30 janeiro 2007

Os buracos do Banco Mundial



Já tinha sido apanhado a pentear o cabelo depois de previamente humedecer o pente com saliva. Agora foi apanhado a entrar numa mesquita de meias rotas, durante uma visita oficial à Turquia.

Trata-se de Paul Wolfowitz antigo sub-secretário de estado da Defesa dos EUA e actual presidente do Banco Mundial.

Será que o seu vencimento não dá para comprar peúgas? Ou será que é mesmo assim bronco? O curioso é que não parece ter feito sequer um esforço para disfarçar! Realmente, destes americanos pode-se esperar tudo!

Só fico mesmo curioso é quanto ao cheiro....

Foto da Associated Press

28 janeiro 2007

Ainda, onde isto irá parar...

Na sequência do registo anterior, por coincidência, vi no Le Monde de hoje um longo artigo sobre os problemas de integração da comunidade muçulmana na Europa a nível do sistema de saúde.

Desde uma túnica “multiconfessional” que transforma doentes em múmias, inventada do Reino Unido, até uma “oportunidade de negócios” na Holanda do projecto de um hospital islâmico, há de tudo.

Mais chocante são os diversos problemas em França com partos e ginecologistas masculinos. Desde o “prefiro que a minha mulher morra do que seja vista por um homem” até sérias agressões a médicos por tocarem em parturientes muçulmanas.

Não, isto não se pode classificar simplesmente dentro das inultrapassáveis questões de fé. Há valores que se sobrepõem, que o nosso nível civilizacional reconhece e de que não pode abdicar.

27 janeiro 2007

Onde isto vai parar...?

Um grupo francês de extrema direita, decidiu começar a distribuir em Paris uma “sopa de toucinho” aos sem abrigo. O objectivo é claro e tem algo de provocador: ajudar quem precisa mas excluindo os muçulmanos que não comem porco.

Depois de bastante polémica e de um longo pingue pongue de competências sobre o enquadramento legal, o “Conselho de Estado”, a mais alta jurisdição administrativa francesa, proibiu a iniciativa. Pode-se entender, mas não deixa de dar que pensar.

Será que o próximo passo, atendendo a que uma importante percentagem dos sem-abrigos são muçulmanos, irá ser proibir a carne de porco na “sopa dos pobres”?

E se fosse ao contrário? Se existisse num país islâmico uma importante minoria que não comesse carneiro, isso seria tomado em conta em escolas, hospitais ou prisões? Considerando as restrições enormes aplicadas a todos por igual no período do Ramadão, seguramente que não. O curioso é que no meio disto, os muçulmanos saem sempre credores. Se houvesse distribuição da dita sopa, seria uma afronta; como foi proibido, já o ter sido sugerido foi uma afronta e, levantado o problema, já deve faltar pouco para exigirem a supressão dos ditos toucinhos.

PS: Tudo isto, talvez, porque há dois dias comi um pedaço de carneiro que não me caiu nada, nada bem...

22 janeiro 2007

Âncoras de identidade (II)

Podem as roupas expostas nas montras das lojas serem iguais por todo o lado, assim como o prato de comida rápida e os filmes em cartaz. No entanto, cada cultura terá sempre as sua âncoras de identidade específicas, porque se as não tiver apaga-se. E uma boa parte da atitude colectiva depende da natureza dessas âncoras.

Vejamos. É fácil entender que a Bélgica seja complexada. Que âncoras pode ter um país que foi criado ad-hoc por terceiros para servir de terra de ninguém nos conflitos bélicos frequentes da altura e com duas comunidades tão homogéneas como uma mistura de água e azeite?

Curioso é a França ancorar-se tanto no famoso trio da “liberdade, igualdade e fraternidade” e lembrarmo-nos que a prática da revolução, raiz dessa referência, esteve nos antípodas desses mesmos princípios. Ainda, em situações de crise, como a ocupação alemã ou a guerra da Argélia, o seu comportamento no terreno tende a afastar-se muitíssimo da grandeza dos discursos. Decididamente, são mesmo bons é em marketing.

Um jovem país/regime terá tendência a focalizar-se no heroísmo do processo de independência/revolução contra os malefícios do colonizador/opressor. Esquece que ao ficar cristalizado nesse momento está a adiar o futuro porque essa é uma âncora que se desvaloriza e esfuma com o tempo. Não se pode passar toda a vida à sombra de uma batalha ou de uma revolução!

Quanto a Portugal, a primeira âncora que adoptei foram os Descobrimentos. Quem não tem prazer em dizer que um dia o mundo foi cortado em dois, nós ficámos com uma das metades e, ainda por cima, escondendo informação aos espanhóis para nos apropriarmos do Brasil? Numa fase posterior achei que essa referência tinha o prazo de validade ultrapassado e desvalorizei-a.

