25 julho 2005

Diferenças e direitos


No passado os canhotos eram forçados a escrever com a direita. Hoje isso já não acontece. Hoje estamos a chegar ao outro extremo. Os “diferentes” reclamam “todos os direitos”, mesmo que esses direitos choquem com os direitos de terceiros.

Vim isto a propósito da inesgotável polémica sobre a adopção de crianças por homossexuais. Parece que a diferença entre um casal homossexual e um heterossexual é só o facto de o primeiro não poder procriar e o resto são preconceitos sociais. Como tal, têm o “direito” de adoptar. Evidentemente que há um pequeno detalhe que escapa, que são os direitos das crianças.

Gostaria que os “modernos e descomplexados” fizessem um esforço de “descer à terra” e pensassem num caso seu muito, muito, próximo. Imaginem essa criança a dizer “tenho novos pais!” “Mas qual deles é a mãe e qual é o pai?” Aquelas conversas que se têm tipicamente ora com o pai ora com a mãe, como serão? O que será para uma rapariga ter uma “mãe” masculina? Ou um “pai” feminino? Tudo natural, preconceitos à parte!?!

Eu, estou a pensar em aproveitar esta tendência reivindicativa da diferença para enriquecer a sociedade com um novo grupo que passo a descrever.

Quando o despertador tocar de manhã, vou ter uma vontade irresistível de dormir mais uma hora. Quando sair para trabalhar vou ter a necessidade de parar para um café e para ler o jornal na esplanada durante outra hora. O que tinha para fazer de manhã passará para a tarde. Não conseguirei fazer o intervalo de almoço em menos de duas horas. Pelas 15h30 sentirei uma fraqueza tal que terei de sair.

Aproveitarei a indemnização do despedimento (porque haverá de certeza as duas coisas) para explicar que se trata de um problema real e antigo e que eu serei extraordinariamente infeliz e frustrado se me obrigarem a trabalhar. Há os que nasceram para trabalhar e os que nasceram para não trabalhar; tal e qual como os destros e canhotos. Hoje em dia ninguém condena os canhotos pois não? Eu simplesmente tenho alergia ao trabalho.

Penso que conseguirei um grupo de pressão bem colocado que me ajudará a provar que se trata de um direito que me assiste. Ser feliz e sentir-me realizado, ter casa, carro, gozar férias (?), etc. e sem me obrigarem a fazer aquilo que é contra a minha natureza.

8 comentários:

Julio Machado Vaz disse...

Carlos,
Como sabe, não estou de acordo consigo no que à adopção diz respeito. Mas quanto ao trabalho..., inscreva-me!:). Um abraço, Júlio Machado vaz.

Anónimo disse...

assunto complicado para comentar, vou ser superficial e radical: escolhe entre seres adoptado por um casal homossexual ou ficar numa instituição de crianças, casa pia pode ser? eu preferia ser adoptada por um casal homossexual e tu?

Carlos Sampaio disse...

Caro Prof. Machado Vaz
E as crianças a serem adoptadas, de que lado estarão?

Mónica
Podemos ser ainda mais redutores e eu direi que preferia ir para a Casa Pia do ficar na rua à fome. E será melhor ficar na rua à fome do que ser agredido. Há sempre, sempre, um mal pior. Uma coisa é o contexto e as deficiências do sistema em que vivemos, outra é o princípio

CS

Anónimo disse...

então em que é que ficamos? nos "contextos" que nos determinam uma forma de viver ou nos "principios" que nos possibilitam uma escolha da forma de viver? se vamos ficar agarrados aos contextos o melhor é irmos para barrancos porque lá os touros matam-se por tradição e acho que os paneleiros também devem ter o mesmo destino. por mim prefiro os principios sempre puros, honestos e por amor, mesmo que nem sempre resultem no contexto em que vivemos. não queria divagar mas tu por acaso já visitaste sem ser pela tv um lar de rapazes ou de raparigas, temos cá um bastante famoso por pôr as meninas a tomar banho uma vez por semana e com água fria em pleno inverno e costura até altas horas da noite, pergunta a uma delas se não preferia ter uma caminha quente e um beijo todas as noites antes de dormir dado por um rabeta ou uma sapatona! há para aí muita falta de amor :-)

Anónimo disse...

mas que argumentos tão estúpidos, senhor carlos sampaio. onde é que ficam os direitos das crianças quando se nasce lésbica ou gay e se sabe que tem de se calar a boca porque senão é-se castigado. pela sua ordem de ideias, os homossexuais não deviam ser adoptados por heteros...

Anónimo disse...

Não viesse eu colocar a passadeira vermelha (alguns exageros são aceitáveis) a esta exposição até me roía toda.

Carlos Sampaio disse...

Caro(a) Sr(a) Tangas

Não sei se se nasce lésbica ou gay.
Se se é castigado por isso, é mau e desaprovo evidentemente.
Agora, uma coisa são os adultos e as suas opções e outra coisa são crianças que não podem ser vistas como cãezinhos abandonados coitadinhos que só têm que agradecer tudo o que se lhes possa dar.
Eu acho que mãe é feminina e pai é masculino. Duas mães ou dois pais, acho que confunde!
E também acho que há diferenças significativas entre o masculino e o feminino para além das fisiológicas óbvias. Tudo isto, são coisas que eu acho. Não sou teórico do tema.

Titá disse...

O tema é polémico sem dúvida e também sinto alguma dificuldade em "tomar um partido", mas acredito que se deve pensar primeiro nas crianças e nas possiveis situações dificeis porque terão que passar, ao serem adoptadas por um casal homessexual. Todos sabemos como as crianças, na sua inocencia e sinceridade, podem ser crueis umas para as outras.Imagino a confusão daquelas acbecinhas em idade escolar, por terem dois pais ou duas mães.
Por outro lado, o amor vence tudo. E sou completamente apologista de se dar amor a uma criança e, de facto, pondo assim, não me incomoda que seja por 2 pais ou 2 mães.
MAs acima de tudo não podemos ver as crianças para adopção sempre como umas coitadinhas e usar isso como desculpa para tudo.Acho q há muito a ponderar antes de se tomar uma decisão destas numa sociedade ainda tão tacanha como a nossa.
Bem, creio q nao adiantei nada neste tema, porque de facto eu própria tenho dúvidas (Apesar de já um pouco tendenciais), mas quanto ao trabalho ... Carlos onde me posso inscrever para fazer parte desse grupo?