Em recente viagem de trabalho na Tunísia surpreendi-me com a quantidade de termos franceses misturados nos diálogos em árabe. Alguns de neologismos/ conceitos importados, tipo “boîte de vitesse” e outros aparentemente só por simpatia e derivados de uma conversação anterior em francês. Achei que tal permissividade não era nada elevada nem sinónimo de carácter da língua.
Ironicamente, dou por mim, em seguida, a falar em Português ao telefone, face aos árabes, e a dizer, repetidamente, “transhipment” em vez de transbordo. Concluí que o efeito não seria muito diferente nem, pior ainda, tão raro.
Que pensará um inglês, quando no meio de um discurso em Português, ouvir “coffee break”, “after shave”, “teenager”, “low profile” ou “drink”?
Algumas destas importações têm a ver com neologismos. O “basketball”, pode ser adoptado foneticamente como basquetebol ou ser traduzido para um “balón cesto” como fizeram os espanhóis. Este fenómeno toca todas as línguas. Ao fruto castanha chama-se em flamengo “kastanje”, cujo som nos é muito familiar.
Há outro grupo mais grave. É o imigrante que fala da casa tipo “maison” com janelas tipo “fenêtres”. É também o gestor moderno que acha que a aplicação dos conceitos será mais pura se usar vocabulário de origem. Assim, fala de “assessment” em vez de avaliação e de” training” em vez de formação. Evidentemente um problema de distracção e/ou presunção e/ou ignorância.
Curiosamente os franceses, que tiveram a coragem de inventar o “octets” para fugir ao aparentemente incontornável “byte”, resolveram trocar o “fin de semaine” pelo “week end”,
Sintomático é o caso da informática. No primeiro embate, nem se consegue discernir que “file” é ficheiro e “folder” pasta. Li uma vez que “a competência dum especialista é inversamente proporcional ao número de “palavrões” que utiliza e desconhecidos pelos leigos”. Quem sabe, traduz e clarifica, quem não sabe debita chavões para impressionar. A posterior introdução de versões portuguesas de software tem “nacionalizado” muitos termos. Horrível e lastimável é, pelo contrário, a adopção do Brasileiro, por exemplo, no SAP (planejamento, estoques, faturamento, etc).
Recuando um pouco mais, a influência cultural francesa, no final do século XIX, inundou o Português da altura de inúmeras palavras francesas porque era chique. Como um motorista francês é mais fino do que um português, um motorista fino português chamar-se-ia então chauffeur.
Indo ainda mais atrás, porque é que um médico de crianças se chama pediatra (Grego: “paidós”/criança + “iatros”/médico)? Porque é que uma cidade do mundo se chama cosmopolita (Grego; “Kosmos”/mundo + “polis”/cidade). Foi presunção de, numa dada altura, o grego ter sido considerado elevado e assim ter invadido toda a linguagem erudita? Não sei. O que é um facto é que hoje está na língua e, enquanto um chauffer talvez esteja de saída, o pediatra não. Nota à parte: na minha opinião, para bem entender Português, é mais importante estudar grego do que latim. É impressionante a quantidade de étimos gregos que temos e cujo conhecimento muito ajudaria a bem a dominar a nossa língua.
Não é raro coexistir mais do que uma palavra, de diferentes origens, para o mesmo conceito, sem clarificação rigorosa das diferenças de aplicação como o cavalo do latim vulgar, o equestre do latim erudito e o hípico do grego. Obviamente as línguas evoluem mas que valor acrescentado terá ficarem consagrados no Português o “drinque” e o “trainingue” e todos os outros “ings” que por aí andam?
Ironicamente, dou por mim, em seguida, a falar em Português ao telefone, face aos árabes, e a dizer, repetidamente, “transhipment” em vez de transbordo. Concluí que o efeito não seria muito diferente nem, pior ainda, tão raro.
Que pensará um inglês, quando no meio de um discurso em Português, ouvir “coffee break”, “after shave”, “teenager”, “low profile” ou “drink”?
Algumas destas importações têm a ver com neologismos. O “basketball”, pode ser adoptado foneticamente como basquetebol ou ser traduzido para um “balón cesto” como fizeram os espanhóis. Este fenómeno toca todas as línguas. Ao fruto castanha chama-se em flamengo “kastanje”, cujo som nos é muito familiar.
Há outro grupo mais grave. É o imigrante que fala da casa tipo “maison” com janelas tipo “fenêtres”. É também o gestor moderno que acha que a aplicação dos conceitos será mais pura se usar vocabulário de origem. Assim, fala de “assessment” em vez de avaliação e de” training” em vez de formação. Evidentemente um problema de distracção e/ou presunção e/ou ignorância.
Curiosamente os franceses, que tiveram a coragem de inventar o “octets” para fugir ao aparentemente incontornável “byte”, resolveram trocar o “fin de semaine” pelo “week end”,
Sintomático é o caso da informática. No primeiro embate, nem se consegue discernir que “file” é ficheiro e “folder” pasta. Li uma vez que “a competência dum especialista é inversamente proporcional ao número de “palavrões” que utiliza e desconhecidos pelos leigos”. Quem sabe, traduz e clarifica, quem não sabe debita chavões para impressionar. A posterior introdução de versões portuguesas de software tem “nacionalizado” muitos termos. Horrível e lastimável é, pelo contrário, a adopção do Brasileiro, por exemplo, no SAP (planejamento, estoques, faturamento, etc).
Recuando um pouco mais, a influência cultural francesa, no final do século XIX, inundou o Português da altura de inúmeras palavras francesas porque era chique. Como um motorista francês é mais fino do que um português, um motorista fino português chamar-se-ia então chauffeur.
Indo ainda mais atrás, porque é que um médico de crianças se chama pediatra (Grego: “paidós”/criança + “iatros”/médico)? Porque é que uma cidade do mundo se chama cosmopolita (Grego; “Kosmos”/mundo + “polis”/cidade). Foi presunção de, numa dada altura, o grego ter sido considerado elevado e assim ter invadido toda a linguagem erudita? Não sei. O que é um facto é que hoje está na língua e, enquanto um chauffer talvez esteja de saída, o pediatra não. Nota à parte: na minha opinião, para bem entender Português, é mais importante estudar grego do que latim. É impressionante a quantidade de étimos gregos que temos e cujo conhecimento muito ajudaria a bem a dominar a nossa língua.
Não é raro coexistir mais do que uma palavra, de diferentes origens, para o mesmo conceito, sem clarificação rigorosa das diferenças de aplicação como o cavalo do latim vulgar, o equestre do latim erudito e o hípico do grego. Obviamente as línguas evoluem mas que valor acrescentado terá ficarem consagrados no Português o “drinque” e o “trainingue” e todos os outros “ings” que por aí andam?
1 comentário:
Bem nem sempre me incomodam estes estrangeirismos,Habituei-me a eles. mas tenho muito orgulho na nossa língua e procuro usar sempre o melhor que sei e posso.
No entanto, nos dias de hoje torna-se tão dificil nao nos cruzarmos com esses "ing".
Gostei deste texto.
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