16 agosto 2006

Os fiéis amigos

Dizem que os cães são os melhores amigos do homem, mas à imagem dos últimos haverá seguramente muitos e variados tipos dos primeiros.

Serão uns fiéis guardadores do território do dono, é verdade, mas é pena que os donos não lhes ensinem que a via pública em frente à casa não faz parte da propriedade a defender. Não me chegam os dedos das mãos e dos pés juntos para contar o número de vezes que fui acossado na via pública por esses sentinelas, especialmente ao correr ou ao andar de bicicleta.

Isto vem a propósito de recentemente ao caminhar pela praia, ter encarado com um canídeo que não achei nada simpático e que ignorei olhando para o mar. Ele também não gostou de mim e ainda não tinham dobrado 3 ondas e já o tinha ladrando e rosnando encostado aos meus calcanhares. Parei e aí levantou-se da toalha a proprietária do dito, uma tia estilo cliente frequente da “Corporación”. Sorriu, chamou pela Lassie e disse-me candidamente o que dizem todos: “Não ligue, ela não faz mal nenhum…!”. Com as narinas da bicha ainda encostadas aos meus tornozelos respondi irritado que não era aceitável ser assim incomodado. Desvaneceu-se o “dermo-estético” sorriso, ficou zangada comigo e por despeito virou a cara para o lado, continuando a chamar pela Lassie que repartia a sua atenção entre os meus pés e a dona que não a encarava.

Lamentei que a cadela não fosse da escala “Space Shuttle” para poder testar na prática a minha teoria. Conhecem aqueles cãezinhos, pequeninos, mimados, rezingões, atrevidos e irritantes? Eu acho que um pontapé bem medido fá-los-ia facilmente entrar em concorrência com o vaivém espacial da NASA.

Enfim… prefiro lobos!

10 comentários:

APC disse...

Credo, homem!... :-!

Carlos Sampaio disse...

Esse "credo" é de crente?

APC disse...

Pelo contrário... É de "não quero crer!!!"
Fui-me logo embora, a ver se te apanhava mais bem dispostinho para a próxima!;-)
Claro que preferes lobos... "O Homem é o lobo do homem"!

Mas apetece-me isto:

“Logo que a nossa alma se separava do corpo, este era enterrado, pisgando-se a alma para o outro mundo. Nas últimas semanas, Willy não tinha falado de outra coisa, e agora não havia na mente do cão a menor dúvida de que o outro mundo era um sítio real e não uma invenção. Chamava-se Timbuktu e, tanto quanto Mr. Bones pudera perceber, ficava no meio de um deserto algures não sabia onde (…).
Que importância é que tinha que fizesse um calor dos diabos nesse tal outro mundo? Que importância é que tinha que não houvesse nada para comer, nem para beber, nem para cheirar? Se era para aí que Willy ia, então era para aí que ele também queria ir. Parecia-lhe perfeitamente justo e merecido que, quando chegasse a sua hora de dizer adeus a este mundo, o deixassem viver no além com a mesma pessoa a quem se tinha afeiçoado no aquém.”


In Timbuktu, Paul Auster, 1999; em que Mr. Bones é um rafeiro e Willy um mendigo. Vale a pena!

E um beijinho:-)

PS - Um dos meus posts novos é sobre cães de praia ;-)

Carlos Sampaio disse...

Há cães e cãos; há homens e homens.

Uma vez, na "Europa civilizada", disseram-me que os cães em Portugal eram muito pouco considerados.

Eu respondi que "um cão é um cão" e achava estranho era as pessoas sairem e levarem consigo o "space shuttle", deixando os filhos com a babtsitter.

APC disse...

Para mim, o que se nos afeiçoa, o que se relaciona connosco por vontade, deixa de ser "aquilo" e passa a ser um "quem".
É certo que pessoas e animais estão em patamares diferentes (instinto X sentimento é uma dualidade pertinente) e que a análise das prioridades disso se compadece, inevitavelmente.
Mas tê-lo (ao nosso companheiro-bicho) por um "quem" (um a "quem" queremos dar, por "quem" nutrimos afecto, com "quem" podemos contar), e agir em conformidade com o que tal nos merece, é considerá-lo.
E sim, deveria sê-lo mais... Mais vezes... Sempre.

Carlos Sampaio disse...

Não vejo nada de mal em ter uma relação afectiva com um bicho, pelo contrário.
Excepto quando se torna mais importante do que com, por exemplo, os filhos.
Ao fim e ao cabo, é mais cómodo dar e receber afecto dum bicho do que dum ser humano e estamos numa era de comodidade, não?

APC disse...

Percebo-te. Sim, é "mais fácil" dar "a quem" tudo aceita e nada exige, numa relação assimétrica, de não paridade/complementaridade, de dependência; daí algum eventual investimento nos animais em detrimento dos humanos - o teu exemplo último (daí também, se me permites, algumas escolhas de pessoas feitas por pessoas, se é que me faço entender...).
Todavia, não vou querer crer que sejam muitos os casos em que "isso" (pet no pedestal e família e próximos no chão) aconteça. Não me apetece!:-)
Apetece-me deixar-te um abraço, que há muito te não vejo!

APC disse...

Mesmo assim, um pontapé continua a não me parecer uma boa ideia, seja em situação for, excepto como necessária defesa.
Se temos, nós e nenhuma outra espécie que se conheça, raciocínio, livre-arbítrio e responsabilidade, compete-nos saber lidar com as restantes, o que inclui "cãezinhos, pequeninos, mimados, rezingões, atrevidos e irritantes".
:-)

Anónimo disse...

Os fiéis amigos são, em regra, sociáveis e cheiram e reagem à animosidade, ao medo...
Talvez "o problema" seja tão só essa pose felina "em telhado de zinco" quente...

:-)))

Anónimo disse...

* essa tua pose felina