(continua...)

21 janeiro 2007

Âncoras de identidade (I)

Consultei na página da RTP a lista dos 10 finalistas ao concurso dos “Grandes Portugueses” e constatei que a média das suas datas de nascimento é 1623. Significa que somos um país “passado”? Que seria preferível termos figuras fortes mais recentes ao estilo de Churchill para o Reino Unido ou de De Gaulle para a França?

Cada cultura tem as suas âncoras de identidade. Num país novo elas estão frequentemente nas lutas pela independência. Num país mais maduro, estarão mais provavelmente em referências culturais. O facto de, por exemplo, a França se rever numa referência máxima que é um estadista de há poucas décadas, não será assim tão positivo. Os grandes contributos só se vêem a prazo. Achar que o aconteceu “ontem” foi o mais importante de sempre é uma forma de ver "curta".

Costumo brincar com estrangeiros fazendo-os tentar adivinhar a evocação do dia de Portugal: não é político, não é militar, não é nada que se possa imaginar..... é o dia de um poeta! Claro que o é muito mais pela referência épica do que pela lírica, mas não deixa de ser um sinal de maturidade civilizacional enorme.

Por isso, se o vencedor do concurso for alguém de há vários séculos atrás, não o verei de forma nenhuma como um indicador de atraso. Antes pelo contrário, o facto de termos esse passado é um motivo de orgulho no presente e de responsabilidade acrescida para o futuro. O importante é que, quando este concurso for repetido dentro de cinco séculos, se consiga encontrar bons candidatos nos séculos XX e XXI.

Como nota final, este optimismo leva uma boa pancada ao consultar a ordenação da lista dos 90 seguintes. É melhor não ver... :-( . Nessa altura pode-se então argumentar que se trata duma votação pouca representativa.

19 janeiro 2007

Mapas



Tenho uma relação muito séria com mapas. Diria mesmo que não imagino a minha vida sem mapas... Em qualquer país, em qualquer cidade, o mapa é um produto de absoluta primeira necessidade. No caso de não arranjar, tenho que construir lentamente um mapa mental. É que não me sei deslocar sem estar permanentemente a relacionar onde estou com por onde passei antes. Mapeio constantemente o espaço visível em torno de mim: de que lado está o rio e a que sistema pertencem aquelas montanhas.

Um mapa é um objecto sagrado. Tem que ser dobrado da forma certa e arrepia-me vê-lo ser riscado por uma esferográfica.

Não sou capaz de ouvir uma referência geográfica, qualquer que seja a sua dimensão sem perguntar onde fica e acabar por concluir com um pergunta de verificação do tipo “Então fica entre x e y, não é?”. E, se assim não for, recomeçar.

Uma das situações mais confusas e difíceis de processar para mim é pensar que estou virado para Norte quando, na verdade, estou virado para Sul. Apenas me aconteceu duas vezes na vida e só consegui interiorizar a direcção certa depois de chegar a um local conhecido. Até encontrar essa referência lutei por me convencer e recalibrar a minha bússola interna mas sem sucesso.

É fácil adivinhar que tenho uma boa colecção de mapas e que sou capaz de me perder no tempo a consulta-los. Se de locais por onde já passei, para consolidar o conhecimento e confirmar as relações. Se de zonas desconhecidas para tentar adivinhar o terreno e ensaiar hipotéticas viagens.

13 janeiro 2007

Ainda correr...



Bolas! Não consigo deixar de quase me emocionar neste cenário. Fui lá parar meio por acaso. E fiquei a ver o pessoal treinar e correr e pensando na droga da virilha dum lado e na porcaria do joelho do outro. De há uns anos para cá, tem sido assim. Cada vez que apuro um pouco a forma e me sinto melhor, acabo sempre por dar um “passo maior do que as pernas” e, catrapus: lá vem nova mazela. A última já cumpriu um ano. Depois de duas dúzias de km’s bicicleta ainda estava impecável, fiz mais uma dúzia de Km’s em patins, que já não acabarem muito bem, mas ainda achei que dava para, mais tarde, dar uma longa caminhada na praia. E pronto: cá está um joelho a recuperar devagarinho.

Antes de sair fui cheirar de perto a pista. Digam lá se não é bonita!

10 janeiro 2007

Não me falem em inteligência!

É relativamente consensual que a inteligência e a capacidade de analisar e interpretar são qualidades supremas. Que sem elas o ser humano é uma besta e que elas são o principal motor de evolução. Inclusive, é com alguma frequência que face a uma mais ou menos grave inépcia ou incompetência, se ouve argumentar, abonatoriamente, que até é uma pessoa de elevada inteligência!

O caminho para realizar algo tem distintas etapas. Capacidade de analisar e de entender o que se passa é somente a primeira. Depois é necessário saber planear. Escolher por onde começar, definir fases e prioridades. Requer algo mais do que inteligência, nomeadamente pragmatismo, criatividade e alguma ousadia.

