29 outubro 2009

A minha bexiga e a ecologia militante

Recentemente vi duas notícias que deixaram a minha bexiga com sérios problemas de consciência ecológica.

A primeira veio, salvo erro, do Brasil e dizia que se toda a gente urinasse durante o duche, a água poupada na descarga de autoclismo multiplicada por tal e tal e tal daria uma enormidade com significativo impacto ambiental positivo! Terão descontado a água adicional do chuveiro necessária para deixar limpas as várias peças sanitárias e órgãos afectados no processo?

A segunda veio, salvo erro, da Nova Zelândia. Uma companhia aérea convida os passageiros a passarem no WC antes de embarcarem. Se metade deles o fizeram, o peso descarregado e respectivo efeito na carga do avião dá uma poupança de combustível que multiplicado por tal e tal, é um balúrdio!

Portanto, a partir de agora, cada vez que beber um copo de água a mais que me obrigue a descarregar a bexiga, lembrar-me-ei que isso é mau para o ambiente. Vou passar a olhar desconfiado para as garrafinhas de água que põem nas mesas das salas de reunião.

Com as companhias aéreas é mais grave. Como esta questão do peso tem impacto directo nos seus resultados a imaginação pode disparar. Quando estiver num aeroporto mal climatizado que me obrigue a suar, já vou saber a que é que isso é devido!

27 outubro 2009

Alguém ainda tem pachorra para a gripe A?

Bolas....! Já não se pode ouvir falar mais nisto. No mesmo dia em que se inicia a campanha de vacinação em Portugal com reportagens em directo das picadelas “vips”, aprende-se que no hemisfério sul, onde o Inverno está a terminar, esta terrível pandemia não provocou mais mortes do que a gripe banal de todos os anos.

Durante este tempo em que se falou e falou e falou desta ameaça, quanta gente morreu de malária, por exemplo? Quanta gente morreu simplesmente de fome? A relação entre a atenção mediática dada a esta ameaça e os seus efeitos reais, não têm certamente paralelo, e pelo ridículo.

Quanto custou e quanto custará ainda esta cena toda? Quem pagou e quem ganhou?

26 outubro 2009

Pensões, populações e populismos

Não deve haver um assunto tão prestável a populismos como as pensões. Quanto ao princípio, e na minha perspectiva, as pensões de reforma só podem ser um fenómeno de solidariedade transversal entre gerações e nunca fruto de poupança individual. Se eu planear e poupar para 15 anos e viver 25 como vou fazer nos últimos 10 anos? Também não aceito que a minha renda futura esteja dependente do valor de empresas geridas ao trimestre e com cotações auscultadas à hora. São escalas de tempo demasiado diferentes e quem ainda acredita no contrário pode ir ao Chile ver o resultado da aplicação das teorias dos “Chicago boys”.

A minha geração paga as pensões da anterior e as minhas pensões serão pagas pela seguinte. Resta resolver a equação de a população activa x taxa de desconto igualar a população reformada x valor médio da reforma. Considerando que não é justo nem digno reduzir o valor da reforma e que aumentar a quotização dos “próximos” não é simpático.... só sobra aumentar a população activa e reduzir a reformada ... por aumento da idade da reforma. Não há milagres nem outras alternativas de raiz e até é justo por um dos factores básicos de desequilíbrio ser exactamente o aumento da esperança de vida.

Voltando ao populismo. Parece que vamos ter na assembleia uma oposição em bloco que fiel aos seus princípios que não permitem coligações nem acordos de governo, prenuncia um alinhamento na oposição ao governo, pronta a lançar legislação avulsa sobre temas sensíveis, confortavelmente suportada por uma postura de “sniper” pronto a fazer descer o governo a seu bel-prazer. Uma dessas iniciativas é bloquear a descida das pensões indexadas à inflação, quando esta for negativa. Se bloqueiam a indexação neste caso, então quando a inflação subir e recuperar para o valor anterior, também não terá efeito... ou estamos mesmo no populismo?

