26 setembro 2011

Gerir as excepções

Não entendo muito de economia mas tenho alguma experiência de análise e desenho de sistemas. E toda a gente com essa experiência sabe que o difícil não é implementar o processo principal, a forma como as coisas correm normalmente. O complicado, e que é até dá bastante trabalho, é imaginar e prever as situações excepcionais e a forma de as gerir. Não importa que a probabilidade seja baixa ou baixíssima. O que pode acontecer acaba sempre por acontecer um dia e se o sistema não o tiver previsto, aterra.

Nesta nossa Europa e neste nosso Euro parece que estamos face a um problema de ter sucedido algo absolutamente imprevisto, não existindo procedimento para lidar com essa excepção. O habitual nesses momentos é assumir que estamos em crise, entrar em gestão de crise e alguém liderar claramente, tomando em devido tempo as decisões necessárias por muito drásticas que sejam, dar o peito às balas e, sobretudo, não assobiar para o lado, especialmente quando se está face a um problema que o tempo não resolve, mas que, pelo contrário, agrava.

Se os líderes e construtores (?) desta Europa não se preocuparam em pensar demasiado em cenários problemáticos isso pode ter sido excesso de optimismo ou... incompetência. Agora, ao fim de todos estes meses, que os actuais continuem como baratas tontas sem verdadeira capacidade de lidar com o problema significa que são intrinsecamente incompetentes ou… excessivamente formatados para o objectivo de ganhar eleições e “liderar” apenas em tempo de bonança.

23 setembro 2011

Cumprir objectivos


Não resisti a colocar aqui o cartoon do Público de hoje que está fantástico. E onde apetece acrescentar a agravante seguinte: no caso dos políticos os objectivos são definidos por eles próprios; nas empresas são mais ou menos negociados, mas há uma intervenção da hierarquia que não é passiva.

Numa fábrica em que 99 pessoas produzem entre 90 e 110 produtos por hora e onde há uma que sistematicamente apenas faz 20, essa pessoa está a mais e de uma forma ou de outra não deve ficar lá. O que recebemos é sempre fruto do que contribuímos e quando se recebe mais do que a contribuição isso é insustentável. Num mundo são isso passaria por enfrentar a questão e encontrar a melhor solução que até pode ser a pessoa em causa sair da empresa. Como não vivemos num mundo “são” pode não ser assim tão simples e podemos ter as 99 pessoas a subsidiarem o desadaptado. Mas como o mundo não é sempre são dos dois lados, também estou a ver alguns patrões a porem o objectivo mínimo em 100 produtos por hora para poderem despedir alegremente metade do pessoal quando lhes apetecer.

22 setembro 2011

A única via é a via única?



Depois tanto terem protestado na oposição, invocando o despropósito do investimento no TGV e depois de terem pomposamente anunciado a respectiva anulação, os actuais governantes passaram em seguida a referir a necessidade de reflectir sobre o assunto e agora parece que estamos em vias de sermos pioneiros mundiais em ter um TGV-QPM (QPM = Que Pára a Meio).

Pode até ser a melhor alternativa na situação actual, mas por favor expliquem com factos e números, pode ser? Tal alteração de postura num assunto desta relevância tem que ser aberta e claramente apresentada e justificada ao país. É um problema de compromissos internacionais, de compromissos contratuais com os construtores/concessionários? Se sim digam-no e quantifiquem por favor quanto perdemos em não fazer e como isso compara com o que perdemos ao fazer. Sim, porque isto de o fazer nesta modalidade de via única deve dar prejuízo pela certa. Qual o nível de serviço possível nesta configuração? É compatível com o necessário para rentabilizar o investimento? É que o “problema” do TGV não acaba no investimento, há a exploração. A título de exemplo, e onde se justifica claramente a alta velocidade, a ordem de grandeza da frequência dos comboios é: Paris – Bruxelas cada meia hora, Paris Londres cada hora, Madrid – Barcelona cada meia hora. Não é um comboio pela manhãzinha e outro à tardinha…

O cenário de investir numa infra-estrutura de alta velocidade em que depois se fazem parar os comboios a meio do percurso, eles ficarem quietinhos à espera que outro passe para arrancarem de novo é tão absurdo que nem sei que diga… E, ainda por cima, é obvio que a médio/curto prazo surgirá a necessidade imperiosa de instalar a segunda via, obra complicada e cara porque a primeira via estará em operação, conduzindo a um custo somado das intervenções faseadas muito mais elevado do que fazer tudo de uma só vez.

(Foto extraída do site da Alstom)

20 setembro 2011

Finalmente !



Finalmente um filme em que valeu a pena o preço do bilhete e a proximidade das pipocas e afins.

O último de Woody Allen conjuga humor e profundidade, ritmo e fotografia. Cada qual face à sua terra/tempo prometidos e à insatisfação crónica do “só estou bem onde não estou”.

Um belíssimo retrato do conflito fundamental entre o pragmático e o poético, entre a realidade e o fantástico e apresentado num pleno de elegância e bom gosto.

19 setembro 2011

Questão de Democracia?

