Quando os canhões da I Grande Guerra se calaram, o mundo muçulmano sunita entrou num período de crise e de choque. O Império Otomano, seu bastião, tinha lutado do lado dos vencidos e a outrora poderosa força que dominara todo o Médio Oriente e grande parte do Norte de África, já enfraquecida antes do conflito, desmorona-se e desaparece.
Na sua sede e origem, a atual Turquia, Kemal Atartuk vai
criar um novo Estado, muçulmano certo, que o digam os ortodoxos gregos e
arménios que por lá andavam, mas laico, com a religião nas mesquitas e fora de
escolas, tribunais e parlamento.
Ao mesmo tempo é extinto o califado, desaparecendo o Califa,
o líder religioso global e reconhecido sucessor de Maomé. Imaginem que, se na
unificação da Itália, em vez de o Papa passar a administrar apenas um bairro de
Roma, tivesse desaparecido de vez a função. Um grande choque seria, não?
Neste processo de desagregação do mundo muçulmano, surgem reflexões
do tipo: Se no passado, na origem, eramos poderosos e depois enfraquecemos, a
solução passa por regressar à “pureza original”. A isto se chamará salafismo, palavra
relacionada com origem e raiz, sendo o movimento mais impactante, ainda hoje, a
Irmandade Muçulmana, nascida no Egito.
Como é óbvio estas visões retrogradas e anacrónicas não
trouxeram muito brilhantismo e sucesso ao Islão.
Contextos e dimensões à parte, a opção do Bloco de Esquerda
em ir chamar os seus “fundadores”, parece ser um reflexo com a mesma
inspiração. Quanto ao resultado, logo se verá, mas as estratégias de “ó tempo
volta para trás”, nunca trouxeram grande progresso.