24 junho 2019

Coisas de Raças !?


Aparentemente foi decidido que nos próximos Censos não será incluída uma questão sobre a origem étnico racial da população. Aqueles que são contra a discriminação racista estão revoltados. Eu tenho muita dificuldade em compartimentar a humanidade em raças e julgava mesmo que no século XXI essa tentativa de divisão, sem base científica, já não deveria sequer existir. Atentemos à segmentação sugerida:

— Branco/Português branco/De origem europeia
— Negro/Português negro/Afro-descendente/De origem africana
— Asiático/Português de origem asiática/De origem asiática
— Cigano/Português cigano/Roma.

Provavelmente que alguns/muitos não teriam grande dificuldade em escolher onde colocar a cruzinha, mas… os de origem mista, de pai negro vindo de Angola e mãe branca nascida em Bragança? E os berberes do norte de África que podem ter a pele mais branca do que a maioria dos portugueses de gema? E a Ásia, onde começa – um libanês não será mais próximo da tal dita suposta raça europeia do que da chinesa? E os índios e seus descendentes? E desde quando cigano é uma raça – não será antes uma cultura/modelo social? 

Desculpem lá, mas esta coisa de querer saber quantos brancos, pretos e amarelos há por aqui, esquecendo os vermelhos e acrescentando a cultura cigana porque fica bem, parece-me caricatural, redutor e retrógrado. Tentar segmentar a humanidade em função do pantone da pele, diâmetro do crânio ou grossura do nariz é… o princípio do racismo.

05 junho 2019

E acabar de vez com o Siresp?


Quando inicialmente o Siresp foi pensado poderia fazer sentido construir uma infraestrutura dedicada para aquelas funções, com aquela tecnologia. Na altura em que foi finalmente contratado e implementado, haveria já muitas dúvidas sobre a pertinência dessa opção e passemos ao lado da atipicidade do processo do concurso, com uma única proposta recebida, e o ziguezague da adjudicação/anulação/readjudicação.

Nas tragédias de 2017 ficou patente que o sistema tinha bastantes deficiências e limitações. Que para lá das atipicidades do negócio era necessário e fundamental que funcionasse mesmo e bem. Daí para cá muito se fala em investir/gastar dinheiro para melhorar o seu desempenho e disponibilidade.

Se há 15 anos era questionável a necessidade de construir uma rede dedicada, hoje, com o enorme desenvolvimento posterior das redes móveis, dúvidas não há. Parece-me que por mais euros que lá se coloquem, nunca fica resolvido o problema da obsolescência tecnológica e dos custos crescentes que ela acarreta. Não fará mais sentido acabar de vez com uma coisa que, ainda por cima, já nasceu velha?


- Incluindo versão impressa no "Público" de hoje.

04 junho 2019

O silêncio

O silêncio de uma manhã pode não ser de morte. Depois do silêncio nasce o novo, vem a notícia. 30 anos. Depois do silêncio não pode ficar outro silêncio. Pelos silenciados definitivamente no momento, pelos silenciados continuamente no tempo e pelos silenciados na ignorância dos fatos apagados da história que lhes ensinam.

Um momento de não silêncio pelo que vale a pena noticiar, uma homenagem possível aos silenciados. Há 30 anos.

30 maio 2019

Enquanto eram parafusos…


Tempos houve em que o antigo império do meio, começou a fazer parafusos. Eram baratos, o controlo de qualidade um desafio, mas quando os senhores que sabiam bem de parafusos lá se instalaram, as coisas ficaram melhor organizadas e evoluíram. Hoje é muito mais do que parafusos e já se dispensam senhores de fora para muitas competências.

Nenhum equipamento conectado é uma ilha, havendo cada vez mais coisas que se conectam e sendo cada vez mais fácil fazê-lo. Uma “coisa conectada”, seja um telemóvel, um automóvel, um frigorifico ou uma casa, tem uma ponte e uma porta de entrada para o mundo exterior. E aqui não tenho dúvidas… garantias de inviolabilidade não há. É apenas questão de esforço e habilidade.

Sempre, e hoje ainda mais, a informação é fundamental, a informação é poder. E aqui também não tenho dúvidas … poucos ou pouquíssimos resistirão à tentação de aspirar toda a informação a que tenham acesso, caso isso lhes traga alguma vantagem. Sabemos que cada passo nosso de cada dia é aspirado por quem saber o que somos, para depois vender essa informação a quem quiser comprar, servindo tanto para nos impingir bugigangas como propaganda política.

