08 junho 2009

O tempo dos recolectores

Há muito, muito, tempo éramos recolectores. Vivíamos do que caçávamos e colhíamos na natureza. Pode-se imaginar numa dada fase de organização a existência de um gestor do pomar, preocupado com a sustentabilidade, que limitasse quantas maçãs cada um podia colher por dia.
Hoje não vivemos nesse tempo, as maçãs vêm de macieiras que têm que ser plantadas, regadas e tratadas. E não é novidade nenhuma que a produção actual até está nitidamente abaixo do habitual. Infelizmente a “esquerda pura” pensa que a culpa é do gestor do pomar que não lhes está a dar as maçãs a que têm direito e toca a vir protestar para a rua. Há gente especialmente sensível a este assunto. Por exemplo aqueles que não “progridem na carreira”, uma coisa má e só muito ligeiramente melhor do que aquela que sentem os que vêem a carreira não parada mas sim destruída e as expectativas próximas de zero, num contexto e numa idade em que não é nada fácil recomeçar.

Por isso, protestar a pedir as maçãs em vez de protestar contra os desperdícios e discutir a manutenção dos direitos em vez de se falar na melhoria da plantação, tratamento e rega das macieiras é... ir na direcção do desastre.

Enviar mais um ou menos um deputado do BE para o Parlamento Europeu não aquece nem arrefece muita coisa, para lá dos egos e das manobras palacianas nos corredores dos partidos. Espero é que nas legislativas os critérios dos eleitores sejam outros, porque, senão, estes mais de 20% de esquerda pura são muito mau sinal. Um novo gestor do pomar generoso, socialmente sensível, que sossegue quem anda aí pela rua a berrar pelas suas maçãs, desligando-se da produção das macieiras, só tem uma consequência: pedir emprestado por conta das próximas gerações, enquanto houver quem empreste. E o respeito que nos merecem as próximas gerações não nos deveria permitir este “gastar por conta”.

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