O Estado Novo foi um longo período da nossa história recente e de cujo balanço não teremos muitos motivos para orgulho. Como convém que certas histórias não se repitam, não basta pronunciar um “vade retro Satanás” sem procurar ir a algum detalhe. Aliás, um dos grandes defeitos na “narrativa” oficial sobre a sua origem é desvalorizar a enorme responsabilidade da I República, cuja prática e “ética” (?!) estendeu o tapete vermelho para a chegada e aceitação de um regime autoritário.
O livro acima representado é uma excelente viagem por esses
tempos, onde ano a ano se faz um resumo da conjuntura histórica, uma seleção de
excertos de discursos e outros textos e uma nota de contextualização dos mesmos.
Muito interessante e revelador de alguns matizes nos pensamentos e ações dos
vários atores deste período histórico.
Confesso que para lá dos bem conhecidos males do regime,
autoritarismo, repressão, política africana irrealista, há algo que me parece
relevante assinalar. É a falta de real ambição para o país. O promover o “pequenino”,
baixar expectativas, sucessos houve muitos, no passado. Tão gloriosos foram que
nos contentamos por ter um presente cuja glória, pequena como convém a um
regime que defende a frugalidade a todos os níveis, fica na memória desse
passado. O importante é não estragar nada, o fundamental é manter a ordem e
respeitar… o passado. Grandes e novos desafios para o futuro não parecem ser
prioridade.
Certo que se pode referir as obras públicas que ficaram, um
importante crescimento económico na sua fase final, mas o tem geral é o de um
regime bolorento e tacanho na sua visão do país, não se frutando a meios para
garantir essa “estabilidade”.
Curiosida uma citação de Humberto Delgado em 1933. “Que
tristeza! Eu julgava o Parlamento uma assembleia de homens e fui deparar com
uma súcia de garotos dizendo piadas de sol uns aos outros, num barulho
indecente próprio de praça de touros ou de taberna.”. Tão modernos estes antigos ou tão envelhecidos
os atuais modernos… talvez que em 1933 a missão de “estabilização” das instituições
ainda não estivesse suficientemente avançada.




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