Havendo um histórico de discriminação negativa, imerecida, relativamente a um dado grupo, faz sentido que se tente compensar e procurar repor alguma justiça através de uma discriminação positiva posterior.
Isso pode ser conseguido dando prioridade a esse grupo num
processo de seleção e, no limite, até exclusividade em situações pontuais. Nada
contra. Agora, parece-me que relativamente ao desempenho posterior, a palavra-chave
deverá ser igualdade. Função igual, exigência igual, avaliação igual, retribuição
igual.
O risco e o desvio aparecem quando se insiste em continuar a
considerar alguma discriminação posteriormente. Quando o selecionado, em vez de
assumir o desafio e ir a jogo de igual para igual, aprendendo e evoluindo, assume
uma postura de vitimização cada vez que é questionado… Quando a hierarquia vê
com condescendência e tolerância q.b. os erros e deficiências, numa atitude
paternalista que tende a perpetuar um estatuto de inferioridade, não sendo
certamente esse o objetivo último do processo.
Este contexto pode ainda degenerar para uma arrogância de
quem se sente especialmente protegido e criar uma tribo de “eternas vítimas”,
hostilizando os demais. Quando chegamos aqui, a discriminação positiva falhou
completamente o seu propósito.