Há várias formas de encarar o resultado obtido por Salazar no famoso concurso dos Grandes Portugueses. Uma delas é supor que se Pinto da Costa tivesse passado à final, provavelmente também teria batido Fernando Pessoa e Luís de Camões, sendo isso já suficiente para definir os créditos a dar a esta iniciativa. Outra perspectiva é a interrogação sobre o real significado que Salazar terá hoje em Portugal.
Por um lado, haverá o fenómeno da contradição, por princípio. Há um segmento da população frustrada, passiva e pessimista que à noite acha que deveria ser dia e que, de dia, preferirá a noite. Os chamados “do contra”, funcionando sempre pelo “contra” e nunca pelo “por”. O que não temos é sempre aquilo que faz falta. Serão aqueles que em ditadura clamam, bem baixinho é certo, por liberdade e que em democracia suspiram pela “autoridade”. Para estes, não há muito a fazer.
Por outro lado, existirá outro factor que espero bem que seja unicamente ignorância. Numa análise racional e fria, do que foi o Portugal de Salazar, é evidente que o balanço final é claramente negativo. E em termos de atitude, um país que se preze não se pode identificar e abrigar na figura de um pai tacanho, severo e austero, a menos que insista ad eternum numa postura de menoridade cívica. Mesmo dando de barato a questão da repressão política, apreciar positivamente Salazar é querer ser pequenino. E, é bom que, a ser assim, isso aconteça apenas por ignorância, senão estaremos muito mais para trás do que pensamos.
Quando Miguel Torga foi preso, um prisioneiro de delito comum perguntou-lhe o que ele tinha feito para estar ali. Torga respondeu que tinha escrito um livro (“Criação do Mundo IV”). O preso exclamou “oh diabo!”, assumindo implicitamente que o crime do escritor era bem mais grave do que o seu.
Por um lado, haverá o fenómeno da contradição, por princípio. Há um segmento da população frustrada, passiva e pessimista que à noite acha que deveria ser dia e que, de dia, preferirá a noite. Os chamados “do contra”, funcionando sempre pelo “contra” e nunca pelo “por”. O que não temos é sempre aquilo que faz falta. Serão aqueles que em ditadura clamam, bem baixinho é certo, por liberdade e que em democracia suspiram pela “autoridade”. Para estes, não há muito a fazer.
Por outro lado, existirá outro factor que espero bem que seja unicamente ignorância. Numa análise racional e fria, do que foi o Portugal de Salazar, é evidente que o balanço final é claramente negativo. E em termos de atitude, um país que se preze não se pode identificar e abrigar na figura de um pai tacanho, severo e austero, a menos que insista ad eternum numa postura de menoridade cívica. Mesmo dando de barato a questão da repressão política, apreciar positivamente Salazar é querer ser pequenino. E, é bom que, a ser assim, isso aconteça apenas por ignorância, senão estaremos muito mais para trás do que pensamos.
Quando Miguel Torga foi preso, um prisioneiro de delito comum perguntou-lhe o que ele tinha feito para estar ali. Torga respondeu que tinha escrito um livro (“Criação do Mundo IV”). O preso exclamou “oh diabo!”, assumindo implicitamente que o crime do escritor era bem mais grave do que o seu.
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