15 agosto 2005

Narrativa fantástica


[...]Os dias em que se ajuntam e ficam assinalados, são quartas e sextas-feiras, em as quais dando o relógio dez horas da noite, ou antes, as ditas Bruxas se untam com certos unguentos que elas fazem das confecções diabólicas que adiante se dirá, que o Demónio lhes faz crer, que sem ele não podem voar, nem ir a seus ajuntamentos, [...] e untadas, o Demónio as leva pelas janelas ou chaminés ou buraco por onde uma mulher possa caber corporalmente e em breve espaço e momento, levando-as pelos ares, as põem em certos campos. [...]

Estando nos ditos campos, disse que achava lá gente de muitas partes; a saber: Portugueses, de todo este Reino, Mouros, Judeus, Franceses e de outras muitas nações e diversas línguas [...] e tanto quanto que lá chegavam, os demónios, em pouco espaço de tempo, dormiam com elas muitas vezes carnalmente, quantas vezes elas queriam e pelo lugar que elas queriam ou traseira ou pela dianteira, e por sua confiança diz que o gosto que eles dão e causam às mulheres é mui grande, sem comparação com os homens. E que tem as suas naturas mui compridas [...]

depois de folgarem nos campos e ajuntamentos com eles, lhes põem uma mui comprida mesa de umas tábuas negras [...] e lhes trazem em uns pratos de pau-preto e deles nas mãos muita soma de carne de bode [...] a qual comida, disse e confessou, lhe fedia e enxofre e alcatrão; e nas mesas estavam por candeias umas tochas com cabos de cordas alcatroadas que davam um negro, escuro e fedorento lume. [...]

E confessou mais uma, e muitas vezes, que tendo o Demónio parte com ela por muitas vezes, o apalpava e achava corpo e carne, segundo apalpava com as mãos e que se lhe figurava ser carne pelosa com muita soma de cabelos, como de bode, mas o pêlo mais brando e macio.[...]

Pergunta: algum palpite para a origem desta narrativa antiga fantástica, fantástica no sentido literário da palavra? Uma sugestão: nada de brincadeiras porque, garanto, trata-se de coisa muita séria.

2 comentários:

CLÁUDIA disse...

Dito assim até mete medo...

Mas a verdade é que fiquei mesmo curiosa em saber de onde vem esse excerto? E não faço a mínima ideia, por isso nem sequer vou arriscar.

Mas volto cá mais tarde para espreitar a solução. ;)))

Titá disse...

Não faço ideia, mas fiquei deveras interessada em saber.
O texto é espectacular e obviamente tocando os assuntos que toca, desperta toda a curiosidade. Vou passando por aqui para saber o veredicto.
(Desconfio que será um excerto daqueles texto da inquisição da Igreja Católica...)