Em tempos, ser de esquerda era ser conta a CIA e ser de direita era ser contra o KGB. Estava em causa uma opção de modelo de sociedade. Numa perspectiva social, a esquerda seria mais amiga dos pobres e a direita dos ricos; em termos económicos dizia-se que governar à direita era acumular riqueza para depois a esquerda a distribuir. Hoje os tempos são diferentes. A direita não consegue eleger-se sem “distribuir” e a esquerda também descobriu não poder ignorar o processo de criação de riqueza, no qual a iniciativa directa do Estado não chega. É curioso como no nosso passado recente vimos um partido socialista descaradamente conivente com o grande capital e temos hoje um governo de direita a aplicar uma das maiores cargas fiscais de sempre.
A Europa está mais pobre e submetida a uma concorrência mais intensa do que no passado recente. Há menos para distribuir e é mais difícil criar riqueza. A diferença entre gastar e investir (aplicação de fundos com retorno) é frequentemente ignorada. A animação actual de (re)definir esquerda como ser contra a troika, a austeridade, os mercados, etc., esquece que para governar mesmo é preciso algo mais do que ser contra.
Na prática, direita ou esquerda são hoje pouco mais do que estandartes tribais, agregação de forças de conquista de poder, com uma diferenciação do nível do das peças brancas e pretas do tabuleiro de xadrez. Também não vale a pena discutir o “modelo”, antes de realizar um longo e necessário trabalho de valorização e credibilização desses exércitos. Para já, apenas pedimos que sejam sérios e competentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário