12 janeiro 2015

Défice do fundo


Os 900 milhões de euros que a PT perdeu na Rioforte começaram por ser explicados como uma simples aplicação de tesouraria, quase de rotina. Na altura, surpreendeu a aparente imprudência. O desfecho infeliz deu uma machadada forte no valor e na imagem da empresa, em processo de fusão com a Oi.

Após a última auditoria da PwC, descobre-se ser muito pior. Os 900 milhões não eram um excedente de tesouraria; eram fundos que a PT foi buscar ao mercado para os entregar ao grupo Espírito Santo. Ou seja, um acionista forçou a empresa a endividar-se para o ajudar, e até a fundo perdido. Para lá do que os restantes acionistas poderão pensar, protestar ou processar, há uma reflexão que me fica. A PT não era uma daquelas empresas “para-publicas” esclerosadas. Até há pouco tempo era considerada uma empresa de referência, com uma gestão de excelência, premiada internacionalmente. Qual a cultura real existente? Quais os valores que prevaleciam mesmo na organização? É possível a coexistência e a sobrevivência de profissionais sérios, focados no rigor e na excelência com tamanha e descarada manipulação e abuso?

O valor das empresas não se esgota no balanço quantitativo; não menos importante é a cultura e a ética que o enquadra. Neste capítulo, a PT perdeu mais do que os 900 milhões de euros. O pós-troika está a relevar outros défices, para lá do quantitativo das contas públicas, sendo que, em boa parte, o problema nasceria mesmo aí. Sejamos optimistas e acreditemos que o futuro será mais limpo.

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