29 novembro 2021

A Grande Guerra


Por um destes dias de novembro celebrou-se mais um aniversário do armistício da Grande Guerra de 1914-18. Para muitos tem como particularidade ter sido uma enorme barbaridade começada por um simples episódio nos Balcãs, em Sarajevo, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e a guerra das trincheiras, da lama e dos gases.

Não tem/teve a projeção hollywoodesca da seguinte, com a barbárie do monstro nazi, do holocausto, nem dos bombardeamentos massivos de alvos civis, mas a I Guerra Mundial tem algo que arrepia.

O assassinato de Francisco Fernando acendeu o rastilho do barril de pólvora e que, se não fosse por aí, certamente por outro lado teria sido ateado, mas é arrepiante a desumanização do ser humano, a banalidade das baixas, que os seus incompetentes condutores demonstraram. Verdun, Somme, Ypres e outros são apenas nomes de locais em que uma tentativa de avançar algumas centenas de metros, significava milhares de mortos, por vezes num único dia e tantas vezes para nada.

Certo que a seguinte também teve movimentos desesperados muito pesados, com muitas baixas, mas penso que com bastante menos barbaridade em causa própria. A facilidade com que os estrategas da Grande Guerra repetiam sempre as mesmas manobras infrutíferas de tentar furar a linha da frente, tantas vezes com milhares de baixas diárias do próprio lado é arrepiante. Aliás o próprio conceito de “baixa” tem algo de curioso. É um número que deixou de estar disponível. Se morto, ferido por uns tempos ou estropiado para sempre, é irrelevante e equivalente, do ponto de vista da “estratégia”.

Os tanques e os aviões mudaram muito e mais do que isso mudou o mundo. Acho que hoje, pelo menos na Europa, não se aceitariam 4 anos deste tipo de ofensivas e chacinas. Evoluímos… ainda bem!

20 outubro 2021

Prioridades e critérios no SNS


Os hospitais públicos do SNS têm previsto um enquadramento e uma classificação em função de vários critérios como os serviços médico-cirúrgicos disponibilizados e, particularmente, a população que servem. O CHVNGE - Centro Hospitalar Vila Nova Gaia Espinho serve uma população direta de 350.000, indireta de 700.000 e em áreas específicas de 1,2 milhões habitantes, cumprindo todos os critérios do nível III há 20 anos.

A consequência da reclassificação é naturalmente dotar a unidade de meios materiais e humanos suficientes para atender às necessidades. Porque não foi ainda reclassificado não se sabe.

O mais curioso é que após uma visita ao CHVNGE do primeiro-ministro, ministra da Saúde e presidente da Câmara de Gaia á Instituição em junho deste ano, estes terão prometido a respetiva reclassificação para breve. A mesma acabou por ser concretizada a 1 julho, mas não integralmente. Abrangeu apenas os vencimentos dos gestores, que passaram a ser remunerados em função da importância efetiva do hospital.

Quanto aos 1,2 milhões de cidadãos que necessitem de acudir ao CHVNGE, podem ter o consolo de saber que a gestão do mesmo é reconhecida de topo. Quantos aos meios necessários, paciência…

21 setembro 2021

Sobre Homens e Humanidade


É relativamente fácil elogiar os mortos. São previsíveis e não há ricochete possível. Sobre os elogios póstumos a Jorge Sampaio, julgo, no entanto, que muitos não teriam tido dificuldade em o ter dito em vida do mesmo, sem receio de surpresas ou de golpes baixos. O Presidente da República, dentro dos seus defeitos e qualidades, incluía elevação e respeito por todos.

Jorge Sampaio não teria sido provavelmente um bom Primeiro-Ministro. Àquela do “Há vida para além do déficit” faltava “Sim, há, e chama-se falência e troika”. Como qualquer humilde contabilista doméstico sabe, gastar mais do que se ganha, acaba mal.

Apesar disso, há um nível de respeito por todos e de todos para ele, que não encontramos na geração seguinte dos, chamemos-lhe, líderes partidários, que nem dentro do mesmo partido se respeitam. Será que um ambiente de repressão, censura e de luta pela liberdade gera personalidades mais ricas e humanas do que a luta pela liderança na juventude partidária? Pois… E a solução passará por um novo período de ausência de liberdade?

Apesar de todos os sinais em contrário e de toda a pobreza intelectual e humana, carência de dignidade e princípios que vemos nas estrelas (?) ascendentes que nos anunciam, quero acreditar que não. Quero acreditar que o respeito por todas as opiniões e posições é e deverá continuar a ser um alicerce e pilar deste edifício em que vivemos. Falta sempre juntar a capacidade de gerar riqueza e de sustentabilidade económica, social e ambiental. Ter que passar por novo período de trevas para tal (re)afirmação seria triste.