Na atual crise EUA – China, a separação entre a Google e a Huwaei é a crónica de um divórcio anunciado. Quem viaja à China, já sabe que Google, e outros, lá não existem por questões de segurança nacional. As diferentes ambições e projetos de sociedade tornam inevitáveis o estalar desta desconfiança, que, recorde-se, é recíproca.

Assim, está em curso a construção uma nova cortina de ferro, que não sendo física, não é menos significativa. Hoje o ecossistema da internet na China é já substancialmente diferente do ocidental. A continuar por este caminho, atingindo as bases de hw e sistemas operativos, o mundo dos sistemas de informação vai mesmo partir-se em dois e anuncia-se uma batalha feroz pelo controlo de territórios, da mesma forma como durante a guerra fria, as superpotências disputavam o controlo de países terceiros.

Para lá dos estragos imediatos que a perda da concorrência e redução de escala provocarão, fica uma questão especulativa. Até que ponto o ocidente será competitivo sem poder contar com as bases de produção e o mercado na China e como esta reagirá a não poder aceder à evolução e a inovação tecnológica ocidental e respetivo mercado. Não necessariamente quem ganha, mas quem perderá menos?

16 maio 2019

Bacalhoa basta!


Há cerca de dois meses atrás, personalidades como George Clooney e Elton John apelaram ao boicote dos hotéis e outros investimentos que o bárbaro e milionário sultão do Brunei tem neste nosso mundo civilizado, na sequência da brutal legislação aprovada para vigorar naquele canto longínquo deste mundo e não me perguntem por quem os sinos dobram. Acho bem e muita gente achou bem, considerando que o fundo da questão ia para além dos empregos diretos, diretamente ameaçados.

Bom, Portugal não é o Brunei e… outras analogias mais não marcham, mas face à lata descarada do ainda comendador, parece-me obviamente lógico e oportuno apelar, como outros já o fizeram, a que mais nenhum euro e cêntimo entrem na conta daquela ….. (pessoa?)

Ok. Está bem. Ele é apenas um. Alguns dos outros que hoje se indignam com o desplante do indivíduo foram coniventes no passado. Mas, ok, por algum lado é preciso começar. O importante é começar!

PS: Parece que além da marca JP, Bacalhoa, há a Aliança e a Quinta do Carmo. Cada qual verifique como entender.

28 abril 2019

Sagrado ou mais?


Começo com uma declaração de interesse: sou agnóstico de matriz cultural cristã. Não possuo a tal fé, mas nascido e criado em meio católico, não sou indiferente nem estranho aos seus valores. A tragédia do incêndio na Notre Dame de Paris faz-nos recordar isso. Até que ponto as igrejas, mosteiros e catedrais são nossos e defenidores da nossa identidade.

Recordo-me de há uns anos, na discussão sobre a preambulo da chamada Constituição Europeia, muito se polemizou com a herança e a influencia cultural cristã na História deste continente. Na altura manifestei-me contra a referência, mas, e esta é que é esta, ela existe, mesmo que não esteja escrita e evidenciada em tratados.

Não, não está certo esterilizar o significado das catedrais a simples monumentos históricos; não, também não me parece certo acantonar a sua importância a templos, que só falam aos seus crentes. Bem ou mal, para mim mais bem do que mal, há algo que se sente nestes lugares e que transcende a simples dimensão de um lugar de um culto. Talvez fosse interessante que os seus guardiões vissem este fenómeno mais como uma riqueza do que uma profanação.

Não está em causa especialmente a espetacularidade de, por exemplo, os telhados de uma catedral gótica, mas mais a beleza tranquila de uma igreja cisterciense. Estes locais falam-nos.

O incêndio também nos disse e recordou a finitude, mesmo da pedra e da madeira secular. Que fique essa lição…

25 abril 2019

Abril, falta ou chega ?

Numa dada fase da minha adolescência, não muito longe de 1974, eu não tinha muita paciência para ouvir falar de glórias passadas e concretamente do período áureo da nossa História, o dos Descobrimentos, ou Navegações, ou o que quer que lhe queiram hoje chamar.

Porquê? Porque era um exagero, na minha perspetiva, bater e rebater naquela tecla, por muito brilhante que tivesse sido. “Já fomos grandes, havemos de reencontrar as glórias passadas” (eventualmente numa manhã de nevoeiro…). Falar mais do passado do que olhar para o futuro e agir no presente não é bom remédio para nada.

Hoje, ao ver recordado e celebrado este dia de 1974, fico contaminado com o mesmo sentimento. Sim foi um grande momento, emocionante de enorme alegria e esperança, indiscutivelmente há claramente no país um antes e um depois, mas … já chega. Sem desvalorizar a data, já chega de apelar ao espírito de Abril como fármaco para tratar os males atuais.

