29 março 2007

Podia ser pior

Há uma reacção bem portuguesa a uma má notícia que é o “podia ser pior!”.

Teve um pequeno acidente? Podia ter sido pior, podia ter destruído o carro...!
Destrui o carro? Podia ter sido pior, podia ter-se magoado a sério...!
Partiu um braço? Podia ter sido pior, podia ter partido os dois ...!
Amputou uma perna? Podia ter sido pior, podia ter ficado lá ...!
Morreu? Podia ter sido pior, se levasse a família toda no carro...!
Morreram todos? Antes eles do que eu!!!!

Chega a ir muito para lá do copo meio cheio/meio vazio. Desde que este tenha uma gotinha ou um vestígio de humidade, já é melhor do que estar completamente seco...

Isto tudo para dizer que a eleição do “Grande Português”... podia ter sido pior...! Explico. Tendo sido escolhido Salazar pode-se discutir porque raio tanta gente telefonou para aquele número, mas resulta obviamente num descrédito total da iniciativa. Quando alguém referir esse título será visto com ironia, perplexidade e sem valor.

Imaginemos agora que Mário Soares passava à final e tinha ganho! Arre...!!! Uma boa parte dos mesmos altos opinantes que hoje descreditam o concurso, não hesitariam em passar a carimbar todo e qualquer alusão a Mário Soares, com um “aquele que foi considerado o maior português de todos os tempos!”. Seria absolutamente nauseante...!

Enquanto a escolha de Salazar terá acontecido por ignorância ou instinto básico de contrariar, a de Soares teria por efeito amplificar e consolidar um equívoco que tarda em desaparecer....

27 março 2007

Salazar, por contradição ou ignorância

Há várias formas de encarar o resultado obtido por Salazar no famoso concurso dos Grandes Portugueses. Uma delas é supor que se Pinto da Costa tivesse passado à final, provavelmente também teria batido Fernando Pessoa e Luís de Camões, sendo isso já suficiente para definir os créditos a dar a esta iniciativa. Outra perspectiva é a interrogação sobre o real significado que Salazar terá hoje em Portugal.

Por um lado, haverá o fenómeno da contradição, por princípio. Há um segmento da população frustrada, passiva e pessimista que à noite acha que deveria ser dia e que, de dia, preferirá a noite. Os chamados “do contra”, funcionando sempre pelo “contra” e nunca pelo “por”. O que não temos é sempre aquilo que faz falta. Serão aqueles que em ditadura clamam, bem baixinho é certo, por liberdade e que em democracia suspiram pela “autoridade”. Para estes, não há muito a fazer.

Por outro lado, existirá outro factor que espero bem que seja unicamente ignorância. Numa análise racional e fria, do que foi o Portugal de Salazar, é evidente que o balanço final é claramente negativo. E em termos de atitude, um país que se preze não se pode identificar e abrigar na figura de um pai tacanho, severo e austero, a menos que insista ad eternum numa postura de menoridade cívica. Mesmo dando de barato a questão da repressão política, apreciar positivamente Salazar é querer ser pequenino. E, é bom que, a ser assim, isso aconteça apenas por ignorância, senão estaremos muito mais para trás do que pensamos.

Quando Miguel Torga foi preso, um prisioneiro de delito comum perguntou-lhe o que ele tinha feito para estar ali. Torga respondeu que tinha escrito um livro (“Criação do Mundo IV”). O preso exclamou “oh diabo!”, assumindo implicitamente que o crime do escritor era bem mais grave do que o seu.

25 março 2007

O macaco nu e os macacões

Escrevia Desmond Morris, nos anos 60, no seu interessante livro “O macaco nu” que os desafios de futebol apelam a instintos primitivos e são hoje em dia uma espécie de sucedâneo das guerras tribais do passado. O comportamento dos hooligans, entretanto aparecidos em força, só lhe dá razão.

Nesta perspectiva, os “conflitos” entre as selecções nacionais estarão quase ao nível de uma guerra entre nações e, talvez por isso, as selecções mobilizem bandeiras como poucas outras coisas mais.

Um país complexado, que se acha superior a outro, põe em jogo, nessa partida, a sua honra. Perder com a Alemanha pode ser uma derrota honrosa, mas perder contra os anões Portugueses é, sem dúvida, uma vergonha nacional.

O facto de um “petit belge” ter anunciado que a estratégia do jogo passaria por pôr o C. Ronaldo numa maca em 2 minutos, demonstra nervosismo extremo pela perspectiva da desonra; limitação intelectual e perspicácia nula por não conseguir antecipar os efeitos de semelhante afirmação pública; tacanhez e mesquinhez por, em seguida, em vez de corrigir humildemente o “tiro”, ainda conseguir mostrar sorrisinho irónico e, em resumo, ausência de espelhos: se se conseguissem ver ao espelho, entenderiam claramente porque são eles os “petits”; mesmo quando insistem em chamar “anões” aos outros.

Como é evidente, ver o dito cujo a apalpar o ar atrás da bola e esta ir ter à cabeça do C. Ronaldo, para este a fazer aterrar nas redes, foi uma enorme satisfação. Pelo golo em si e pela desonra infligida à arrogância pobre.