17 outubro 2009

Género claro



A figura ao lado, crismada Ardi, parece ser o novo mais antigo antepassado do ser humano, com 4,4 milhões de anos. Acreditando que a evolução foi contínua fica um pouco a questão de como se pode estabelecer a fronteira de daí para a frente é humano ou quase e para trás já não o é.
Mas a minha surpresa é afirmarem sem dúvidas de que se trata de uma fêmea. De uns restos de ossos com milhões de anos consegue-se apurar o género. De uma/um atleta viva/vivo sul-africano é aparentemente muito mais complicado...! Será que as autoridades desportivas terão que pedir ajuda a alguém mais especializado?

14 outubro 2009

Amem-se ou deixem-se!

A relação entre Portugal e Brasil é um caso típico de um divórcio afectivamente ainda não consumado. Dois séculos após a separação ainda não conseguem olhar e falar um do outro de forma fria e racional e continuam naquela coisa bipolar do amor entrelaçado com o ódio.

Há um livro de Chico Buarque em que uma figura ridícula tem antepassados portugueses? Lá estão eles de novo a culpar Portugal pelo seu subdesenvolvimento! Por acaso não é essa a mensagem do livro e o autor até é grande demais para cair nessas tricas.

Agora há uma pretensa reportagem já com 2 anos de Maitê Proença, pretensamente humorística mas basicamente parvinha e é um “Ai Jesus!”. E lá vêm as patéticas exigências de pedidos de desculpa. Ora... Estas coisas tristes e infelizes ficam e classificam quem as profere e é tudo. Mal estaria o mundo se por cada parvoíce declarada os visados saíssem sistematicamente em cruzada de pedidos desculpas. Aliás, ironizar com a escolha de Salazar como o maior português de todos os tempos, nós podemos fazê-lo; que outros o façam é que não toleramos! Isto chama-se menoridade. Curiosamente o cuspir na fonte é bastante simbólico e outra menoridade, para não dizer criancice: a fonte tem história e o acto é de quem a quer renegar/provocar sem a conseguir ignorar. Parece o puto reguila a desprezar ostensivamente a história da família e a quebrar propositadamente uma peça de louça do serviço antigo dos avós. Se Maitê Proença se identifica com essa postura, não lhe fica bem mas é um problema seu.

Em resumo: amam-se ou deixem-se, ou, pelo menos, deixem-se destas susceptibilidades e arrogâncias gratuitas. É evidente que Portugal e Brasil têm muito em comum e a ganhar em conjunto. O primeiro passo é acabar com os estereótipos e as generalizações abusivas de que os “outros” são todos “assim”. O que está certo e justo aproveite-se e construa-se em cima; o que está errado e estúpido ignore-se.

13 outubro 2009

Dizer sem falar



Berlusconi: Mas que jeitosa que ela é ! Venham daí esses ossos e mais o resto! (E onde é que ele tem fixado o olhar??)
Obama: Bom, bom.... em que é este tipo está a pensar?!Michelle: Toma lá a mãozinha porque mais do que isso não vais tu apertar!
Cena passada durante a última cimeira do G20 em Pittsburgh e publicada na Jeune Afrique de 4 a 10/10/2009

11 outubro 2009

A expectativa basta ?

Por muito promissor que seja o mandato de Barack Obama, a atribuição do Prémio Nobel da Paz é, na minha opinião, errada. Obviamente que existe um muito salutar mundo de distância entre o seu discurso e a sua postura e o seu predecessor e isso é extraordinariamente positivo. Acho no entanto que um prémio Nobel deve premiar obra/realização/concretização e não atitude e expectativa. A atitude é fundamental. É o início e é por aí que tudo começa. No entanto é apenas o primeiro passo. Entre anunciar e fazer vai um grande caminho e doloroso caminho.

Que seria se um prémio Nobel científico fosse atribuído a alguém que apenas anunciou um muito interessante e ambicioso programa de investigação? Ou entregar o da literatura a quem declarou que pretende escrever um excelente livro?

06 outubro 2009

Ai Dona Manuela!