20 agosto 2021

Tinha que ser assim?


 A imagem das centenas de afegãos partindo no avião militar americano vai certamente ficar para a história. Este retrato tem dois tempos. Um é o da transição catastrófica que obviamente não tinha que ser assim e que demonstrou uma enorme impreparação e capacidade de previsão por parte de quem por lá andava há 20 anos, aparentemente com visão exclusiva de drone.

O outro tempo é o que agora começa e todo o sofrimento e humilhação que sofrerão daqui para a frente afegãos e afegãs, elas muito mais do que eles. Para os meninos e meninas excitados com as desventuras do imperialismo ianque, consultem a história e respeitem quem sofre.

Para a história ficará também o discurso de J. Biden de que aquela guerra não era a deles, que só lá tinham ido neutralizar uma base terrorista e, quanto a isso, missão cumprida. Todas as promessas e expetativas legitimas criadas aos afegãos e afegãs… “não é o nosso problema”. De um cinismo revoltante. Pode ser a mais pura verdade, mas a imagem dos EUA como, apesar de tudo, patrocinadores e garantes de um mundo livre e justo morreu e não foi Trump que o matou, quem diria…

Tinha que ser assim? 20 anos de banho de mundo livre, ao menos muito melhor do que o anterior, não podiam ter deixado uma marca um pouco mais perene?

O que faltou/falta para consolidar o respeito básico pelos direitos humanos neste país e noutros? Quando se vê a enorme quantidade de gente que desses países quer migrar para o “Ocidente”, o que falta para nas suas pátrias se conseguir implementar e consolidar um regime “Ocidental”. Certamente algo mais do USDs (e rublos) e drones (e tanques). A questão é toda … evolução cultural, sem preconceitos, remorsos, ignorância nem arrogância. Demora tempo, sim. Mais de 20 anos, não sei. Desistir é que não serve.



11 agosto 2021

Fim (do desenvolvimento?) dos motores de combustão


Há cerca de 4 anos, Carlos Tavares, na altura com as rédeas da PSA, Opel e Vauxhall, surpreendia meio mundo no salão de Frankfurt ao afirmar que evoluir para exclusivamente veículos elétricos, era um sinal de que “o mundo está louco” e que os políticos estavam a tomar decisões sem pensar em todas as consequências e sem equacionar toda a preparação que tal mudança exige.

Recentemente, agora acrescentadas a Fiat e a Chrysler na Stellantis (estes novis grupis têm sempre nomis assim sonantis), veio dizer que o grupo vai mergulhar a fundo nos eletrões, a DS sem motores de combustão em 2024, a Alfa em 2027, a Opel em 2028 e a Fiat a 2030. É certo que a “Europa” decretou o fim dos motores de combustão para 2035 e nestas coisas é inglório tentar ser salmão e nadar contra a corrente.

É também certo que à velocidade a que estas tecnologias evoluem, muito pode acontecer até deixarmos de ver pistões nestas marcas, mas isto parece-me um pouco pôr o carro à frente dos bois. Se na bela Europa ainda não se consegue garantir toda a mobilidade de forma elétrica, que dizer do resto do mundo onde muitas vezes o fornecimento de energia elétrica para necessidades básicas não está assegurado, nem ninguém pode prever se/quando ficará resolvido.

E é ainda certo que, para os pequenos citadinos, o elétrico carregado à noite faz todo o sentido. Mas, por curiosidade, ao consultar a página da Fiat, um grande especialista de pequenos carros dentro do grupo Stellantis, encontrei um Fiat Panda (até com um toquezinho de hibridação), desde 11 470 Eur e o mais barato do outro lado que vi foi o novo 500 Berlina Action… desde 23 800 Eur. Uma certa diferença. Quando não houver mais pistões, o Panda elétrico ou o seu sucessor vai andar porque preço? Em termos de custo total de utilização, pode-se acrescentar que o Panda atual tem um tempo de vida, custo de manutenção e desvalorização bem balizados, enquanto do outro lado, a bateria… traz algumas incógnitas…

Daqui para a frente só dá para especular, mas palpita-me que poderão eventualmente aliviar os apertos progressivos às emissões dos motores de combustão. - Se são para acabar, não nos peçam para continuar a investir em novas gerações de motores Euro X+1 !

E ainda, a Alemanha negocia com a Rússia a construção de uma novíssima conduta de gaz natural… será para “descarbonizar” a mobilidade… ou isso!