Para concluir, uma ressalva para pôr fora do saco alguns belgas correctos que conheci e um abraço ao FC e ao RM em memória das lutas gloriosas na TA!

23 março 2007

Navegar é preciso



Dizia a confederação Hanseática e cantou o Caetano.

Navegar não é só o dos marinheiros que, dos portos de nevoeiro, saíam para as ilhas dos cheiros e do Sol e que regressavam temperados e curtidos, contando histórias de tempestades, baleias e piratas.

Navegar é, como dizia Machado, “fazer o caminho ao andar”.
Navegar é percorrer com um dedo os rios e caminhos de um mapa.
Navegar é, de cabeça levantada, sorrir à passagem das luas e das águas.

Ou pode ser apenas improvisar uma cadeira partida, num bote decrépito, na areia, de costas para o mar.

É sempre navegar...

20 março 2007

Deitar cedo e cedo erguer...

Dizem que dá saúde e faz crescer...

Apesar de não ser um fundamentalista do acordar cedo, sou bastante indefectível do deitar cedo. Nos tempos da faculdade, na véspera dos testes, raramente me deitava depois das 23h, mesmo que ainda tivesse matéria por rever. Entendia que estar “fresco” era preferível a ter tudo revisto, mas debilitado com cabeça “cansada” por ter dormido pouco.

Não sendo, nem nunca tendo sido, um “acorda cedo militante”, não deixo de, de certa forma, me encantar com algumas madrugadas pontuais e realço pontuais. Ou voluntariamente para ir registar a luz do Sol nascente, ou por um compromisso qualquer como apanhar um avião que parte a horas malditas, há algo de ritual naquele acordar fora de horas e no sair para a rua antes de todos.

Seja no assistir ao nascer o dia ou na simples diferença e evolução do matiz da luz matinal, percorrer os caminhos conhecidos nessas horas desalinhadas é, de alguma maneira, uma descoberta e, pelo menos seguramente, ver o mundo de forma diferente.

Acrescentada em 24/03 porque achei que faltava aqui uma foto...

17 março 2007

O fim das colónias

Sabe-se bem que o principal combustível do motor dos movimentos independentistas das décadas de 50 e 60 não foi o apoio à nobre causa da autodeterminação dos povos, mas sim uma tentativa de redesenhar as esferas de influência mundiais das duas novas grandes potências, vencedoras da segunda guerra mundial. A Europa lá foi saindo como pôde, uns com alguma inteligência como a França na África Ocidental a quem deu a independência e, já agora, também uma moeda e outros bastante mal como a mesma França na Argélia e, está bom de ver, Portugal.

Durante as décadas seguintes a esmagadora maioria desses novos países mantiveram-se em condições miseráveis, mesmo aqueles em que a riqueza de recursos permitiria prever uma situação diferente. Entre outras coisas, os antigos colonizadores continuavam a ser os grandes clientes que controlavam mais ou menos bem esses mercados.

Mas, recentemente, temos novidades. A China, que começou por ser somente uma base de mão-de-obra barata, foi paulatinamente aprendendo e subindo na cadeia de valor até começar a dispensar a tecnologia e o conhecimento ocidental para muita coisa. Tornou-se rica e gulosa de recursos naturais/energéticos, desequilibrando o mercado de matérias primas. A tomada de posição da China em África em geral, e em particular em Angola, é irreversível e completamente imune a influência do “Ocidente”.

Por outro lado a Europa descobre o gás natural como uma bela alternativa ao petróleo. Tem algumas particularidades. Uma delas é que não se acumula facilmente. Quando a Rússia se zanga com um vizinho e aperta a torneira, em poucas horas a Europa ressente-se. O outro importante fornecedor da Europa, é a Argélia e os dois têm conversado bastante ultimamente, falando-se já abertamente de uma “Opep do Gás”. Zangada com o apoio de Espanha a Marrocos no diferendo sobre o Sahra Ocidental, a Argélia castiga-a procurando subir o preço do gás. Um jornal argelino de 13/3/2007 diz entusiasmado:

[...] a Argélia dispõe de um instrumento tão poderoso como o petróleo para “punir” economicamente aqueles que a contrariem diplomaticamente. É que os nossos gazoductos não transportam somente gás para agradar aos nossos clientes mas também, e sobretudo, ideias. [..] através da sua riqueza em gás, a Argélia dispõe de uma verdadeira arma energética de dissuasão.
Com os Chineses e os Indianos cada vez mais ricos e a produzirem cada vez mais coisas sem pedirem licença para tal e com o seu aprovisionamento energético tão débil, receio bem que, para a Europa, agora sim, seja o fim das colónias. Se o mundo ficará melhor ou pior, é outra questão.

15 março 2007

Quantos códigos secretos?

Não, não tem nada a ver com esoterismo ou literatura da moda do tipo “Código da Vinci versão triz”.

