Se desde Afonso III e a conquista definitiva de Silves passou a existir rei de Portugal e dos Algarves, se hoje o antigo ocidente do Andaluz é simplesmente uma província do país, aquela terra, para lá dos montes de Monchique e Caldeirão, continua a ter algo de diferente.
Glosa (do grego “glossa” – língua): Interpretação de um texto obscuro; anotação; comentário à margem // Crua: Que está por cozer, curtir, corar; no estado natural; que não está maduro
22 setembro 2020
De Portugal e dos Algarves
Se desde Afonso III e a conquista definitiva de Silves passou a existir rei de Portugal e dos Algarves, se hoje o antigo ocidente do Andaluz é simplesmente uma província do país, aquela terra, para lá dos montes de Monchique e Caldeirão, continua a ter algo de diferente.
29 agosto 2020
“Reguengolaniar”
O triste relato e retrato dos acontecimentos em Reguengos de Monsaraz tem um significado que ultrapassa o lar de idosos da cidade alentejana e o contexto da atual pandemia. Tanta falha, desleixo, irresponsabilidade e inação são um sinal de um sistema disfuncional. E este problema não é certamente exclusivo de Reguengos.
17 agosto 2020
Isto de cativar…
É necessário denunciar Luis de Camões. Então, não é que em vez de condenar a escravatura, resolveu escrever poemas sobra uma bela (?) cativa que supostamente o tinha cativo – rica ironia! Um mau exemplo que perdurou. Mesmo no século XX, reputados esclavagistas como Zeca Afonso e Sérgio Godinho ainda tiveram o desplante de musicar e cantar a “bela cativa”. Obviamente, não podemos nem devemos olvidar que o poeta, despudorado esclavagista, manteve até à sua morte um escravo, Jau, trazido do Oriente.
Os Lusíadas são pouco mais do que o exaltar de uma campanha miserável que levou a escravatura aos quatro cantos do mundo. Algo que nos deveríamos envergonhar profundamente. “Shame on you!”; queimem os livros; estátuas abaixo e toponímia corrigida!
E não nos acusem de violência. Num passado não muito longínquo, jovens burgueses revoltados contra o seu próprio meio sociocultural, chegaram a despoletar bombas em estações de caminho de ferro. Aqui não se mata ninguém, apenas uma cultura podre, que indiscutivelmente é podre e nefasta.
Não, ainda não chegaram ao ponto de derrubar estátuas de Camões e mudar nome de ruas e praças, mas a lógica subjacente está lá, se pensarmos, por exemplo, no Padre António Vieira.
Sim, está em causa destruir uma cultura, a própria. Sim, é esse o objetivo destas excitações. Com todos os defeitos e virtudes, crimes e maravilhas que balizaram o seu caminho é a nossa história e raiz. O mínimo dos mínimos é construir o futuro lendo justamente o passado. As políticas de terra queimada nunca trouxeram nada de bom, especialmente no domínio cultural. Isto de cativar julgamentos e aprisionar pensamentos é muito mau sinal.
14 agosto 2020
“Hidrogenizar” a energia
13 maio 2020
05 maio 2020
Legitimidade
Mas também há ruturas na legitimidade. Por exemplo, uma revolução nunca será legitima à luz do quadro vigente, pela simples razão de que certamente nenhum código prevê e enquadra uma transição de poder dessa forma. Aí teremos a chamada legitimidade revolucionária, indispensável, mas que se quer transitória. E não faltam revoluções em que os seus líderes se “legitimam” donos do poder ad eternum, mesmo à revelia do programa inicial. O "Ganhamos, é nosso!", foi um princípio infelizmente adotado em muitas independências pós-coloniais.
Depois, há as auto-legitimizações, em que se trata de reformatar, adaptar a lei com o único objetivo de servir um interesse particular e não o geral. Por exemplo, mudar uma Constituição para eliminar a limitação de mandatos, quando o Presidente em funções chega ao limite.
Tudo isto vem a propósito das comemorações do 1º de Maio pela CGTP em Lisboa. À luz das regras gerais em vigor no dia era ilegítima, iníqua e irresponsável. O fato de na regulamentação do estado de emergência, ter sido acrescentada uma alínea muito especifica a legitimar o evento, pode ter resolvido o problema formal, mas não resolve o problema de fundo, pelo contrário. Um xadrez que se dispensava ter sido jogado.
01 maio 2020
Crime e castigo
Hoje, ser-me-ia proibido fazer essa travessia e sair do meu concelho, mas arrisquei. Com espírito de contrabandista, lancei-me no troço clandestino. Nesse percurso existe uma passagem improvisada sobre um curso de água, feita com umas tábuas manhosas, que costumo abordar com bastante prudência, redobrada esta manhã pelo ingrediente adicional de a madeira estar molhada e mais escorregadia. Infelizmente havia ainda outro ingrediente mais, que não detetei a tempo: as tábuas estavam inclinadas. De forma que ao, por segurança, colocar o pé no chão, ele não ficou estável e eu parti para uma cambalhota e um mergulho completo.
Ultrapassada a fase inicial de uma breve discussão inglória com a força da gravidade, verificado após emergir que a bicicleta não fugira para longe e posteriormente que a embalagem semiestanque do telemóvel tinha aguentado, reconheço que a temperatura da água não estava tão desagradável e que para a quantidade de lama acumulada, o mergulho até serviu de pré-lavagem… e certamente castigo contra a transgressão. Merecido ou não, é outra questão.
