20 março 2019

Anacronismos gritantes

Há quem mate brutalmente (será que existem assassinatos delicados?) em nome de uma guerra santa que começou há 14 séculos. Agora, na Nova Zelândia, alguém matou invocando o outro lado dessa guerra, situando-se uns séculos mais à frente. A guerra é a mesma, mas há um pormenor relevante, o não estarmos na Idade Média e ser claro e assumido pela larga maioria que o “não matarás” é um valor, mais do que religioso, inquestionável na cultura em que vivemos.

Estaremos às portas de uma guerra de civilizações, de um reeditar das conquistas e cruzadas, como alguns gostam de evocar e de com isso excitar espíritos, com motivações diversas? Penso que não. Uma guerra envolve duas partes que falam a mesma linguagem bélica.

O crescimento da xenofobia no mundo ocidental, seja enquadrada em organizações institucionais, seja a partir de movimentos espontâneos, irá desenvolver uma atitude bélica cristã/ocidental e proporcionar a tal guerra? Sinceramente, penso que não. Os espontâneos e os clandestinos, serão sempre e apenas isso, espontâneos e clandestinos, e, por mais execráveis que sejam os movimentos organizados públicos com discursos xenófobos e racistas, não os estou a ver a financiarem a compra de armas e a criarem essa dinâmica bélica em escala que se veja.

Significa isto que não há perigo de escalada e que podemos deixar essa gente à vontade, a odiar e a criar ódios, mesmo que mais do que um processo de endoutrinamento social esteja simplesmente em causa o acesso ao poder? Obviamente que não. Nem todos os crimes são de sangue. No entanto, ingénuo ou otimista, acredito que há partes da história que não se repetem e que a sociedade atual ocidental tem indelével nos seus valores que o sangue não faz parte da linguagem nem do caminho. Não acredito numa guerra de sangue, mas há outras batalhas a travar e muito particularmente para garantir o caráter indelével destes nossos valores.

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