Em seguida, é necessário realizar. Requer perseverança, disciplina e suor. Durante a realização avaliar a conformidade e a viabilidade do planeado e corrigir ou insistir. Requer frieza, coragem e capacidade de tomar decisões.

Sendo a maior parte das realizações trabalhos em equipa, o sucesso depende da qualidade do relacionamento humano. Da capacidade de liderar e dos graus de lealdade e confiança mútuas e, sobretudo, da sanidade do carácter,

Todo o esforço de nada serve se não for levado até ao fim. Requer robustez psicológica para não desistir face aos imprevistos. Para os contornar ou os derrubar. E, já agora, concluir com sucesso dentro dos objectivos. Requer tudo o que foi referido atrás e até mesmo, um pouco de sorte.

Por isso, não me falem em inteligência sem mais. Não tenho pachorra para quem se limita a analisar e a apontar o que deve ser feito.

07 janeiro 2007

A mais perigosa

Ó juventude rica e incompreendida! Um amigo mais velho, um pedaço de liberdade, um vislumbre de pátria ter-te-ia sido bastante, e no entanto sentias ânsias doentias por entre colegas rudes e insípidos mestres-escola! Dentro de tais limites perdi rapidamente a minha alegre inocência e descobri a sede de conhecimento e de prazer; ao mesmo tempo, aprendi a dor da existência, a sensação de alheamento e a mais perigosa de todas as doenças da alma, a pena de mim mesmo.

Hermann Hesse in “Contos sublimes”

05 janeiro 2007

A próxima semana

Hoje está a acabar o meu fim de semana enquanto na maior parte do mundo está apenas a começar....

Aqui na Argélia o fim de semana é quinta e sexta-feira, pelo princípio de que sexta-feira é o dia santo islâmico, assim como sábado é o judeu e domingo o cristão. No entanto, por questões práticas, a grande maioria dos países islâmicos está já rendida ao fim de semana “internacional”.

À partida, esta diferença parecia implicar “somente” (?!) a descoordenação de não haver mais do que 3 dias por semana sincronizados com Portugal. Fora desses 3 dias, está-se desencontrado e condicionado: ou é fim de semana lá, ou cá.

Mas há mais. Primeiro descobri que é fácil não ter fim de semana de todo. Sendo na 5ª e na 6ª solicitado pelo que se passa do outro lado, e entretido a dar sequência, é fácil encadear as semanas umas nas outras sem pausa. Tento “controlar-me” para pelo menos na 6ªfeira tentar desligar. Não foi bem o caso de hoje...

Depois, aos dias em que não se trabalha, nós chamamos “sábado” e “domingo”. A consequência é ver-me a chamar “domingo” à sexta-feira e “sábado” à quinta.

O outro efeito imprevisto, e mais radical, é a anulação completa da conceito de mudança de semana. Aqui a semana passada terminou há 2 dias, na quarta-feira anterior enquanto que em Portugal já foi há bastante mais tempo. Amanhã, aqui, quando se falar no início da próxima semana será dentro de 7 dias, no sábado seguinte; em Portugal será dentro de 2 dias na segunda-feira seguinte. A defesa é apagar do glossário as expressões “esta semana” e “final de semana”. Veremos se o “fim de semana” resistirá.

03 janeiro 2007

Tribos e "tribinhos"

Não sou especialista em sociologia mas parece-me claro que o homem se agrupa para se proteger. Um dos maiores factores de mobilização e agregação é a presença de uma ameaça. Muitas vezes na História as ameaças foram colocadas em evidência e mesmo amplificadas por líderes ameaçados na sua liderança ou somente inseguros (fica o convite para a lista...).

Sendo claro que convivemos quotidianamente com ameaças de todo o tipo, em maior ou menor grau, será normal que no relacionamento social se vão fazendo e desfazendo coligações, agregando ou desagregando grupos, conforme o perfil e a intensidade da ameaça pressentida.

Eu, nesse campo, tenho um sério problema. Acredito que valores como o rigor e a frontalidade, a prazo, acabarão sempre por se sobrepor às ameaças de fundamentação duvidosa. Também sou incapaz de me agregar quando estão em causa questões como a competência ou a honestidade intelectual. Como tal, em ambiente balcanizado, sobrevivo com dificuldade porque não assumo uma filiação tribal. É impossível agradar a gregos e a troianos mas também é difícil não ser nem grego nem troiano quando a guerra se declara.

A excepção será a situação de “guerra justa”, mas quantas guerrinhas traiçoeiras não nascem por aí todos os dias?

Complemento de informação, a pedido: Um tribinho não é um grupo. É uma pessoa daquelas que só sobrevive em tribozinhas.