Este texo, de contexto datado, foi publicado no jornal Público em 20 de Março de 2005, como "Carta ao Director". O tema de fundo é, na minha opinião, universal...
O facto de Bono dos U2 ter sido considerado como um possível líder do Banco Mundial, apoiado pelo Secretário de Estado do tesouro dos USA, é surpreendente.
Talvez menos surpreendente seja o facto de alguns financeiros e economistas carimbarem imediatamente essa hipótese como irrealista, sem sequer analisarem os requisitos da posição e as qualidades de Bono. Independente deste caso particular, que até já está decido de uma forma radicalmente diferente, para muitos, o sucesso só pode ter uma vertente. Se ele já tem sucesso como músico, basta! O sucesso multi-facetado é incómodo e inaceitável para os pequenos de espírito que não aceitam que um estranho, com êxito noutra área, lhes possa passar à frente na sua própria tribo.
E lembrei-me de um dos melhores livros que li recentemente chamado “Budapeste” escrito por um tal Chico Buarque que se revela como um grande escritor. No entanto, como ele já tem sucesso noutras áreas, não será fácil ser reconhecido como grande escritor pela tribo literária.
E lembrei-me de uma criança sonhadora que me dizia ser importante e motivo de grande admiração conseguir “ser-se mais do que uma só coisa”. O seu ídolo era, naturalmente, Leonardo da Vinci. Dentro da lógica anterior, Leonardo da Vinci teria sérios problemas de afirmação. A tribo dos pintores não lhe perdoaria a engenharia; os anatomistas não suportariam que ele também fosse arquitecto, os culinários não gostariam dos seus dotes de escultor e por aí fora. Teria que optar e deveria ficar só num único galho.
O recusar que se seja “mais do que uma coisa” é condenar cada tribo a uma consanguinidade cultural, que é obviamente sinónimo de definhamento.
O facto de Bono dos U2 ter sido considerado como um possível líder do Banco Mundial, apoiado pelo Secretário de Estado do tesouro dos USA, é surpreendente.
Talvez menos surpreendente seja o facto de alguns financeiros e economistas carimbarem imediatamente essa hipótese como irrealista, sem sequer analisarem os requisitos da posição e as qualidades de Bono. Independente deste caso particular, que até já está decido de uma forma radicalmente diferente, para muitos, o sucesso só pode ter uma vertente. Se ele já tem sucesso como músico, basta! O sucesso multi-facetado é incómodo e inaceitável para os pequenos de espírito que não aceitam que um estranho, com êxito noutra área, lhes possa passar à frente na sua própria tribo.
E lembrei-me de um dos melhores livros que li recentemente chamado “Budapeste” escrito por um tal Chico Buarque que se revela como um grande escritor. No entanto, como ele já tem sucesso noutras áreas, não será fácil ser reconhecido como grande escritor pela tribo literária.
E lembrei-me de uma criança sonhadora que me dizia ser importante e motivo de grande admiração conseguir “ser-se mais do que uma só coisa”. O seu ídolo era, naturalmente, Leonardo da Vinci. Dentro da lógica anterior, Leonardo da Vinci teria sérios problemas de afirmação. A tribo dos pintores não lhe perdoaria a engenharia; os anatomistas não suportariam que ele também fosse arquitecto, os culinários não gostariam dos seus dotes de escultor e por aí fora. Teria que optar e deveria ficar só num único galho.
O recusar que se seja “mais do que uma coisa” é condenar cada tribo a uma consanguinidade cultural, que é obviamente sinónimo de definhamento.
2 comentários:
só cá por coisas gostava de ver o curriculum do bono, é que só tratar da imagem do banco mundial não chega, gato das botas! mas por outro lado não tinha pensado nisso como uma versatilidade do bono, isto é o meu espirito definhado :-( tens toda a razão!
"ser" não é um verbo reflexivo!
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