Sabemos que, se na manhã do 25 o sentimento no país não era uníssono, mas quase, também sabemos que do 26 para a frente, quando foi preciso fazer, as divergências foram enormes e o perigo de entrar em caminhos perigosos bem real.

Quando ouço os protagonistas atuais, que diariamente nos brindam com atos desonestos, displicentes, incompetentes e a lista continuaria, subiram a um púlpito e falar bonito sobre o 25 de Abril, a minha reflexão é: e se deixasses de tretas, de maior ou menor belo efeito, e apenas, somente apenas, tivesses a humildade e a coragem de ser sério?

18 abril 2019

Que tudo corra bem…

Soma e segue. Ou falta de competência, ou de empenho, ou de discernimento, ou de escrutínio, ou… mas... cada vez mais se confirma termos à nossa frente uma máquina de Estado cuja eficácia e excelência parece confinada à mui nobre atividade de cobrar impostos, além de gerir o dia a dia. Reformas, coisas pensadas a sério… mesmo um organismo privado que ousou fazer contas e apresentar umas questões sobre a sustentabilidade do sistema de pensões, foi chutado para canto pelo ministro da tutela. Tudo está bem até a inevitabilidade ou as redes sociais obrigarem a fazer qualquer coisa.

A reação do governo à greve dos motoristas de matérias perigosas, não materiais, informem lá o Ministro que quis falar e se enganou várias vezes no nome, foi mais um exemplo de ir comprar as trancas depois de a casa estar arrombada. Está bem que não morreu ninguém, nenhuma ambulância ficou parada na estrada com um ferido grave, como também no caso do helicóptero do Inem despenhado em Valongo, não morreu mais ninguém, mas já houve tragédias a sério e a sensação e o amargo na boca têm o mesmo sabor: em cima do joelho e atrás do prejuízo.

Fica, e só como exemplo, o anedótico da forma como foram decretados os serviços mínimos para o abastecimento de combustíveis: 40% para a grande Lisboa e o grande Porto. Em primeiro lugar, como depois se corrigiu, 40% não é suficientemente específico. Seria necessário definir, de preferência estar pré-defiido, os pontos específicos e as regras de acesso, restrições e prioridades. Depois a limitação às duas grandes metrópoles diz muito sobre o conceito de “país” que vai naquelas mentes.

Que tudo corra bem, já que cada vez que algo corre mal ficamos entre a tragédia e o caricato.

11 abril 2019

E agora Argélia ?


Durante várias semanas o “povo” sai à rua na Argélia para exigir a não recandidatura do presidente vigente, coisa que atendendo ao contexto expetável dessas eleições seria mais uma recondução garantida do que mesmo uma eleição. Desde que sofreu um AVC em 2013, Bouteflika está fortemente debilitado e muito desaparecido da cena pública, levantando sérias dúvidas sobre quem efetivamente mandaria no país. De acrescentar que a Constituição estipulava um limite de dois mandatos consecutivos, entretanto oportunamente alterada, e este seria o quinto … Mesmo o quarto, face à situação clínica do senhor na altura, que praticamente já nem falava foi um abuso.

A contestação, abrangendo largas camadas sociais, várias localidades do país e curiosamente, até agora, madeira toque toque, foi extraordinariamente pacifica. Um exemplo para o que se tem passado no outro lado do Mediterrâneo, onde os coletes amarelos com muito menos capital de queixa vão quebrando e incendiando o que lhes apetece.

Por vezes, diz-se que a história se repete, com diferenças. Há cerca de trinta anos, uma forte contestação popular, fortemente reprimida, com centenas de mortos, fez abalar o regime, forçou o multipartidarismo e a realização de eleições, ganhas pelos islamitas e oportunamente anuladas pelos militares. Na altura, foram buscar um histórico não contaminado, Mohamed Boudiaf, largamente reconhecido e apoiado pela população, que arregaçou as mangas para arrumar a casa. Aguentou 4 meses, até lhe rebentar uma granada aos pés, durante uma sessão pública.

Neste momento, para já há uma diferença. O poder não está a usar a força para contrariar os protestos, como o fez brutalmente na década de 80. De novo os militares mostram querer tomar conta da situação, “recordaram” a necessidade da aplicação do artigo da Consituição que prevê a substituição interina do Presidente, se for considerado incapaz…

Haverá um novo Boudiaf, nomeado ou eleito, que sobreviva mais de 4 meses e realize a transição que desesperadamente o país necessita?

09 abril 2019

O mano também fez!