Por favor tirem a senhora deste filme e rapidamente. Acabo de ler uma notícia no DN com as seguintes declarações de Manuela Ferreira Leite, proferidas anteontem em Alcobaça :

Citação: “Nós estamos todos à espera de ouvir o Partido Socialista dizer de que forma vai alterar o programa eleitoral com que se apresentou ao país para que sofra os ajustamentos necessários para haver soluções de governabilidade";
Citação: “O PSD irá fazer uma oposição responsável, mas uma oposição que não abdica nunca dos seus princípios, dos seus valores, do seu programa”;
Comentário na notícia: A líder do PSD deixou claro que a responsabilidade de ajudar o PS a cumprir a legislatura deve ser entregue aos pequenos partidos, do CDS ao PCP e BE.
Em resumo e se entendi bem: O PS que por acaso até ganhou as eleições mas não tem maioria absoluta terá que fazer alterações ao seu programa/estabelecer compromissos para poder governar – tem alguma lógica.

O PSD que teve menos votos e perdeu as eleições não muda uma linha. Ou seja, os princípios do PSD são uma coisa imaculada e sagrada, não passíveis de ajuste. O PSD não está disponível para participar em compromissos e não tem nem assume nenhuma responsabilidade no esforço de “governabilidade” do país. Se realmente o PS necessita de apoio parlamentar para governar, que a arraia miúda faça o frete.
Parece uma espécie de birra da senhora: Como não nos deram a maioria então também não contem connosco.

Para quem faz da denúncia do défice democrático uma bandeira, não me parece nada bem.

01 outubro 2009

Falta o cão

De regresso à base depois de uns dias atribulados ouvi em diferido a famosa comunicação de Cavaco Silva sobre o caso das escutas. É má demais para ser verdade. Em vez de pôr claramente o assunto preto no branco, o PR só levantou poeira. Que é que interessa a formalidade de que ninguém pode falar em nome dele e de que não é crime um assessor ter uma opinião? Não é crime alguém pensar que o sol gira em torno da terra, mas há funções e posições cuja responsabilidade não é compatível com a divulgação de opiniões fantasiosas infundamentadas e não justificadas

O cenário de um assessor de confiança vir em nome do presidente pedir expressamente a um jornal para publicar uma suspeição deste calibre é muito grave. Pode não haver um enquadramento jurídico que a condene mas não é compatível com uma sã “coluna vertebral”, indispensável ao órgão Presidência da República.

Acha estranho o email ser publicado 17 meses depois... mas não acha estranho a notícia do Público ter saído 17 meses depois, sendo que é essa notícia que realmente está na génese do problema?

Sobre as suas acções há um monte de silogismos: “por causa disto, fiz aquilo..” que me ultrapassam completamente. Ou sou burro, ou ele, ou julgará que a audiência o é.

No final, a história das debilidades do seu correio electrónico. Ao apresentá-lo assim o que quer dizer? Que se calhar pode estar a ser espiado? Se é esse o caso, explique melhor porque de charadas e indirectas já estamos cheios; se é apenas um “preciso de actualizar o meu antívirus!” é bom que o faça, mas não devem existir muitos países no mundo em que um PR vem solenemente dizer ao país que os seus informáticos são uns nabos.

Relativamente ao conteúdo do famoso email o que toda a gente quer saber é:

1. O assessor do PR foi falar ao Público por sua encomenda ou não? Claro que não o assumirá, e desfia-nos a encontrar provas! Não sendo esse o caso também não haveria motivos para “fazer alterações na casa civil” – seria uma enorme injustiça!
2. O assessor inventou a trama toda por sua iniciativa? Devia ser severamente julgado e não simplesmente transferido de funções preventivamente!
3. Foi tudo invenção dos jornalistas.... hummmm. Que a Presidência o assuma então e veremos então a resposta de L. Alvarez.

Antes das eleições, eu dizia que o PR é uma espécie de guardião da democracia. Está lá para intervir apenas quando for necessário, não antes e achava que Cavaco Silva não tinha esse perfil. Iria tentar ser interveniente e não apenas guardião. Confirma-se e confirma-se também que não tem mesmo nível para ser Presidente. Falta um cão para controlar o presidente.