30 junho 2010

Os putos e os homens

Não sei de futebol o suficiente para concorrer com os largos milhares, ou até mesmo milhões, de comentadores que opinam hoje sobre a derrota de ontem contra a Espanha. Mas posso falar de atitudes.

E lembrei-me do jogo contra a Inglaterra no Europeu de 2000. Era o nosso primeiro jogo e aos 18 minutos já estávamos a perder por 0-2. Parecia que o fado estava feito. Mas não foi assim. Pelo impulso de uma locomotiva de energia física e anímica chamada Luís Figo, a equipa não aceitou o resultado e acabou por dar a volta ao jogo e ganhámos por 3-2.

Esse dia marcou para mim uma diferença em maturidade nestas andanças pela forma de reagir à adversidade, pela perseverança e, de uma forma mais simples, por não deixar de acreditar e não perder o discernimento.

Ontem não vi nada disso. Após o golo espanhol, nunca mais a equipa acertou e o menino Ronaldo, a vedeta, o capitão, o líder, que até aí pouco tinha feito não cresceu. Desapareceu e quando apareceu, desatinou.

29 junho 2010

Política com custos

Parece que as scut’s foram previstas sem custos para o utilizador pelo argumento de que induziriam desenvolvimento, gerador de riqueza, que as pagaria indirectamente. Não sei como foram feitos os cálculos mas o planeamento não foi brilhante. Como é possível ter duas auto-estradas paralelas do Porto a Aveiro, separadas em média por meia dúzia de quilómetros, sendo uma paga e a outra Scut ? È possível entender esta lógica?

Depois, com a “crise” decide-se que deixarão ser gratuitas, não por política planeada mas por necessidade orçamental e a confusão e as interrogações disparam.

É lógico que uma scut seja construída em cima de uma estrada nacional e, mais tarde, se pague portagem nesse troço? Ainda hoje, por exemplo, o prolongamento da A4 está a ser feito parcialmente sobre o IP4. Se no futuro eu quiser atravessar o Marão sem pagar, terei que usar a N15, como há 20 anos atrás?? É lógico que uma circular urbana que pode ser utilizada inúmeras vezes por dia seja paga? É lógico que a cobrança seja feita pontualmente nos pórticos, mais ou menos bem distribuídos e não por km’s realmente realizados? Já imaginaram/previram as assimetrias no fluxo que isso originará?

É lógico que o Algarve seja diferente do Minho? A N125 é melhor ou pior do que a N13? Estão em causa os turistas? Os turistas apenas merecem “consideração” no Algarve? O critério de vir ou não ao Algarve será pelo custo de alguns euros de portagens na via do Infante?

Melhor exemplo da falta de planeamento é o processo de cobrança e os respectivos identificadores. Escassas semanas antes da suposta entrada em vigor, ainda não estavam disponíveis e nem sequer tinham sido divulgados. E os pórticos já lá estão feitos, e certamente pagos, há largos meses.

Na última hora o PSD acha que devem pagar todos. Aparentemente tem alguma lógica. Para não ficar sem a última palavra o PS concorda e lembra-se de isentar os locais. O critério será pela residência ou pelo local de trabalho? Palpita-me que vamos entrar agora numa grande discussão sobre o conceito de ser local. E quase aposto que antes de começarem efectivamente a caírem os euros das novas portagens alguém ainda vai ter mais uma “ideia” nova...

A questão fundamental e cuja resposta não pode ser fruto de ideias avulsas é: O Estado tem ou não obrigação de disponibilizar uma rede de viária de qualidade mínima e sem custo de passagem? Eu acho que sim. Acho que não será bom termos auto-estradas por todo o lado e não se poder sair de casa sem ser portajado (novo verbo) em cada cruzamento. Só que com estes avanços, recuos e improvisos ficou uma grande confusão. Primeiro melhorou-se a rede mínima, muito bem! Agora, essa rede passou a ser considerada de luxo e, por isso, paga. Como nos contextos subdesenvolvidos, ficaremos apenas com os dois extremos: o miserável e o luxuoso.

27 junho 2010

Seixo dos Corvos




Eu pensava que já tinha passado por todos os cantos do Alto Douro, margem Norte e margem Sul. Todos, mesmo todos, não, sobraria um canto aqui e outro acolá, mas nada de dimensão significativa.

Errado. A sul de Carrzeda de Ansiães, numa estrada sem saída, sem sinalização de por onde se entra e, pior, onde se deve parar está o Seixo dos Corvos. E... que coisa!

