28 outubro 2013

Que raio de “cracia”!

Chegou-me a mensagem de um contacto antigo. Participava num concurso, sério, onde estava em causa mérito e desempenho dos participantes. Não era uma coisa do bebé mais bonito, nem do maior português de todos os tempos. O prémio em disputa seria atribuído a partir de votação numa rede social famosa. Assim, ele informava e convidava os seus amigos e contactos a participarem.

Como considero não ter a mínima competência para o julgamento em causa e como discordo profundamente deste tipo de “democracia digital ad-hoc” não votei, sentindo alguma deslealdade para com a pessoa em causa, que me merece todo o respeito e consideração. Aparentemente é habitual e moda fazerem-se as coisas desta forma, mas não deveria ser assim. Uma avaliação séria deve ser feita a partir de um universo de avaliação competente, baseado em critérios objectivos e nunca dependente da capacidade de mobilização digital de cada um.

São votações que valem o que valem… já colocaram Salazar num belo pedestal e levaram os “Homens da Luta” à Eurovisão. No entanto, estas são anedotas muito visíveis e facilmente denunciáveis. Mais grave é haver outros casos menos mediáticos, em que se está a julgar trabalho, competência e desempenho, e que ficam à mercê de uma qualquer fábrica de “likes”, informal ou até mesmo formal, como já existem, onde se encomendam e pagam cliques ao milhar.

Se o valor reconhecido tende a ser função da dimensão do “universo de amizades” e da facilidade com que se mobilizam cliques imediatistas, por simpatia ou por outro argumento paralelo qualquer, estamos a criar um sistema de valores muito pouco justo. E quando a justiça falha para algo tão fundamental como o reconhecimento do mérito, o prejuízo é enorme.

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