Pode-se entender que na Páscoa, naquela fase e atendendo à tradição das viagens e dos reencontros familiares alargados, poderia fazer sentido o travão. Neste fim de semana, já me parece absolutamente abusivo e um tique de quem ganhou o gosto. Que não se consolide o tique, esperemos. E da iniciativa da Intersindical para o dia, “nada” a acrescentar.
29 abril 2020
24 de abril e bacalhau
22 abril 2020
Liturgias, forma e conteúdo
Pertencendo eu ainda a uma geração que viu o 25 de Abril, para mim não se trata de uma data apenas histórica e muito já escrevi aí para trás sobre o tema (ver etiqueta correspondente). Quando se fala nas respetivas comemorações, há duas coisas que se repetem, quase tão certo como chegarem as andorinhas na primavera.
A primeira é o carater enfadonho das comemorações oficiais, incapazes de passarem uma mensagem mobilizadora e de transmitir algo que seja ouvido com interesse, sobretudo por quem não viveu nem o antes nem o dia, sendo que isso devia ser o prioritário. São discursos dos próprios para os próprios e como se bastasse uma vez por ano ir ao frigorifico ou à estufa buscar um cravo vermelho e cumprir uma liturgia.
A segunda é a facilidade com que se arranja uma polémica, seja sobre a forma, seja sobre quem se convida ou quem participa. O subjacente à maioria das polémicas é existir um grupo que entende ser mais igual do que os outros, quando o 25 de Abril no espírito e na realidade do dia foi muitíssimo mais abrangente do que pretendem alguns agora reivindicar e capitalizar.
A situação excecional que o país e milhões de portugueses vivem exigia fazer diferente e não invocar um “direito adquirido” a celebrar, simplesmente como dantes. Vejam as imagens impressionantes de Roma nas celebrações pascais. Perderam impacto e significado pela adaptação ao tempo atual? Não, muito pelo contrário. Por aqui, fazemos umas contas mais ou menos científicas quanto a lotações e distâncias e tudo como sempre. Desculpem lá, mas podem deixar de ficar parados a olhar para trás e ter sensibilidade para entender e falar ao país presente? 25 de Abril deveria ser futuro e não passado.
20 abril 2020
A OMS está doente?
O tweet informava que, à data, segundo as autoridades chinesas não havia evidencia clara que o Covid 19 fosse contagioso entre humanos! Portanto a China enganou a OMS, descaradamente, esta acreditou e reproduziu ingenuamente a patranha. Posteriormente, ao constatar que tinha sido aldrabada não a vi dar nenhum raspanete valente à China, pelo contrário, só me recordo de elogios à forma como o país estava a lidar com a epidemia.
Obviamente que o papel da OMS não termina aqui e enviablizá-la não é solução, mas que a gestão desta crise foi muito pouco saudável e a necessitar de algum tratamento, sem dúvida.
17 abril 2020
Histórias para voar
Luís Sepúlveda foi, para mim, um desses. Grato pelas belas histórias.
15 abril 2020
Sensações de segurança
Mesmo o ABS nos automóveis não é assim uma grande ideia. Dá uma falsa sensação de segurança. Mesmo fechar à chave a porte de casa… não garante que não seja assaltado.
Não faltam exemplos de coisas que contribuem positivamente, mas sem garantirem e parece-me que a questão da utilização de máscaras no contexto atual de pandemia entra nesse capítulo. Sendo que tanto protegem a entrada como a saída do bicho e considerando a existência de contaminados assintomáticos, é obviamente absurdo sugerir a sua utilização em função dos “sintomas”…
Obviamente que se não há máscaras suficientes para toda a gente, deve ser dada prioridade a quem delas mais precisa, mas se não há XPTOs, inventem, improvisem, XPTPs ou XPTQs, que não garantam mas contribuam. O que não faz sentido é eu ir ao supermercado e mais de metade do pessoal andar por ali sem máscara…
09 abril 2020
Depois
06 abril 2020
Depois da Primavera
05 abril 2020
Viva quem canta
Um cantante autor popular, num dos sentidos mais puros e ricos do tema. A sua música entra por todos os ouvidos, simples de ouvir, mas não pobre. A difícil qualidade do não complicado. E aqui fica uma bela memória porque não vale a pena mais conversa inventar.
Menina em teu peito sinto o Tejo
E vontades marinheiras de aproar
Menina em teus lábios sinto fontes
De água doce que corre sem parar
Menina em teus olhos vejo espelhos
E em teus cabelos nuvens de encantar
E em teu corpo inteiro sinto feno
Rijo e tenro que nem sei explicar
Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar
Que eu só por mim quero te tanto
Que não vai haver menina para sobrar
Aprendi nos 'esteiros' com Soeiro
E aprendi na 'fanga' com Redol
Tenho no rio grande o mundo inteiro
E sinto o mundo inteiro no teu colo
Aprendi a amar a madrugada
Que desponta em mim quando sorris
És um rio cheio de água lavada
E dás rumo à fragata que escolhi
Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar
Que eu só por mim quero te tanto
Que não vai haver menina para sobrar