Imaginem que o Joãozinho, ao ser recriminado por ter jogado à bola de forma imprudente em local pouco apropriado e de ter partido alguns vidros, tem como resposta: o ano passado o mano fez igual e até hoje ninguém me disse que era proibido jogar ali à bola. Obviamente que o mano o ter feito, com maior ou menor frequência ou antiguidade, em nada altera a responsabilidade do Joãozinho, assim como a prudência e a razoabilidade não se decretam exaustivamente, são princípios.

Isto vem a propósito das nomeações familiares no Estado e das respostas/desculpas que vamos ouvindo. Os outros também o fizeram no passado… Não entendem que não está em causa um ajuste de contas entre partidos, mas sim responder ao país, que exige e merece decência? Acrescentam que, pelo menos até hoje, não era proibido… Venha lá uma nova lei e só daí para a frente se poderá condenar. Para lá da dificuldade em legislar clara, justa e eficazmente neste domínio, tudo o que não for decretado proibido é automaticamente permitido? Não há princípios nem ética, especialmente para quem deveria ser exemplar nesse domínio?

Mais do que o mal original, é chocante esta reação desculpabilizadora. Ou são de discernimento muito limitado ou imaginam que nós o seremos …

25 março 2019

Quando o software faz tudo


Uma das primeiras coisas que aprendi nos primórdios dos meus tempos de programação foi que num sistema complexo há duas classes de erros. Os conhecidos que se manifestaram e os escondidos que por lá estão e continuarão até um dia se mostrarem. Nunca há certeza absoluta da ausência de “bugs”, por mais testes que se realizem. Obviamente que quanto mais testes, menor a probabilidade. Muitas vezes, o problema nem residirá na implementação da lógica básica, que pode estar certíssima, mas sim na falta de previsão de situações de exceção e de proteção contra inputs incoerentes.

Se estiver em causa um programa que conduz vidas, seja, por exemplo, num automóvel autónomo ou num avião, este princípio assusta um pouco. Se pensarmos nas funções automáticas de proteção, que são supostas evitar estragos e atuar de forma bastante autoritária…

Num voo de teste do Airbus A320, o primeiro avião comercial pilotado “by-wire”, sem ligação mecânica entre os comandos e os lemes, ele despenhou-se tranquilamente numa floresta, naturalmente contra a vontade dos pilotos. O sistema de controlo entendeu que ganhar altitude naquelas circunstâncias seria estruturalmente perigoso para o aparelho e “protegeu-o”, mandando-o ceifar pinheiros. Felizmente na fase de testes.

A recente bronca com os Boeing 737 MAX é apenas mais um problema de um bug não detetado a tempo? Dira que não…

A otimização do consumo de combustível levou à utilização de motores de grande diâmetro, incompatíveis com a posição original dos mesmos na estrutura do velho modelo. O aparelho ficou potencialmente instável, com tendência a “empinar”, podendo entrar em perda. O problema foi corrigido/protegido por… software, que, detetando essa tendência, o aponta para baixo, a fim de não perder sustentação. Tão drástica atuação baseia-se na informação de um único sensor de ângulo. No avião existem dois, mas esta função só lia um, sendo a monitorização dos mesmos e a sinalização de eventuais incoerências uma opção de compra, não incluída na configuração básica do avião. Para ajudar um pouco mais, a Boeing não publicitou essa particularidade, desconhecida dos pilotos, que, ao verem o avião a apontar para baixo sem razão aparente, não tinham nenhuma ideia do que se estava a passar, nem do que fazer para corrigir…

Para lá da ligeireza evidente deste contexto, duas questões de princípio minhas, que pouco entendo, face a estes acidentes tão estúpidos. Como não é possível em circunstâncias tão dramáticas retirar os automatismos e deixar os pilotos pilotarem, se é que ainda o sabem? Entre o automatismo achar que o aparelho está em risco de entrar em perda e os pilotos o verem a picar para o solo, quem deve prevalecer?

Como é possível que, conhecendo o avião a altitude a que está, aceite o mergulho, mesmo supostamente protegendo-o da perda, atirando-o para o chão? Vais cair, ok, mas ao menos estatelas-te a voar como deve ser, não em perda!

Na minha ignorância, parece-me que houve por aqui uns enxertos mal-amanhados e que a culpa não é só nem principalmente do software.


Foto do site da Boeing

21 março 2019

Tipo avozinho simpático


Com aquele ar mais de avozinho ancião simpático do que de lobo mau, suposto comer criancinhas ao pequeno-almoço, Jerónimo de Sousa foi incapaz de dizer aquilo que qualquer marciano aterrado neste planeta facilmente concluiria em poucas horas. Que o regime Norte Coreano não é uma democracia, sendo que existem por aí ditaduras muito mais respeitáveis e decentes do que aquele perigoso e pouco saudável regime, para os seus e para o resto do mundo.

