22 julho 2015

Longe demais?

Quando a designado Estado Islâmico (EI) divulgou o vídeo da bárbara execução de James Foley, criando uma enorme onda de repulsa e de condenação, forçando os EUA e o Ocidente a serem mais ativos contra essa organização, muitos consideraram essa ação como um erro. De fato, se eles tivessem continuado com o seu trabalho sujo matando apenas azeris, curdos, xiitas e quem mais entendessem daqueles lados, o nosso mundo não assistiria com tanta atenção e as opiniões públicas não pressionariam da mesma forma, por muitos milhares que fossem mortos (e que foram).

Para os poderes regionais sunitas, a queda de Al Assad, aliado do Irão, é um “must”. Daí não olharem com muita atenção para as barbaridades do EI e de outros afins. Sem entrar no campo do apoio mais ou menos direto, que é atribuído aos países do golfo, a Turquia parecia fazer vista grossa a muita coisa. Quanto mais não seja, o contrabando de petróleo cujas receitas alimentam o EI, passa certamente por lá e não parece ser tarefa demasiado complicada controlá-lo.

O atentado desta semana em Suruc, na Turquia, matando 32 pessoas, pode ter sido um outro passo a mais, errado, do EI. Isto porque a opinião pública turca reage, naturalmente, e exige do seu governo uma atitude mais firme e mais eficaz de controlo da dita fronteira…. Esperamos que resulte nalguma mudança efetiva.

Não gosto muito de evocar aquela imagem do “não morder na mão que dá a comida”, mas pode ser que depois disto todos entendam: há certos animais que nunca se devem alimentar…


Foto: The Telegraph

17 julho 2015

Socializando…


Hossein Derakhshan foi um dos mais relevantes bloggers iranianos na década passada, tendo supostamente atingido as 20 000 visitas diárias. Acabou por ser preso em 2008 pelas razões que se pode imaginar serem imaginadas pela justiça.


Após 6 anos de prisão sem computador e sem internet foi libertado. Disseram-lhe que tinha que estar nas redes sociais para ter visibilidade. Assim fez, mas desiludiu-se com a nova internet. Diz ele que acabou a “idade dourada” dos blogs. Antes, as pessoas escreviam e liam (liam!!!), discutiam ideias e confrontavam opiniões. Cada qual frequentava os locais que entendia, por sua própria iniciativa e escolha.

Acha o facebook uma espécie de televisão. A maior parte dos utilizadores limita-se a ver o que lhe passa à frente, imagens, pequenas frases e filmes que se lançam automaticamente. Digerem o que lhes é sugerido em grande passividade e, sobretudo, pouco leem. Colocar um simples link para um texto externo quase não tem efeito. O ambiente é muito fechado, sendo difícil num post chamar conteúdos externos variados.

É curiosa a imagem de comparar a internet antiga a uma biblioteca e a atual a um televisor: passar de uma ferramenta de conhecimento e formação para simples entretenimento. De fato, tem sempre muito mais sucesso o filme de um homem a correr em cuecas (aquela coisa do viral…) do que um texto sério, por mais pertinente e bem escrito que esteja.

Em cada casa há espaço para livros e televisor e, no fundo, como a água benta, cada qual toma a quantidade que quiser…

16 julho 2015

Europa na 2

“Borgen”, nos corredores do poder e dos média na democracia dinamarquesa e “Engrenages” no quotidiano do sistema judicial e policial francês. Até mesmo, noutro nível, “Príncipe” na tensão de um enclave europeu “bi-cultural” no norte de África e “Gamorra” na brutalidade da mafia napolitana. A qualidade do enredo e das interpretações não é homogénea, nalguns casos até se suportam dificilmente algumas coisas mal feitas ou forçadas. Além de terem passado na RTP2, têm em comum serem produzidas e filmadas na nossa Europa. Indubitavelmente a dizerem-nos muito mais do que um “CSI” qualquer, mesmo quando criticamos as partes fracas. Mais… ?

13 julho 2015

Para variar, a Letónia


Ainda, por um momento, esqueçamos os malvados alemães e os assustados governos de direita do sul da Europa e pensemos nos países bálticos. Pode ser a Letónia, onde me desloquei algumas vezes em 2011. Tinha entrado em 2009 num programa de assistência e pagava a receita da chamada austeridade, com muito esforço e determinação. Dizem os meus interlocutores que não estava no espírito deles andarem a protestar pelas ruas, daí serem pouco noticiados.

Saídos da esfera soviética e deslumbrados pelas facilidades de um mundo novo, “cresceram” de forma não sustentada até o “estouro” de 2008. Nas viagens de comboio para Daugavpils, a segunda cidade do país, já quase na Bielorrússia, o abandono e as ruínas no interior eram um enorme contraste com os magníficos edifícios de vidro de Riga, construídos nos tempos supostamente áureos.

