29 dezembro 2017

Quando acaba o terrorismo islâmico?


Ao contrário do que alguns ingénuos e outros mal-intencionados possam pensar, o fim do terrorismo Islâmico não depende do Ocidente. Não depende de este assumir a sua história, de integrar melhor os migrantes, de terminar com a tal política intervencionista no Médio Oriente, nem da eficácia da sua polícia. Alguns destes pontos ajudarão a mudar a escala e a dinâmica do problema, mas nunca o erradicarão, porque não é daqui que ele nasce. Mesmo a derrota do autodesignado “Estado Islâmico” na Síria e Iraque é apenas o destruir de uma metástase. Facilmente outra nascerá, ali ou mais ao lado.

O terrorismo islâmico acabará, assim como a instabilidade social provocada pelo salafismo disfarçado ou assumido, quando quem de direito entender e assumir conclusões sobre a decadência e posterior queda do Império Otomano.

Nos séculos XVI e XVII o califado dominava completamente o Mediterrâneo Oriental, estava implantado no norte de África, inclusive na costa atlântica depois de Alcácer Quibir e ameaçava Viena e a Europa Central. No século XX aparece moribundo e cai de podre no fim da Grande Guerra de 14-18. Porquê? É uma grande questão, mas se foi claramente ultrapassado pela Europa das Luzes, não parece que um retorno às origens, a visão salafista, resolva grande coisa, pelo contrário.

Enquanto o “mundo muçulmano” não entender que perdeu por ter ficado para trás, nada resolverá buscando recuar ainda mais. É como beber uns uísques para esquecer uma dor de fígado. Um século depois dessa derrota, insistir em semear o ódio ao vencedor e em amaldiçoar os valores que permitiram esse desfecho, é continuar a afundar-se e a agravar as frustrações, donde nascem as radicalizações. Sem complexos para cima e para baixo, para a esquerda ou para direita, é absolutamente inquestionável que o mundo hoje, cultural, social e cientificamente está moldado pela fantástica evolução acontecida no chamado Ocidente, nos últimos séculos. Em cada pequena coisa que utilizamos, em cada minuto, está um saber nascido nesta civilização. Em nenhuma outra fase da história terá havido uma tamanha predominância global. É de realçar que este domínio não é fundamentalmente “hard”, pela força, apesar de esta existir nalguns cenários. O poder é fruto do conhecimento desenvolvido, do modelo de sociedade criado e da qualidade de vida proporcionada.

Existem imperfeições, certo, mas é indiscutível que o respeito pela liberdade, pela diversidade, a condição da mulher, a aceitação do espírito crítico, a abertura aos novos saberes, a separação entre igreja e estado e outras coisas para nós tão “naturais”, fizerem, fazem e farão a diferença. Se os líderes de lá não querem avançar, não nos peçam para regredir; se a larga maioria da sua população quer viver como no Ocidente, não os enganem quanto ao caminho a seguir. Enquanto a frustração pela derrota continuar na diabolização dos vencedores… é o chamado tiro no pé.

Como esta consciencialização poderá demorar algum tempo, há uma alternativa mais imediata: é a de os pregadores do ódio serem coerentes e declararem proibido e haram (pecaminoso) o recurso a todo o equipamento e tecnologia desenvolvida pelos kuffars (infiéis). Nem era preciso ser mesmo tudo, bastava armamento, meios de comunicação e de transporte. Já faria uma grande diferença!

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