3) Diferenças entre as três religiões do “Livro”
O Islão e o Cristianismo partilham os mesmos alicerces, o
Judaísmo, mas o contexto em que se desenvolvem e a personalidade dos seus
profetas principais dão origem a dois edifícios muito distintos. O que é que os distingue, para lá do dia
santo judeu ser sábado, dos cristãos domingo e dos muçulmanos sexta-feira?
A Bíblia e a Tora são também livros sagrados para o Islão,
mas supostamente incompletos, e os muçulmanos deverão evitar a sua leitura,
para não se baralharem.
Na primeira fase, o Islão tem Jerusalém como cidade-farol,
como as outras duas religiões. Jerusalém é a “Meca” inicial, para onde são
dirigidas as preces. Só mais tarde mudará para Meca, Meca. O carácter sagrado
de Jerusalém para os muçulmanos é devido precisamente a estas raízes comuns.
Supostamente Maomé foi uma vez teletransportado para lá e daí, de onde é hoje a
cúpula do rochedo, onde Abrão terá sacrificado o carneiro, subiu em visita ao
Céu…
Para um muçulmano, ser cristão é sofrer de uma espécie de deficiência,
atraso… porque ficar numa religião mais antiga, se existe outra, mais recente e
mais completa? É mesmo assim? O Islão
engloba todos os princípios do cristianismo e acrescenta algo, espiritualmente
falando? Para mim, objetivamente, não.
Convém recordar que apesar da base judaica do Cristianismo,
ele vai metamorfosear-se para uma postura de tolerância, perdão e humanismo.
“Todo o homem é meu irmão”; “Oferecer a outra face…” e, muito relevante, o
“Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Nada disto passou para o
islamismo, que se mantém no rigor castigador do Deus impiedoso do Antigo
Testamento.
Há mesmo uma passagem explicita, no Corão. Numa família
judaica de Meca é identificado um caso de adultério. Conforme os códigos em
vigor, o castigo será a delapidação da mulher. A família, no entanto, com pouca
vontade de o aplicar e sabendo que há uma evolução da sua religião em que a
mulher pode ser perdoada, faz questionar Maomé, na esperança de que uma
conversão possa salvar a senhora. Infelizmente, para ela, Maomé confirma que no
Islão esse código se mantém em vigor.
Quando se tentam mostrar as diferenças entre o Islão e as
outras duas religiões do livro, evoca-se principalmente o episódio de Abrão, do
sacrifício do filho e a troca pelo carneiro. Nas duas primeiras o filho é
Isaque e no Corão é Ismail. Muda algo de fundamental? Entendo que não.
Relativamente às diferenças entre o Islão e o Judaísmo,
excluindo a dimensão regulamentar, o que se pode fazer e o que é proibido, aliás
com muito em comum, quais as diferenças na dimensão básica, espiritual… é um
tema ao qual não sei responder, mas que suponho muito sensível.
Existem vozes, dentro do mundo muçulmano, algo críticas
relativamente aos rigores regulamentares, alguns anacrónicos, interrogando e questionando
os que querem transformar/transformaram a sua religião num catálogo de
proibições. Não será por aí que ela acaba por se diferenciar…?
O que é certo é que apesar do que existe em comum, o Islão
posiciona-se num não como uma religião diferente, mas superior às outras duas,
que serão versões incompletas. Isto justifica algumas posições de não
reciprocidade ainda na atualidade.
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