Sendo as comparações nestes capítulos traiçoeiras, sinto-me tentado a dizer que é a mais bela panorâmica do Alto Douro que já vi. Tem uma amplitude fantástica em ângulo e em profundidade, sem deixar de se sentir uma grande proximidade ao rio. E senti também a falta daqueles máquinas fotográficas novas, catitas, em que se carrega no botão, se roda a máquina e esta faz automaticamente a panorâmica.

Esta mísera montagem dá uma vaga ideia apenas. Até porque isto é das coisas que só vendo e vivendo no local mesmo. Lá em baixo à direita no cantinho está a ponte da Ferradosa, onde a linha de caminho de ferro atravessa o rio. Aqui não se vê bem, mas lá é diferente.

25 junho 2010

Pós S. João


Ó meu senhor, meu senhor... dá-me um moedinha para o meu S. João?
Hum...?
O senhor não é português .. !? English ??

Toma lá a moeda mas não estou a ver S. João nenhum ...!

Fica para o S. Pedro, então!! Obrigada!

Ó meu senhor, tira-nos uma fotografia no carrossel, tira?
Mas o carrossel está parado... !
Não faz mal, nós pomo-nos a andar naquelas coisas redondas, está a ver?

23 junho 2010

De novo...

Não sei se devo pedir desculpa pela interrupção.... Mas, pelo menos, vai uma justificação. Os últimos tempos foram ocupados por um “projecto” que me condicionou e, pelos vistos, não consigo escrever em registos diferentes em simultâneo.

Para relançar teria que falar de Saramago. Quase obrigatório.

Conforme já referia aí para trás, Saramago escreveu excelentes e belíssimos livros, principalmente antes do prémio Nobel. Deixa um legado extraordinário e um enorme contributo para a riqueza da literatura e da cultura portuguesa. Penso não existirem dúvidas sobre isso.

Não se perdeu o que ele fez. Perda seria se tivessem desaparecido todos os exemplares de “Todos os Nomes”, por exemplo. Isso sim, seria uma grande perda. Ficaram livros por escrever? Talvez e esses também se perderam.

Mas convém não confundir a obra com o homem. Não reconheço a José Saramago uma grandeza de carácter ao nível da dimensão da sua produção literária. Há muitas afirmações dele descabidas e, no mínimo, indefensáveis. Também não é obrigatório que as pessoas sejam equilibradas. Muitas vezes um génio numa faceta coexiste com insuficiências graves noutra.

Não concordo, por exemplo, que se chame a Saramago um “homem de liberdade”. A sua curta passagem pelo DN em 75 e a expulsão dos 24 jornalistas são exemplo de uma militância intolerante que felizmente foi confinada a um período curto. E felizmente para ele não voltou a ser confrontado com uma função executiva e felizmente para nós os restantes “homens de liberdade” também não estão aos comandos. E, já agora, também devemos dar graças por o Vaticano, SL’s e afins não terem o monopólio editorial.

Mas, sobretudo, não se transfiram as qualidades e os defeitos. A obra de Saramago é admirável e essa excelência não tem que apagar nem afogar as suas deficiências de carácter. Da mesma forma que as suas atitudes e posturas tantas vezes infelizes não devem contaminar a apreciação da obra.

Uma vez o “Contra-informação” caracterizou-o exemplarmente: “Saramago é um grande escritor: o que ele escreve lê-se, mas o que ele diz não se escreve!”.

No balanço global o país e a cultura portuguesa estão-lhe gratos... e deixem todos de brincar ao jogo dos pequeninos.

10 junho 2010

Grande Máquina!


A morte súbita de um telemóvel longe de casa fez-me pedir que me comprassem localmente um básico, do mais barato que houvesse. E lá recebi um magnifico Nokia como o da foto documenta, por cerca de 20 euros. Não tem máquina fotográfica, não mostra imagens a cores, não dá música, obviamente não navega na net e não faz portanto muitas coisas giras desse género.

Mas é uma grande máquina! Serve perfeitamente para telefonar e tem uma coisa espantosa: quase me esqueço de que preciso de o carregar, ao contrário do outro mais catita que tem grande visor colorido mas que não perdoa e cuja bateria me deixa ficar mal com uma facilidade tremenda.

É que ao fim e ao cabo um telemóvel serve para fazer chamadas e a autonomia até é uma característica importante, não é?

08 junho 2010

Coisas úteis


Por estranho que possa parecer há imagens feias, sujas e degradadas que num dado contexto se podem tornar muito agradáveis à vista e tranquilizantes.

