17 dezembro 2008

E se não fosse apenas uma questão de mais gastar?

O mundo chamado ocidental habituou-se a gastar. Os economistas acham bem porque o consumo é motor do desenvolvimento económico. Agora, se os produtos a consumir têm maioritariamente matéria-prima directa e indirecta (como a energia) e produção externas, consumir começa a resumir-se a comprar o que chega dentro de contentores marítimos e pagar a respectiva factura! Depois dos plásticos, da metalomecânica, do têxtil e vestuário, dos electrodomésticos, da informática e, agora também, da própria indústria automóvel passarem para o outro lado, onde vamos gerar valor para pagar a dita factura do consumo? Apenas aos serviços e à “engenharia” financeiros?!? Não chega, é necessário pedir emprestado.

A “engenharia” da valorização em espiral dos imóveis ajudou os consumidores a pedirem emprestado e a gastar. Os bancos acreditaram/promoveram e cavalgaram a espiral. E a economia foi “crescendo” até à espiral parar. Depois dos consumidores falidos, dos bancos falidos/à beira da falência, vêm os estados ajudar a economia, endividando-se, para injectar dinheiro para investimento e, subentende-se, para o consumidor recuperar a confiança e voltar a gastar. Depois de esgotada a dívida das famílias a salvação virá do endividamento público.

Bom, governar é certamente intervir fortemente quando é necessário. Agora, o que me parece é que se o Ocidente não revir fortemente a sua posição na cadeia de valor da economia real (a única sustentável), e continuar nesta de consumo por dívida, vamos voltar a estourar e de cada vez com maior intensidade. Proteccionismo em legítima defesa, mais ou menos disfarçado, quando está em causa a sobrevivência económica e a coesão social não será certamente uma hipótese a excluir. Alguém está a ver a produção automóvel a sair de França, Alemanha ou mesmo Itália? Vai uma aposta? E porquê apenas o automóvel e apenas nesses países?

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