10 agosto 2006

Virtual x Real

“Virtual” significa susceptível de se exercer ou realizar, potencial ou possível e em oposição ao “real” que existe de verdade, é verdadeiro, efectivo e não imaginário.

Hoje é moda aplicar o adjectivo “virtual” (ainda se diz adjectivo ou já mudou outra vez a terminologia gramatical??) a tudo o que passe por um computador, seja por síntese, seja por simples comunicação, numa generalização abusiva.

Pondo de lado a síntese e a discussão sobre se é correcto ou não chamar virtual ao Rato Mickey, Lara Croft , Roger Rabbit ou aos Simpsons, passemos à comunicação.

Porque é que a comunicação entre pessoas com um computador pelo meio há-de ser virtual? É indiscutível que a comunicação escrita, em qualquer contexto, é sempre diferente da oral e a oral será também diferente conforme seja presencial ou não. Na comunicação oral, junta-se a expressão da voz e na presencial junta-se a linguagem corporal, que é riquíssima.

Não sou especialista no assunto, mas, ao escrever, a maior distância, a dinâmica mais lenta e a menor interactividade tanto podem conduzir a um resultado mais reflectido e ponderado como, pelo contrário, mais tenso e agudizado, conforme o contexto e os intervenientes.

Todos sabemos que a evolução duma crise, de qualquer tipo, pode mudar radicalmente, simplesmente por mudar passar do escrito para o presencial ou vice-versa. Mas isto não tem nada a ver com computadores. Qual a diferença entre uma mensagem escrita a tinta permanente enviada em papel por correio tradicional e uma mensagem enviada por correio electrónico? A segunda é mais rápida, proporciona maior interactividade, e, por isso, estará até mais próxima da comunicação oral não presencial. Não vejo nenhuma razão para chamar à primeira real e à segunda virtual.

O que me parece realmente bem virtual é a solidariedade electrónica. Quando chega uma mensagem desesperada à procura de um tipo de sangue ou de medula, ela é muito solidariamente reenviada para todos os contactos. Seria interessnte conhecer a percentagem de elementos dessas fantásticas cadeias solidárias que realmente se deslocam a um banco de sangue ou de medula.
Nota: Este texto saiu menos objectivo e incisivo do que eu quereria. A culpa deve ser do calor…

6 comentários:

Anónimo disse...

Sim, “virtual” continua a ser um adjectivo na nova terminologia linguística e a sua aplicação como qualificativo da comunicação que se exerce através de computadores parece-me um caso claro e comum de desvio semântico, daqueles enganos/simplificações/modas que se amplificam com o uso generalizado e repetido e acabam, tantas vezes, por se tornarem factores de evolução da língua.

Sobre a tua "nota": tu a atribuíres culpas ao calor?!!

APC disse...

Virtual é o que é possível, existente em potência, susceptível de ser. Perante isso, acabaria aqui a conversa.
Mas não, porque há perversões etimológicas que, à custa do hábito, acabam por dar origem a novos valores semânticos, e esses são os que valem, os que nos dizem algo, os que nos permitem associar cognições e emoções às coisas.
E porque o que dizes é, efectivamente, algo que nos ocorre de quando em vez. repara quando nós dizemos "tenho um amigo virtual" (porque feito e mantido por via on-line)?!...
Ora, é um amigo ou não é um amigo.
Se nos escreve (por carta ou por mail), se nos fala (ao telefone ou no MSM), se sai connosco (a sós ou em grupo) são outros detalhes.
Se é virtual ou efectivo, pode não ser fácil de perceber a todo o momento, mas decerto que não tem a ver com a via pela qual nos surge.

Um beijo virtual! ;-)

APC disse...

* MSN

Carlos Sampaio disse...

Realmente, só falta dizer que há coisas virtualmente reais...

Anónimo disse...

Concordo na generalidade com a tua tese. Hoje em dia há um abusivo de certos vocábulos,sendo sinal de conhecimento aplicá-lo a torto e a direito. Acho que tanto pode ser virtual um amigo do ciberespaço como um que conhecemos e falamos e com o qual não temos qq afinidade.
Fica bem, abraço

APC disse...

Carlitos... Ele há coisas! :-)