Pedro Passos Coelho disse que a ocultação da dívida na Madeira é grave mas que é o PSD da Madeira e o seu eleitorado quem deve tirar conclusões. Não disse, como a sua antecessora, que a Madeira era um exemplo de um bom governo PSD. No entanto, acho que este problema não pode ser apenas democrático a ser sancionado com o resultado, oxalá negativo, das eleições. Da mesma forma como o resultado das últimas presidenciais não branqueia as suspeitas sobre o benefício indevido que Cavaco Silva terá tido com a SLN/BPN.

Para o eleitorado madeirense, numa perspectiva muita pragmática, esta habilidade de A. João Jardim permitiu trazer para a região mais dinheiro. Serão os princípios de ética e moralidade suficientes para o sancionar como espera Pedro Passos Coelho? Tenho sérias dúvidas.

Tem que haver uma forma clara e expedita de sancionar estas ilegalidades. Se tiverem impacto negativo no eleitorado também não me choca demasiado. A responsabilidade na democracia deve ser a 360º. Duas reflexões finais. O factor tempo é fundamental e se pensarmos que estamos num país que ao fim de uma década ainda não conseguiu colocar na prisão violadores de menores. Do ponto de vista preventivo ou há aqui um problema sistemático de autonomia a mais e/ou fiscalização a menos… ou há outras falhas para lá da original do governo regional.

14 setembro 2011

Há um vírus no ar

Anda por aí um vírus perigoso e parece-me atacar com mais intensidade na Antena 1.
É uma espécie de música portuguesa nova que…

Tem uns imberbes a cantar (quase) que fazem os gatos do telhado parecerem tenores;

Tem umas letras que, pior só ler anúncios classificados, e que fazem o Quim Barreiros parecer um poeta;

A “música”em si dá aquela sensação que não foi acabada, uma coisa assim não maturada – vulgo “aborto”.

Não me perguntem nomes porque não os fixo, mas garanto que é mesmo um vírus mais perigoso do que a simples música pimba que não presumia nada nem tentava enganar ninguém.

11 setembro 2011

A amálgama do pós 11 de Setembro

Pois… eu não gosto de efemérides e até tinha planeado passar ao lado desta, mas não resisti. Sei bem onde estava na altura mas isso interessa pouco, como também sei que a 11/9/2006 estava a apanhar um avião para me instalar de armas e bagagens na Argélia.

Quanto ao de 2001, acho que ele criou/cria muitos equívocos quanto à relação do mundo ocidental com o Islão. Por um lado, uma negativa pela identificação dos atentados com os muçulmanos em geral e subsequente desconfiança e repulsa; por outro lado uma simpatia e compreensão de outra facção para com quem está a ser injustamente ostracizado. Vamos por partes … a Al Qaeda é uma organização que não se pode identificar com a globalidade do Islão. É terrorista como o foram as Brigadas Vermelhas e ainda o é a ETA. A grande maioria dos muçulmanos não se identifica com ela, apesar de não lhes ficar mal uma condenação mais clara e rotunda destes actos. Mas, por muito perigosa que seja a ameaça da Al Qaeda, existe um arsenal de legislação, polícia e tribunais para a combater. Com mais ou menos vítimas a lamentar o desfecho é claro como o foi para as Brigadas Vermelhas e é/será para a ETA.

No entanto, para o Sr Dupont e o Sr Smith o seu problema com o Islão não está nos potenciais atentados da Al Qaeda. Está em um dia, pela evolução demográfica e pelo princípio da democracia serem impedidos de tomar um pastis ou um pint à luz do dia, a menos de x metros da mesquita mais próxima. O Sr Silva ainda não imagina isso…

PS: E rever aqueles momentos com G.W. Bush bloqueado sem saber como reagir após receber a notícia é revelador da capacidade de discernir e agir do homem...

10 setembro 2011

Steve Jobs

Steve Jobs deixou as suas funções executivas na Apple no mês passado, no que será mais do que provavelmente o fim da sua vida profissional, pelo menos, e os comentadores de fim de jogo lá vão dando os seus palpites, comentários e conclusões. Alguns até ousam compará-lo de alguma forma a outra figura de referência contemporânea do mesmo meio: Bill Gates, com a Microsoft suposta inventora do Windows. Aqui, vamos com calma, por favor: Bill Gates também ficou milionário e influenciou a nossa relação com a informática mas não inventou nada: aproveitou bem as oportunidades que teve, e é um mérito, mas não inventou nada e tudo que fez/copiou raramente funcionava bem à primeira. A ideia do Windows (rato mais interface gráfico) nasceu na Xerox e foi pela primeira vez aplicado comercialmente nos Macintosh … da Apple. Quem, como eu, tentou trabalhar, e digo tentar porque não se passava da tentativa, com os primeiros Windows 2.x da Microsoft enquanto uns Macintosh’s ao lado funcionavam perfeitamente, só pode ficar com os cabelos em pé ao ver atribuir a paternidade do Windows à Microsoft … e curiosamente quem está a mudar esse paradigma e a tirar o rato da ligação do operador com a máquina … é a Apple.

