28 julho 2005

Irra, que irrita!


Portugal está a atravessar uma crise. É mau. Parece haver consciência generalizada do facto. É bom, muito bom, que exista essa consciência. Bastante pior, para além dos grevistas mimados, são os comentaristas que querem atirar o país para o sofá do psicanalista. “Seremos viáveis como país independente?” “Teremos novo rumo possível?” “Estamos esgotados!” bla, bla, bla... Junta-se ainda a invocação da suprema afronta para o orgulho nacional do “o melhor é sermos anexados por Espanha!”. Irra! Podem-me explicar o que ficaríamos objectivamente a ganhar com isso?

Saberão esses comentaristas que já “estamos anexados” a uma coisa chamada EU que, para o bem e para o mal, muito nos condiciona macroeconomicamente? Que uma parte dos problemas que temos é comum aos quatro países do sul do euro? Os PIGS, como carinhosamente chamam os vizinhos do norte a Portugal, Italy, Greece e Spain. Estes quatro países, com exportações menos tecnológicas, são muito mais afectados pela valorização do Euro do que os do norte da Europa. Saberão eles que se tivéssemos ainda o escudo, se decretava uma desvalorização da divisa e, do dia para a noite, ficávamos todos mais pobres e sem contestação nem greves?

Saberão ainda que a Espanha, com contas públicas invejavelmente saudáveis, tem as exportações estagnadas e o crescimento económico baseado no consumo interno e no imobiliário? Para já está bem... e isso ajuda-nos bastante porque para muitas empresas portuguesas o seu mercado doméstico já é naturalmente toda a Península Ibérica, mesmo sem anexação!

O caso mais complicado talvez esteja na Itália. No entanto, dizia-me recentemente um italiano responsável por uma multinacional líder no seu sector que a Itália já tinha sofrido muitas outras crises no passado e que havia conseguido ultrapassa-las. Que desta vez também encontrariam forma de sair.

Eu acho que o Paolo tem toda a razão. Se há problemas a resolver, vamos arregaçar as mangas e atacá-los. Este ficar estendido no divã, entre baforadas de fumo, a fazer a psicanálise da identidade nacional, não adianta nem acrescenta nada. Somente irrita! Irra!

3 comentários:

CLÁUDIA disse...

Irrita, é verdade...

Mas a irritação que se sente não parece ser motor impulsionador com força suficiente para fazer com que se arregacem realmente as mangas e se faça alguma coisa concreta!

Ou será que os portugueses precisam de um motor com mais potência?...

Carlos Sampaio disse...

Cláudia

O motor somos nós.
Neste jogo estamos todos no campo e não na bancada.
Se todos compreendessem isto, já melhorava bastante.

Titá disse...

Concordo consigo.É realmente irritante. Mas, não podemos desmoralizar. Pelo contrário, é esta a hora de aregaçarmos as mangas e fazermos algo. E devemos começar por atacar o comodismo, conformismo, frases feitas e a psicanálise de sofá de sala, em frente à TV.
Eu não gosto particularmente do povo Americano, mas têm algo que admiro: Um Nacionalismo e bairrismo invejaveis e indestrutiveis.É o que nos faz falta...é animar aqui a malta