E ainda, como reagirá o nosso orçamento de Estado ao fim dos impostos sobre combustíveis? Se já na aflição atual eles não largam nem um cêntimo e preferem legislar sobre as margens … dos outros. Logo se verá, não é?

07 agosto 2021

A maldição da bazuca?


Fala-se em “maldição do petróleo” para descrever situações concretas de países que, supostamente abençoados por largos e fastos recursos naturais, acabam por comprometer o seu desenvolvimento a prazo e a criação de riqueza e conhecimento de forma sustentada, soçobrando no fácil vem/fácil vai (a ausência de dificuldades não aguça o engenho) e com todo um rol de más práticas e de irresponsabilidade, eventualmente criminais, na gestão da riqueza que chega sem esforço.

Felizmente Portugal não tem recursos naturais próprios, mas talvez desde a pimenta da India e do ouro do Brasil que criamos um pouco o hábito de gastar sem ter que nos esforçar muito em criar. A questão neste momento não é, no entanto, atirar as culpas a D. João II. A questão é que a famosa bazuca europeia, que se já pode começar a ir buscar ao banco, mesmo sem kalachnikov, é mais um dinheiro fácil que corre sérios riscos de partir de forma fácil.

Independentemente de alguma utilização racional, séria e geradora de riqueza sustentável, quase apetece dizer… deixemo-nos de viver de donativos e passemos a fazer pela vida com as nossas próprias mãos e cabeça. O histórico da procurada e falhada convergência europeia sugere que a receita não funcionou como se esperava. Fazer o mesmo, esperando resultado diferente, não é inteligente.

06 agosto 2021

Talibans e o resto


 Em 2001, os EUA entraram no Afeganistão para controlar o país que albergava os terroristas do 11/9. Hoje, 20 anos depois, deitam a toalha ao chão e retiram. Os ditos talibans, que já antes tinham dado água pelas longas barbas à URSS, avançam rapidamente, retomando o controlo de grandes partes do país, deixando em maus lençóis todos os que de uma forma ou de outra colaboram com os EUA e acreditaram numa sociedade mais aberta. Muito especial e dramaticamente as mulheres.

Por muito profundas que sejam as raízes tribais desse movimento, a sua eficácia e subsistência não depende apenas dos calhaus da montanha. Ao que parece é/foi o Paquistão, ali ao lado, que de uma forma mais ou menos assumida lhes serviu de apoio. Um bocadinho acima do mesmo lado, está a zona problemática da China, dos uigures, onde existem movimentos terroristas, ETIM e outros, que parecem gozar de algumas facilidades no Paquistão e nas zonas controladas pelos Talibans.

A China tem interesse no Paquistão, o corredor até ao Índico da sua BRI atravessa todo o país. Os terroristas uigures atacam aqui interesses chineses e estes puxam as orelhas aos paquistaneses.

Um destes dias uma comitiva taliban foi recebida oficialmente em Tianjin (foto) e um dos objetivos, teoricamente alcançado, foi de obter um compromisso da parte dos novos futuros líderes afegãos em como deixariam de apoiar os separatistas uigures. Quem conhece o terreno, o histórico e as culturas tem dúvidas de que a prática corresponda.

Entretanto, há gente no Afeganistão a voltar às trevas.

Sem querer particularizar excessivamente nos atores concretos desta realpolitik, é uma vergonha para a humanidade assistirmos a estes retrocessos brutais nos direitos humanos, caucionados por países e regimes representados nas instituições internacionais e supostamente comprometidos com os princípios básicos de respeito por esses direitos humanos. Seria mais útil e mais interessante que a opinião pública se interessasse por isto e deixasse o Vasco da Gama em paz.

17 julho 2021

Mau ambiente


Escassas semanas após o atropelamento mortal de um trabalhador numa autoestrada pela viatura de um ministro, em circunstâncias ainda objeto de inquérito (que demora a ver se esquece?), mas onde a velocidade parece ter sido tudo menos razoável…

Escassas semanas depois, outro ministro é apanhado a circular alegremente a 160 km/h em estrada nacional e a 200 km/h em autoestrada.

Inquirido sobre o fato, o ministro afirma não ter “qualquer memória de os factos relatados terem sucedido”. É preciso ter muita insensibilidade/amnésia para não se aperceber/recordar de circular a 160 km/h numa estrada nacional. E, se isso aconteceu, não lhe ocorreu ir inquirir o motorista? Não lhe ocorreu esclarecer se havia motivos válidos para a pressa? Não lhe ocorreu que em termos de impacto ambiental, o seu pelouro, não é bom exemplo?  Apenas lhe ocorreu dizer que vai “estar mais atento”. Nós continuamos calmos e serenos e eles continuam a queixarem-se do crescimento dos populismos.