O insucesso dos anos 80 e o sucesso dos anos 2000 da Apple/Steve Jobs têm o mesmo fundamento. A preocupação pelo design, elegância, bom gosto, eficácia e prazer de utilização. Só que nos anos 80 poucas empresas ou pessoas tinham o design dos equipamentos informáticos como critério prioritário. O importante era o preço e o desempenho; cor, forma ou tamanho do caixote era irrelevante. Se o Ipod e o Itunes marcaram, foi o Iphone que realmente fez descolar a Apple, oferecendo aos consumidores um brinquedo interessante e bonito que era comprado com a desculpa de ser um telefone. E isso foi tão bem feito e tão bem compreendido que se seguiu o sucesso espectacular do Ipad. Quando foi lançado alguns viam apenas um Iphone grande que nem fazia chamadas… mas no fundo é um brinquedo que o pessoal compra sem precisar da desculpa de ser também um telefone…

08 setembro 2011

Participação de um roubo

Acho curioso averiguar o significado dos nomes próprios: podem ser qualidades físicas ou morais, objectos, animais, plantas, etc. Nalgumas culturas é frequente quando alguém se apresenta, acrescentar de imediato a “tradução” do seu nome. Pelos nossos lados esse significado é frequentemente desconhecido. A larga maioria das vezes o nome é escolhido pela sua sonoridade e estética ou por antecedente familiar ou homónimo célebre e muito raramente pelas qualidades do nome com que gostariam que os filhos se identificassem.

Ao investigar se um nome próprio era masculino ou feminino caí num site que parecia ser precisamente de informação/aconselhamento para futuros pais sobre a origem e o significado dos nomes próprios. Obviamente que testei o meu e, para minha enorme surpresa, deu “homem livre”! Surpresa porque me recordo bem de uma revistinha juvenil, dos tempos em que as recebia, numa secção tipo “Como te chamas”, ter visto lá bem escrito que Carlos vinha do alemão Karl e significava “viril/forte”! E acreditei nisso estes anos todos...

Numa investigação mais aprofundada confirmei a versão do “homem livre” com a variante de apenas “homem” e até podemos assumir que, no fundo, dizer “homem livre” é algo redundante.

Foi um choque: não porque preferisse o “viril” ao “livre”, até pelo contrário, mas por ficar a pensar: então não é que Salazar e os seus censores não queriam que eu soubesse que, pelo nome, eu era um homem livre? É um abuso confiscarem-nos assim a identidade antroponímica! Será que irei necessitar de acompanhamento psicológico para vir a ser plenamente um “homem livre”?

07 setembro 2011

Santa...

Santana Lopes provedor da Santa Casa. Surpresa... estranho?
Que existe em comum entre a pessoa e a instituição?
Ora, é fácil, claro e está mesmo à vista: as 5 primeiras letras.

01 setembro 2011

Os ricos e as taxas

Acabadas as férias nada de especial a anotar. Mesmo ministro cobrador vir anunciar que arranjou mais uma forma de nos meter a mão no bolso não constitui novidade… Ao menos com o Sócrates ainda se enumeravam os PEC … agora já perdemos a conta, é todas as semanas uma nova… já não chega! ?! Como é que se pára isto? Anunciam-se cortes futuros na despesa… e enquanto não se corta, lá se vai cobrando mais de toda a forma e feitio.

Entretanto, os políticos desta desorientada Europa encontraram um chavão populista para animar a malta.” Vamos taxar os ricos!”, que é como que dizia há uns anos: os ricos que paguem a crise. Para já é só anúncio, não sei se concretiza, pelo menos cá em Portugal. Quem tem mais rendimentos (declarados) já paga mais em percentagem e em valor absoluto, naturalmente, mas se é pedido um “esforço adicional”, esse suplemento deve tocar a todos. O argumento de que essas novas taxas podem fazer fugir os capitais… é bem verdade, como também é verdade que aumentar o IRS e reduzir o rendimento disponível pode fazer emigrar gente, subir o IRC pode fazer cancelar investimentos criadores de riqueza e de postos de trabalho e subir o IVA pode proporcionar a organização de excursões a Espanha para encher a despensa, como em tempos se fazia do interior para os hipermercados.

Quanto aos ricos, há ricos e ricos e não me refiro ao nível cultural ou de responsabilidade social. Se alguém colocou tudo o que tinha num projecto arriscado que ao fim de uns anos resultou, que criou postos de trabalho, que desenvolveu conhecimento e que neste momento contribui para o aumento da riqueza do país, não me importo que esteja rico. Agora aqueles que compram acções A ao início da manhã para trocar por B meia hora depois, com a promessa de recomprar à tarde e apostando na expectativa de …. Esses, não são investidores, são especuladores e o enriquecimento por este meio tem que ser travado e taxado. Por falar em acções, ricos e taxar, lembrei-me daqueles papeizinhos a que se chamavam acções da SLN aos quais o Sr Oliveira e Costa atribuía um valor de venda e de compra arbitrário, sem nenhuma sustentação económica subjacente e que enriqueceram muita gente… Esses deviam ser taxados a 100% (é preciso fazer um desenho?).