20 julho 2005

Filosofia de férias

“A Anarquia dos Valores – Será o relativismo fatal?” de Paul Valadier veio ter às minhas mãos estas férias. Pareceu-me que poderia ser interessante, apesar da minha visceral incapacidade de digerir textos filosóficos. Qualquer afirmação fora de contexto muda de valor. É possível, esgrimindo contextos, fazer uma afirmação razoável, ridícula, estúpida, divinal e por aí fora. Acho que é isso que os filósofos fazem e os vários “ismos” não são mais do que várias modas em que se muda a vítima que é virada do avesso no momento.

Consegui ler o livro enquanto ele revisitava Sócrates, Kant, Nietzsche, existencialistas e por aí fora. Quando a autor embalou para as suas conclusões, eu desembraiei. Fiquei a cinco páginas do fim. Foi mesmo morrer na praia.

Acho que muita gente ainda não ultrapassou o trauma pós-Galileu. Se não estamos no centro do mundo, estamos no centro de quê? Um dia, quando se aplicar o princípio da incerteza de Heisenberg a todo o conhecimento, tudo ficará mais calmo.

O meu filósofo preferido continua a ser Fernando Pessoa. Gosto muito mais das análises dos artistas do que das dos filósofos convencionais. Os artistas usam o pincel, os filósofos usam o bisturi. Vão lá desvendar uma mulher bonita com um bisturi, e depois digam que, afinal, nem ficou lá muito bonita...

Talvez por tudo isto, Sartre, o filósofo, esteja datado e Camus, o romancista, fique intemporal. A propósito de Camus, transcrevo um excerto de um muito interessante prefácio a uma reedição de “O Avesso e o Direito”, que nenhum filósofo poderia escrever:

“A miséria impediu-me de crer que tudo está bem debaixo do sol e na história; o sol ensinou-me que a história não é tudo”.

4 comentários:

Titá disse...

Concordo consigo. Não há melhor filósofo do que Fernando Pessoa.

Anónimo disse...

só pra armar: eu gosto mais do descartes sem ele não havia uma matemática tão arrumadinha nos eixos! fernando pessoa, qual o da astrologia? dahh

Anónimo disse...

Quando pegamos no bisturi geralmente temos tendência para começar a dissecar as coisas que nos rodeiam, na ânsia de lhes desvendar todos os mistérios e segredos e atingirmos um qualquer estado superior de conhecimento.

Nem nos apercebemos que, muitas das vezes, ao desconstruirmos o que está à nossa volta estamos precisamente a destruí-lo e a destituí-lo de toda a beleza e encanto que só o pincel lhe dava...

Anónimo disse...

Pois...
Na verdade a filosofia é a arte das artes, não basta um bisturi ou até mesmo um pincel para se fazer seja o que for, a realidade por vezes é muito mais do que aquilo que pensamos. Todos sabemos que as nossas imperfeições sao evidentes.
O ser no estar e o ser do Ente (termos filosoficos) criam uma irreverencia que possivelmente muitos humanos gostariam de possuir.
Nem todos os filosofos são aquilo que defendes, mas apesar de tudo eles existem de uma maneira quase indirecta mas com um papel importante na tua sociedade.
é natural que existam erros, mas esses erros tu não os entendes, na verdade ninguem os entende, enfim...
Para contrariar a tendencia um dia um filosofo A.J ayer disse que: "basta de metafisica" e que os filosofos da epoca nao deveriam ser tao metafisicos e deveriam ser sim, objectivos para que todo este movimento fosse ouvido...
o teu blog está bom, bom trabalho