14 julho 2021

A Cresap, escolher ou não escolher


No que seria digno da mais bananeira das repúblicas, leio que numa enorme maioria dos processos de seleção para cargos superiores na função pública é escolhido o previamente escolhido, que ocupava já o lugar provisoriamente, em regime de substituição, sem concurso, sendo que a experiência acumulada nesse período é determinante para ficar em primeiro lugar na avaliação. A sério, não há um mínimo de vergonha nem de decência?

Tenho uma sugestão. Porque não impedir a candidatura a quem ocupou o cargo interinamente, por nomeação, sem escrutínio nem avaliação aberta? Parece-me uma eficaz forma de cortar o mal pela raiz. Haja vontade! Há vontade? O crescimento dos populismos é um problema?

13 julho 2021

Florentino Ariza


Quis o azar ou a sorte que um destes dias me tenha passado à frente dos olhos uma versão cinematográfica do “Amor nos tempos de cólera” do imortal Garcia Marquez, um dos destaques da minha biblioteca, um daqueles autores que cabe nos dedos de uma mão do topo das minhas preferências.

O filme, entendo que bem feito e agradável de ver, não transmite a intensidade, a exuberância e o génio narrativo de Gabo, mas isso seria provavelmente missão impossível. O enredo está lá e no final reencontramos algo de único e de todos na figura de Florentino Ariza, que espera determinado mais de 50 anos para atingir o seu sonho, neste caso o amor de Fermina.

Acho que um bom livro se pode ler de trás para a frente e também, por vezes, para o lado. E esta determinação em atingir algo, custe o que custar, demore o que tive que demorar é um desígnio que pode não ser exclusivo do amor. Recordo-me, por exemplo, do Quixotesco “sonhar o sonho impossível” de Jacques Brel, não desconsiderando obviamente o original cavaleiro da triste figura.

Será patético e absurdo passar a vida na esperança de um improvável que apenas parece viável ao próprio? Será um desperdício? Talvez sim, talvez não. A ânsia e a busca da beleza, da verdade, da perfeição são uma excelente melodia para o despertador matinal.

Se para a persistência resultar e se atingir o supremo desígnio, é necessário declarar uma situação de cólera e colocar um pequeno mundo em quarentena é outra questão. Há doenças e doenças.

11 julho 2021

Que grande surpresa, quem diria!?


O futebol profissional, tendo como base uma modalidade desportiva, é hoje um espetáculo que faz mover muitos milhões de fundos de forma pouco transparente, para lá do deprimente nível dos debates que proporciona. Para quem estiver minimamente atento, não faltam indícios de falta de higiene no meio, em diversas latitudes e várias cores de camisola.

Dificilmente os problemas de Luis Filipe Vieira com a justiça podem ser uma grande surpresa, atendendo ao meio em geral e ao personagem em particular. Até um marciano com escassas semanas de permanência no planeta não se espantaria. Infelizmente a tentação de aparecer na tribuna deste circo, qual imperador romano, parece levar o discernimento de alguns políticos abaixo do de um marciano recém-chegado.

Algo de novo neste processo é confirmar-se que o Novo Banco não foi assim tão novo de espírito, herdando muitos defeitos do seu progenitor, para mal da nossa saúde económica.

Para quem sabe quando a vida custa, estes milhões tresmalhados escandalizam e revoltam. Não se sai daqui com um “bola para a frente”, será necessário antes um “bola fora”. Fiscalizem eficazmente as origens e os circuitos desses milhões e depois talvez volte a haver desporto.

08 julho 2021

Essa coisa da transição energética e da energia limpa


A chamada transição energética está eleita como um grande desígnio estratégico para a sustentabilidade do planeta, entrou em inúmeras agendas e ganhou foro de título de ministério. De forma indiscutível, do lado errado da imagem está a produção de energia elétrica a partir de combustíveis fosseis, geradores de CO2, não renováveis e do lado correto estão as energias renováveis: hídricas, eólicas, solares e algo mais…

Na transposição deste contexto para Portugal, produzimos cerca de 2/3 do lado bom e 1/3 do lado mau. Será necessário reduzir de 1/3 o consumo total ou aumentar em 50% o lado bom.