Segundo ele, antes de admitir se a Coreia do Norte é ou não uma democracia, coloca-se a questão: “O que é a democracia? Primeiro tínhamos de discutir o que é a democracia.” Ou seja, uma questão que não se coloca é se Jerónimo de Sousa terá a mínima ideia do que é uma democracia. Aparentemente não tem.

Também diz: “Em relação ao regime norte-coreano, nós caracterizamo-lo como um país com vontade de atingir o socialismo, mas assumimos que temos diferenças e até divergências.” Ou seja, o objetivo final de King Jong Un e o seu é o mesmo, o caminho eventualmente diferente, até porque existem diferenças culturais.

“Os caminhos para a transformação social e o socialismo na nossa pátria são de certeza diferentes”. Mas o destino é o mesmo, para o Sr Jerónimo de Sousa e para quem o apoiar? É mesmo assim!?? Chiça!!

Está bem que o ancião pode não comer criancinhas ao pequeno almoço, mas, desculpem lá, este senhor é perigoso.

20 março 2019

Anacronismos gritantes

Há quem mate brutalmente (será que existem assassinatos delicados?) em nome de uma guerra santa que começou há 14 séculos. Agora, na Nova Zelândia, alguém matou invocando o outro lado dessa guerra, situando-se uns séculos mais à frente. A guerra é a mesma, mas há um pormenor relevante, o não estarmos na Idade Média e ser claro e assumido pela larga maioria que o “não matarás” é um valor, mais do que religioso, inquestionável na cultura em que vivemos.

Estaremos às portas de uma guerra de civilizações, de um reeditar das conquistas e cruzadas, como alguns gostam de evocar e de com isso excitar espíritos, com motivações diversas? Penso que não. Uma guerra envolve duas partes que falam a mesma linguagem bélica.

O crescimento da xenofobia no mundo ocidental, seja enquadrada em organizações institucionais, seja a partir de movimentos espontâneos, irá desenvolver uma atitude bélica cristã/ocidental e proporcionar a tal guerra? Sinceramente, penso que não. Os espontâneos e os clandestinos, serão sempre e apenas isso, espontâneos e clandestinos, e, por mais execráveis que sejam os movimentos organizados públicos com discursos xenófobos e racistas, não os estou a ver a financiarem a compra de armas e a criarem essa dinâmica bélica em escala que se veja.

Significa isto que não há perigo de escalada e que podemos deixar essa gente à vontade, a odiar e a criar ódios, mesmo que mais do que um processo de endoutrinamento social esteja simplesmente em causa o acesso ao poder? Obviamente que não. Nem todos os crimes são de sangue. No entanto, ingénuo ou otimista, acredito que há partes da história que não se repetem e que a sociedade atual ocidental tem indelével nos seus valores que o sangue não faz parte da linguagem nem do caminho. Não acredito numa guerra de sangue, mas há outras batalhas a travar e muito particularmente para garantir o caráter indelével destes nossos valores.

06 março 2019

À moda do Porto


No último verão passei pela Lello pela primeira vez depois de ela estar no roteiro turístico, com entrada paga e tudo. O facto de fazer parte dos locais obrigatórios a visitar na baixa da Invicta, levanta algumas reflexões.

É uma evidencia de que a cidade não tem assim tantos pontos de chamada atração turística, como talvez seria de esperar numa cidade centenária e muito fortemente identificada com a personalidade do país (desculpem lá as outras). Citando Alexandre Herculano:

“Rudeza e virtude são muitas vezes companheiras; e entre nós, degenerados netos do velho Portugal, talvez seja elle [o Porto] quem guarde ainda maior porção da desbaratada herança do antigo caracter português no que tinha de bom, e no que tinha de máu, que não passava de algumas demasias de orgulho.”

“Um carácter de honra granítica, uma tonalidade sóbria e altiva de quem emergiu na afirmação do poder à custa do trabalho desenvolto, um tratamento (...) com sabor a maresia, uma alma patente, bom coração, generoso, leal”


Porque uma simples livraria se tornou numa etapa indispensável dos locais a visitar na cidade? Não é mau ser uma livraria e não será assim tão simples, mas… Talvez por o carater do Porto não residir em palácios, que quase não existem, nem se espalhar por salas de visitas.

Não faz mal os turistas visitarem a Lello, mas não procurem a cidade por aí. A sua assinatura está por outros lados, não necessariamente em locais onde se entra por uma porta.