05 agosto 2006

O homem é um animal de hábitos

O homem é um animal de hábitos. E eu luto contra os hábitos, troco as voltas ao querer e a todo o desejo a nascer. Não é bem ao nascer, é depois antes de crescer. As árvores enquanto jovens são mais fáceis de arrancar. Entretenho-me assim, a ver coisas a criar e a, atento, remover antes do fruto vingar.

Neste mato conturbado de futuros abortados, de esperanças enfiladas, alguma será a última. Não, não me consigo habituar a ganhar o hábito de habitualmente querer uma coisa repetir.

Então parto, tenho o vício de quebrar, tenho a lonjura de esboçar novo nada de além-amar. E nenhum vício, nenhum hábito me deixará ficar a gostar de tranquilamente me deitar e de esperançosamente me enterrar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Porquê remover o fruto antes de ele vingar? Não seria mais saboroso vê-lo brotar?
E a repetição do bom nao terá um sabor mais intenso?...
Energia, sim, essa de desbravar novos horizontes!

APC disse...

Há um momento, algures entre o largar e regar a semente, e o colher o fruto já maduro, para se lhe provar o doce. E isso é mais um passo na descoberta: desse, do outro, de ti. Interceptá-lo é ficar a meio, paralizar o processo, abortar o projecto, recusar o prazer.
E quem sabe não tenha que ser essa a via para impedir o querer repetir repetidamente?
Mas quem sabe teimes tu que seja a tua e ninguém deva dizer-te mais nada?
Ou, quem sabe, já saibas tudo isto bem demais, e te dês agora ao luxo de jogar com as palavras um jogo duro, projecção de uma armadura que te preparas para envergar numa batalha de amor ou de adeus?
Quem sabe...

PS - Mas vê lá, não te habitues a repetir a estratégia...
:*)

APC disse...

"Consuetudo est altera natura"

(Aristóteles)

Carlos Sampaio disse...

Ora bom...
Este que era para ser um "pacífico", animou-se!

AFS:
Nem todos os frutos merecem vingar, nem todos merecem ser arrancados. Sobretudo não vale a pena deixar crescer aquilo que está a crescer torto.

APC:
"algures entre o largar e regar a semente, e o colher o fruto já maduro" há um momento de realização, doce ou não.
Recusar o prazer? O prazer é uma consequência, não uma opção primária.
Dar ao luxo de jogar com as palavras? Sim, certamente, esse é um luxo do qual não abdico!!! :)

Pode o hábito ser uma segunda natureza, sim... mas nunca será a primeira!!!

APC disse...

Mas estar aberto ou fechado ao "risco" de vir a ter prazer é uma opção primária :-)
Concordo (e sei que sabes que sei que sabes:-) quando dizes que não é ao decidir (e procurar) ter prazer que o temos; é apenas quando damos por nós a tê-lo que ele existe, e mais ao prazer dele existir. Indeed!
Apenas receava que andasses a deitar fora os figos mais doces, sem os provar, apenas por vê-los surgirem de ramos tortos. Sabes... É que não se comem os ramos!;-)
Mas enfim... Tudo isto é só cumbersa, e "mai nada"!
E a frase peripatética queria dizer exactamente isso: o hábito (não o que faz o monge; o outro) uma outra natureza (um postiço!?) não a original! And so on...

Já agora... Entre colher e não colher o fruto e o fechar ou não fechar as portas, cá se vai andando ("com a cabeça entre as orelhas").
Há uma porta nova no meu blog. "Trouxe-a" para ti! :-)))
Hugh & kisses*