21 janeiro 2007

Âncoras de identidade (I)

Consultei na página da RTP a lista dos 10 finalistas ao concurso dos “Grandes Portugueses” e constatei que a média das suas datas de nascimento é 1623. Significa que somos um país “passado”? Que seria preferível termos figuras fortes mais recentes ao estilo de Churchill para o Reino Unido ou de De Gaulle para a França?

Cada cultura tem as suas âncoras de identidade. Num país novo elas estão frequentemente nas lutas pela independência. Num país mais maduro, estarão mais provavelmente em referências culturais. O facto de, por exemplo, a França se rever numa referência máxima que é um estadista de há poucas décadas, não será assim tão positivo. Os grandes contributos só se vêem a prazo. Achar que o aconteceu “ontem” foi o mais importante de sempre é uma forma de ver "curta".

Costumo brincar com estrangeiros fazendo-os tentar adivinhar a evocação do dia de Portugal: não é político, não é militar, não é nada que se possa imaginar..... é o dia de um poeta! Claro que o é muito mais pela referência épica do que pela lírica, mas não deixa de ser um sinal de maturidade civilizacional enorme.

Por isso, se o vencedor do concurso for alguém de há vários séculos atrás, não o verei de forma nenhuma como um indicador de atraso. Antes pelo contrário, o facto de termos esse passado é um motivo de orgulho no presente e de responsabilidade acrescida para o futuro. O importante é que, quando este concurso for repetido dentro de cinco séculos, se consiga encontrar bons candidatos nos séculos XX e XXI.

Como nota final, este optimismo leva uma boa pancada ao consultar a ordenação da lista dos 90 seguintes. É melhor não ver... :-( . Nessa altura pode-se então argumentar que se trata duma votação pouca representativa.

2 comentários:

Maria Manuel disse...

Reflexões soltas sobre esses 10 1ºs:

 Preocupante que entre eles estejam, pelo menos, 3 comprovados déspotas, independentemente do seu valor.
 Enternecedor e justíssimo que entre os 1ºs posicionados figure Aristides de Sousa Mendes, homem grande pela generosidade e solidariedade, que acabou na miséria; pena que à sua frente figure o principal responsável pelo seu final triste!
 Gratificante que entre eles figurem dois poetas maiores, que não viram o seu valor reconhecido pelos seus contemporâneos…
 Que o 1º continue a ser o 1º… é natural :-)
 Surpresa, para mim, a posição de Álvaro Cunhal!

Maria Manuel disse...
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