O problema é a quantidade de códigos mais ou menos secretos com que tenho que lidar....Acho que o problema não é especifico meu, mas começo a senti-lo de uma forma muito aguda, ainda para mais agora em que, devido a períodos de ausência prolongados, passei tudo o que podia para “electrónico”.

Vejamos:

De correio electrónico tenho yahoo, hotmail, gmail, sapo, viactt e outros mais dos quais já perdi o rasto.... Para acesso internet tenho o Sapo e o Clixfree. De uso profissional há que contar com acesso rede, vpn, extranet, acesso net e bloqueio telefone.
Depois, tenho os contratos da Edp, PT, Sapo, Vodafone e Via Verde. Banco pela net tenho dois. De cartões MB/Visa há 3 pins, mas tende a “piorar” porque os Visas estão a passar todos para pin. Pins de telemóveis são dois: português e argelino. Público, NYTimes e Jornal de Negócios estão no capítulo dos jornais on-line. Ainda a Infopédia. Cartões de fidelidade deveriam ser para aí uma dúzia mas não já sei a quantas ando...

Assim de repente dá um total de 27 ! Junta-se ainda o facto de algumas delas terem validade, expirarem e não poderem ser repetidas antes do próximo “século”....

A boa notícia é que o Blogger se integrou no GMail e desapareceu uma...! A propósito de blogger, tinha-me esquecido do Sitemeter...

E, já que estamos em tempo de IRS, há ainda o código de acesso ao site das declarações electrónicas do Ministério das Finanças

Conclusão: Algumas clássicas sei de cor e espero nunca vir a ter uma “branca”. Para outras tenho um ficheirinho protegido onde guardo tudo, mais ou menos encriptado... e protegido por uma outra palavra-chave... esperando não me esquecer nem da palavra-chave de acesso ao ficheiro nem da técnica de encriptação.

Se me der a “branca” ou perder esse ficheiro, sinceramente, não sei como conseguirei sobreviver!

11 março 2007

Pensando (II)

Pensei nas pessoas com quem me cruzei. Escalpelizando as memórias dos episódios formidáveis. Mas não ... mesmo disfarçando e trocando nomes e cenários estaria a contar o que não me autorizaram.

Pensei ter que optar. Entre um guião difuso de direcção sinuosa e improvisada e uma estrutura rigorosamente projectada onde só faltaria preencher os espaços. E não soube que alternativa tomar.

Pensei ainda que fazer preâmbulos e interpelar (im)prováveis leitores é uma forma de contornar o âmago e de fugir ao motivo.

Por tudo isto não encontraria nenhuma sustentação ou argumento para continuar. Lembrei-me então que sou teimoso. E sob o risco de parecer incoerente decidi avançar. Ao menos ninguém saberá ao certo no que eu pensava ao começar.

09 março 2007

Pensando (I)

Pensei então no que estaria no fundo de mim e que poderia facilmente destilar em prosa corrida. O que me surpreende: As pessoas; O que me agrada: Sorrisos, franqueza, inteligência O que me desagrada: Mesquinhez, arrogância, abuso. Por aqui não teremos nada de novo nem de especialmente interessante.

Pensei depois nas milhentas pequenas coisas que me aconteceram e que vi acontecer. Pensei nos lugares próximos e longínquos, estranhos e surpreendentes que se me incrustaram ao longo do tempo. Mas é tarde. Não tenho esperança de conseguir mostrar decentemente e com riqueza essa macedónia de recordações e sabores misturados.

Pensei ainda no que me conta o meu travesseiro. Nas fantasias acarinhadas, nos sonhos de criança ainda não azedados. Inventaria o meu herói que teria como base inquestionável o conseguir tudo. Entre épico e desgraçado. Entre a saga que o levaria ao pódio dos meus heróis de sempre acarinhados e a sublime nobreza de ficar de tudo desligado. Mas sobre isto acho que já há demasiado.

Pensei em construir uma história simples e genial mas achei que não conseguiria ritmo para o enredo nem profundidade para as personagens.

07 março 2007

No aproveitar é que está o ganho?

Na Argélia não há bacalhau nem carne de porco.

Quando vou a Portugal, na minha ida mensal, “aproveito”. O que acontece na prática é que “aproveito” tanto que acho que acabo por comer mais bacalhau e carne de porco do que se passasse o mês inteiro em Portuagal.

Ou seja, aproveitar as oportunidades escassas pode ter uma média bem diferente de escassa.

Se é ganho ou não, fica por concluir.

02 março 2007

Ainda as velhas rimas em “ar”

Os cometas, resplandecentes, brilham porque singram. Se parassem apagavam, não se podem agarrar.

Os cometas, estonteantes, são belos à distância. Mas a trajectória é fulgurante, impossível de acompanhar.

Os cometas, ardentes, queimam aqueles que demasiado perto chegam. Há brilhos de cegar.

Os cometas, errantes, afastam-se inapeláveis. Não parece aceitável chorar ou vê-los chorar.

Os cometas, ausentes, não se sabe se regressam. Mas é sempre demasiado o tempo a esperar

Pudesse eu ser um cometa, pudesses tu comigo singrar e infinitamente no espaço-tempo as nossas duas caudas entrelaçar.