04 janeiro 2016

Todo o homem é meu irmão

Ainda não tinham arrefecido as iluminações da celebração da passagem de ano e o mundo ouvia a notícia da execução de 47 pessoas na Arábia Saudita, entre simples acusados de terrorismo e um alto dignatário xiita, que, aparentemente, se limitou a pedir direitos cívicos para a sua minoria. Isto é chocante, muito especialmente num país como o nosso, pioneiro na abolição da pena de morte, e atendendo até à forma pouco transparente como a justiça ali funciona. Convém recordar que supostamente a Arábia Saudita não é um país semi-pária, liderado por um ditador de opereta. É membro do G20 e com responsabilidades na ONU a nível de direitos humanos.

Este episódio vem confirmar ser o sectarismo a principal razão atual para os problemas que grassam naquela zona. Além deste sectarismo saudita sunita, é de recordar o sectarismo pró-xiita no Iraque pós queda de Saddam Hussein, que impediu a normalização do país e proporcionou a manutenção dos movimentos de protesto violento, antecessores do chamado Estado Islâmico.

Quando se fala na contestação na Europa à receção de migrantes (económicos e refugiados de guerra), estaremos também a praticar algum tipo de sectarismo? Antes de mais, convém contextualizar com algum rigor. Na Europa ninguém é preso por se manifestar em defesa de uma minoria e os vândalos que incendiaram a módica quantia de 804 automóveis na passagem de ano em França não estarão a ser acusados de terrorismo.

Se existe alguma xenofobia, a Europa sabe e defende, institucionalmente e numa grande franja da sua população, que “todo o homem é meu irmão”. Preocupante é o poder que agora cortou a cabeça a 47 pessoas ser o mesmo que financia a formação e a define as práticas religiosas de uma boa parte dos muçulmanos, inclusive na Europa. Acho isto perigoso!

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