivesse morta e vazia, significaria que o objectivo duplo tinha sido alcançado: matar pessoas e a amedrontar de forma permanente… mas ignorar e banalizar aqueles mortes assim também não…

    10 maio 2011

    Alguém chamou "ajuda"?

    Independentemente da bondade e da oportunidade das medidas impostas pela troika, o pior veio agora: a taxa de juro anunciada como “algo entre 5,5 e 6%”. Esta não era seguramente a expectativa e não deixa de ser curioso que tenhamos assinado um protocolo com uns credores, que no fundo é o que são, e depois disso, estes vão para casa pensar e definir qual a taxa aplicar…!?!

    Quando Portugal se financiava comercialmente e considerava um “sucesso” a colocação da dívida a estes valores de taxa ouvi dizer duas coisas: uma era que muitos mais “sucessos” assim e estaríamos falidos a prazo; a segunda era que essas taxas elevadas eram consequência dos critérios duvidosos das tais agências de “rating”, que pareciam privilegiar a especulação e até merecer investigação judicial.

    Agora temos uma chamada ajuda institucional, supostamente não especulativa, que decreta uma taxa que efectivamente nos leva à insolvência. Neste prazo, nunca criaremos riqueza suficiente para a remunerar!

    05 maio 2011

    Ditadura ou solução ?


    “Cachucho não é coisa que me traga a mim mais novidade do que lagostim”. Assim começava o “FMI” de José Mário Branco escrito em 1979 após a primeira passagem da instituição por cá em 1977. Ouvi-o ao vivo no início dos anos 80 num Coliseu, “despejado” pelo autor de uma forma particularmente intensa e dramática. Para uma certa esquerda ainda na ressaca do Novembro de 1975, o FMI se não era o diabo capitalista em pessoa, estava pouco longe. Recordo também a capa, foto acima, do livro de Rui Mateus, “Contos Proibidos”, em que, muito colegialmente sentados numa escada, ele e Mário Soares recebem umas dicas de Helmudt Schmidt, o único que tem papeis nas mãos, na preparação das negociações com o FMI que se aproximavam. Recordo ainda mais recentemente Manuela Ferreira Leite ter dito que para endireitar o país era necessário suspender a democracia por 6 meses.

    E recordo tudo isto ao consultar as 34 páginas do documento elaborado pela troika FMI/BCE/CE. Aproveito para sugerir aos interessados que o consultam na íntegra e no original, em vez de andarem atrás dos títulos que os média vão libertando de uma forma quase avulsa, seguidos dos variados palpites opinatórios amadores ou profissionais da praxe.

    O conteúdo do documento pode ser bom para Portugal, mas para quem nos governou é arrasador. Um mínimo de pudor deveria abster a classe política de se congratular com o que quer que seja. Não está em causa o ser “melhor do que as piores previsões”. Está em causa é como é possível que haja tanto por fazer e que não tenha sido feito até hoje? Depois de tantos anos de apregoada boa governação e contenção, vem uma equipa a Lisboa e em apenas duas semanas e meia detecta e decreta tudo isto?

    Não vislumbro a marca demoníaca imperialista do FMI que nos quer pôr de rastos como a esquerda tanto gosta de anunciar. Muito mais submissão foi e é pedida pelos nossos parceiros europeus ricos, algo fartos de nos pagarem as festas. Não terão a razão toda, mas alguma.

    Este documento se não é um programa de governo completo, é-o pelo menos para uma série de capítulos sensíveis. Como é que nenhum governo nosso e democrático conseguiu avançar com uma boa parte destas medidas antes, apesar de toda a necessidade óbvia e visível? Incompetência, irresponsabilidade, rendição a interesses que não o público ou… porque se o tivessem feito teriam perdido as eleições? De todas as hipóteses, a última é a menos grave, mas façam-me um favor: tenham pudor e não sorriam nem mostrem orgulho com o que temos à nossa frente.

    No fundo, Manuela Ferreira Leite não tinha razão porque errou no prazo. Não vamos ter seis meses mas sim três anos sem que a “democracia” bloqueie as reformas necessárias. Foi preciso termos falido para o conseguirmos, mas esperemos que no fim saiamos melhor. Se aprenderemos ou não, isso já é outra questão.