09 janeiro 2015

Podemos ser um pouco Samira?

Desculpem-me por destoar, mas já me está a custar ver tantos “Somos todos Charlie”. Não porque de forma alguma tolere ou relativize a importância da barbárie de Paris. Simplesmente porque morreram 12 pessoas, enquanto o mesmo mal mata dezenas ou centenas por dia no Médio Oriente, quase sem reacção da opinião pública.

Faz-me lembrar o ébola. Enquanto morriam, e continuam a morrer, apenas em África, não é notícia. Um ou dois casos próximos e não se fala de outra coisa.

Há menos de um mês, quem quisesse podia ler que 150 mulheres foram executadas em Fallujah, apenas por se recusarem a casar com combatentes do estado islâmico. É só estar atento ou procurar. São centenas de corpos encontrados em valas comuns “de vez em quando”, muitas vezes; são milhares de mortos acumulados e, para quem não reage muito a estatísticas, um nome e um rosto: Samira Saleh Al-Nuaimi.

Advogada em Mossul, defensora dos direitos humanos e em especial das mulheres. Foi presa em Setembro e condenada por apostasia, apenas por ter tido a coragem de continuar a agir na defesa dos seus princípios, que também são os da humanidade. Após ser torturada durante 5 dias foi executada publicamente. É apenas uma. Mas pouca gente ou ninguém “também é Samira”. Samira em árabe significa “boa companhia”, mas um nome, no fundo, pouco vale.

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