E uma recomendação útil. Aquele hábito de ao entrar num restaurante passar primeiro pelo quarto de banho para “lavar as mãos”, no sentido amplo ou restrito da expressão, deve ser evitado e de forma quanto mais premente quanto maior for a distância para o restaurante mais próximo. Acima de 20 km deve ser completamente banido. A referida visita deve ser adiada sempre para o fim da refeição.

Corolário: utilizar num local sujo é exequível; sujo e escuro é que já não.

04 junho 2010

A privacidade, os amigos e a cusquice não solicitada

Tenho visto alguma polémica recente sobre a “privacidade no facebook”, mas não estou muito a par e até nem tenho página na dita rede (será grave... ?).

No entanto, não deixo de achar estranha, por exemplo, a transformação que a Microsoft operou no Hotmail. Cada vez que consulto esse serviço, que por acaso até nem é o meu correio principal, lá fico a saber que fulano disse isto há x tempo, que beltrano ficou amigo de sicrana, que o outro tem uma nova foto e ali está ela em exibição e por aí fora... Provavelmente deve ser possível com algum esforço e teimosia configurar a conta e trancar tudo isso, fazendo com que sirva simplesmente para enviar e receber correio sem essa vertente de cusquice virtual não solicitada.

É também verdade que há quem não quem hesite em descarregar para qualquer site aberto as fotos da família, do cão, do gato e falar lá como se estivesse em família . O cúmulo foi o caso de John Sawers, um alto quadro dos serviços secretos ingleses (MI6), cuja mulher publicou aberto no facebook fotos da família, das férias e dos amigos. Toda a gente pode saber por ali onde moram, onde e com quem passam férias, ou seja, aquilo que oficialmente era e devia ser extremamente sigiloso!

Uma outra rede, mais “profissional”, a linkedin, envia-me regularmente um relatório de “notícias” com os novos amigos dos meus amigos, quem recomenda quem, quem mudou, ou perdeu, o emprego, e por aí fora. Aliás, penso até que a própria palavra “amigo” está a ser alvo de uma mutação de significado. Às vezes aparecem umas meninas com cara de tenista russa que querem ser nossas amigas para a seguir sermos bombardeados com publicidade. O remédio é responder delicadamente à “tenista” antes de aceitar o convite, perguntando de onde nos conhece e o assunto acaba aí.

Voltando à privacidade, nesta última rede, um infeliz deve ter escrito em qualquer local que estava a pensar ir a Paris. E agora, nos relatórios que recebo, lá vem recorrente a novidade de que o “OO planeia uma viagem a Paris”. Não sei se já terá ido ou se terá corrido bem. Só não sei é se ele queria mesmo que toda a gente fosse assim regularmente informada dessa sua intenção. Irra....!!!

03 junho 2010

João Aguiar

Com surpresa e tristeza leio a notícia da morte de João Aguiar. Tendo lido toda a sua obra de ficção, considero-o um dos melhores escritores portugueses contemporâneos, apesar de não ter feito assim tantas capas de revista nem incendiado as polémicas necessárias para a conveniente ribalta. Talvez agora o seu desaparecimento ajude a equacioná-lo e a colocá-lo onde tem direito.

Sabendo que ele não se esgota de forma alguma no registo histórico, será uma oportunidade para questionar o rigor e a forma de tantos romances ditos históricos que por aí pululam. João Aguiar tinha o cuidado de no final, em meia dúzia de páginas, deixar registado bem claro e honestamente o que era comprovado, o que era apenas provável e o que era de sua ficção, sempre dentro do plausível.

Esclarecido, frontal, rigoroso e expressivo. Em resumo, e para quem não o conhece, por favor leiam-no. É pedir pouco mas é tudo.

Nota: Foto Googleada

01 junho 2010

Todos com muito alegria



Por acaso e sem planeamento prévio passei no Sr da Pedra domingo passado, quando chegavam as rusgas e... bom... não as vi todas, mas do que vi gostei muito pouco. Não senti o “espírito” certo no acontecimento.

Se é verdade que há coisas para as quais o simples facto de existirem já é louvável, há também um mínimo de rigor a respeitar sob pena de que o que existe não é o que se suponha existir e a história do mérito da simples existência se esvaziar.

O cúmulo é aproveitarem o evento para, bem alto, engraxarem o sr presidente e demais membros da junta de freguesia.... todos com muito alegria !