Ao contrário da previsão do nobel P. Krugmann, a Letónia não foi uma nova Argentina. Fechou o seu programa antecipadamente e voltou a crescer. O nível de desemprego ainda é relativamente elevado e as dificuldades são muitas. Segundo o Eurostat a pensão média na Letónia é de 293 Euros, na Grécia 833. Também não creio que na Letónia existissem 580 categorias profissionais com reformas antecipadas, 55 anos para homens e 50 para mulheres, incluindo cabeleireiros, pelo risco dos produtos químicos manipulados, e apresentadores de televisão, pelo risco dos germes nos microfones.

Qual será a opinião dos Letões sobre o fato de a Grécia a cada 3 anos pedir um novo programa e exigir um perdão da dívida, invocando a solidariedade europeia…?

08 julho 2015

Entre Fajr e Maghreb


Já passaram mais de 16 horas desde o Fajr, a hora das primeiras luzes. Daí até agora, para os crentes muçulmanos, abstinência, incluindo de beber e comer. Houve uma manhã sonolenta e atividade foi acelerando até ao frenesim do fim da tarde, quando todos querem voltar a casa, a tempo... Aproxima-se o Maghreb, a hora do pôr-do-sol e do fim do jejum.

Em ambiente familiar tranquilo ou improvisando em local de trabalho que não possa ser abandonado, todos têm à sua frente o primeiro alimento, esperando o sinal. Na esmagadora maioria dos casos, serão tâmaras. Nesse momento a cidade esvazia-se de forma impressionante. Nada mexe.

Mais tarde será o frenesim. As ruas cheias, as lojas abertas, mesmo as crianças andarão cá fora até tarde … no dia seguinte recomeça.

Foto em Rabat a 1/7/2015

Vaidades (II)


Vaidades (I)

06 julho 2015

Vitória, vitória!

Para os devidos efeitos, informo que realizei um referendo familiar e decidimos por unanimidade deixar de reembolsar o empréstimo da casa. Vou agora mesmo informar os credores desta decisão democrática.

Não é ao banco. Nós com os bancos já não nos entendemos há bastante tempo. É com uns primos ricos que assumiram essa responsabilidade, para a família não ficar mal na praça. Isso, no entanto, é pormenor. O fundamental é que não pagamos, queremos mais e em nossa casa mandamos nós!

03 julho 2015

Queima do gato e espeto do touro

Vejo na comunicação social que as autoridades estão a investigar o episódio do gato quase queimado vivo em Mourão, Vila Flor. Eu acho bem. Sendo coisa que talvez lembre ao Diabo, não deve fazer parte do mundo em que vivemos.

Isto recorda-me algo análogo. Não se passa numa recôndita aldeia de Trás-os-Montes nem é divulgada em vídeos caseiros que depois são higienicamente suprimidos das redes sociais. Lembrei-me daquela coisa chamada tourada, que se passa em distintas cidades do país, com larga e sofisticada audiência e é transmitida pela televisão sem restrições. Não se aplicaria a mesma lei? Pelo princípio de que a justiça é cega, a aplicação da legislação deveria ser indiferente à notoriedade do local e à qualidade dos intervenientes. De realçar ainda que o gato em causa sobreviveu sem muitas sequelas, ao contrário dos pobres touros espetados barbaramente nas touradas.

Senhoras autoridades, vamos aplicar a mesma lei às touradas? Acredito que, apesar de extensa, nem será difícil fazer a lista das pessoas envolvidas.

02 julho 2015

Amplitude democrática

Continuam a surpreender-me a amplitude de alguns comentários sobre a legitimidade democrática das reivindicações gregas. Se um partido em Portugal propuser 2000 Euros de salário mínimo e reforma aos 55 anos, ganha as eleições. A seguir, podemos ir legitimamente pedir aos alemães que nos paguem?

Se a Alemanha convocar um referendo para saber se os seus contribuintes aceitam contribuir para um novo resgate à Grécia, que dirão os que estão hoje entusiasmados com a coragem de se convocar um referendo na Grécia? Já agora, convém recordar que segundo relatórios oficiais recentes, haverá cerca de 12.5 milhões de alemães a viver abaixo do limiar da pobreza, o número mais elevado após a reunificação.

A vida não é fácil e não se resolve berrando pelo dinheiro dos outros.

01 julho 2015

O dia de semear a bonança?


No mesmo dia do atentado na praia de Sousse, há outro menos mediatizado mas não de somenos importância, e não me refiro ao de França.

O atentado contra a mesquita xiita no Kuwait demonstra que mesmo as monarquias do Golfo Pérsico não estão a salvo. A ser verdade o que alguns dizem, que estes regimes apoiam de uma forma mais ou menos direta uma versão mais radical do islão, que com alguma facilidade degenera nestas catástrofes, estarão a sofrer um efeito boomerang. Não sei se é verdade, mas sendo indiscutível que quem semeia ventos, colhe tempestades, talvez este atentado venha evidenciar a necessidade de semear aquilo que há-de trazer a bonança.

Haja discernimento para o entender e determinação para o realizar.