Para a Europa, há uma diferença importante. Em grandes números, o lado bom é 1/3; o lado mau outro 1/3 e o 1/3 que falta … é a energia nuclear. Sendo certo que o nuclear não produz CO2, não é certamente renovável e é preciso bastante boa vontade para a considerar uma energia limpa. Haverá um cenário em que o nuclear é bom, equivalente ao português 2/3 bom – 1/3 mau e outro em que o nuclear é mau e deve sair. Neste caso a Europa está a muitas milhas (KWh) de fazer uma transição energética para energias limpas, mesmo limpas.

Curiosamente não vejo claramente assumido qual o cenário oficial em vigor, mas se pensarmos que, por exemplo, em França, o nuclear representa 70% da produção de eletricidade, está bom de ver de que lado ele vai cair…

Entretanto, conta-se ao pessoal que para salvar os ursos polares, basta comprar um SUV de potencia, peso e consumo acima do “necessário para as necessidades”, independentemente da fonte de energia que o faz mover e da forma como é utilizado. Obviamente que a sustentabilidade do planeta passa por outra atitude. 

06 julho 2021

Entre peão, cavalo e rei


Os problemas que Joe Berardo está a encontrar com a justiça, fazem suspirar um “mais vale tarde do que nunca”. Poucos terão simpatia pelo senhor, especialmente depois da arrogância que ele demonstrou.

Ele está a ser questionado, se bem entendo, pelas formas “ardilosas” com que se esquivou a responder pelos empréstimos recebidos. Aqui estará a questão penal. No entanto, esta história, desde a sua génese, é uma crónica de uns calotes anunciados, dentro de um jogo de xadrez onde ele não foi simples peão, também não foi o rei, eventualmente cavalo.

Não vale a pena reenumerar a falta de razoabilidade económica e o risco inaceitável destes empréstimos da CGD, feitos a ele e a outros cavalos, para controlo do BCP. Um empréstimo normal assenta em garantias sólidas e tem subjacente uma rentabilidade que permita o reembolso com juros. É absurdo imaginar as ações do BCP na altura a cumprirem as duas condições.

O que é certo é que este jogo de xadrez custou milhares de milhões de euros ao contribuinte, estupidamente assim queimados, em vez de terem contribuído para financiar criação de riqueza.

Este jogo de xadrez teve um rei, José Sócrates, que não resistiu politicamente ao descalabro; penalmente ainda estamos para ver. De resto, os seus bispos e torres ainda por cá andam em funções e sobre estes desmandos e desastres nada fizeram, nada viram.

Se hoje já podemos ir ao banco, seria bom que o resultado fosse diferente.

04 julho 2021

Diferenças culturais


Em março de 2017 esta imagem corria mundo, onde um deputado inglês tenta com as suas próprias mãos salvar a vida de um polícia apunhalado num atentado, num cenário não isento de perigo. Toda a gente achou muito bem.

Em junho de 2021, noutro país, noutra cultura, um ministro está envolvido num acidente mortal, com eventual responsabilidade indireta mesma, caso a velocidade tenha sido determinante e tenha sido ele a solicitá-la. Esconde-se, pede ao staff para enviar as suas condolências à família e atira a culpa para a vítima. Duas semanas depois recusa-se a precisar a velocidade a que circulava. Toda a gente achou mal?... Alto! Antes demais depende da coincidência da cor política do senhor com a de quem avalia. 

Diferenças culturais, que naturalmente se refletem noutras diferenças de desenvolvimento

02 julho 2021

Uma certa (falta de) cultura


A forma como quem nos governa está a tratar a questão do atropelamento mortal de um trabalhador na A6 pelo veículo onde seguia o ministro da Administração Interna é sintomático da falta de cultura de responsabilização que por aqui grassa.

Trata-se de uma viatura do Estado e em deslocação oficial. O mais elementar respeito pelos cidadãos em geral e pela vítima em particular obrigaria a uma imediata e completa clarificação. A que velocidade circulava, porquê eventualmente acima dos limites legais, havia ou não sinalização. Nunca deveríamos estar ainda hoje a especular sobre o que se passou, a partir de uma primeira reação telegráfica e desresponsabilizadora de que não havia sinalização de trabalhos e a culpa seria do trabalhador que se colocou à frente do carro.

Não é coisa rara ver passar uns veículos importantes, de pirilampo excitado. Os senhores VIP não conseguem organizar as suas agendas e deslocarem-se dentro dos limites legais e de segurança, como um normal cidadão é obrigado a fazer?  Precisam de circular como se fossem socorrer uma vítima urgente … ou provocá-la?

E enquanto acharmos que a avaliação de uma situação destas entra dentro de uma lógica tribal, dependendo da cor do ministro e não de Responsabilidade Cívica e Política… continuaremos subdesenvolvidos e eles continuarão a rir, independentemente da cor em causa.