Na sequência dos recentes atentados terroristas na Europa, tenho visto muito debate e especulação sobre a viabilidade e os limites de uma sociedade multicultural. Há algumas posições surpreendentemente radicais, segundo as quais, uma sociedade multicultural é pura e simplesmente uma utopia.
Não me considero racista, mas reconheço que tenho mais depressa o reflexo de trancar as portas do carro quando vejo uma pessoa de cor atravessar a rua à minha frente do que um “dos nossos”. Não tem lógica, mas é assim. Ao conversar sobre estes temas com um magrebino, ele dizia, e acho que com razão, que, a todos, mesmo a eles, nos tranquiliza estar entre “nossos semelhantes”. O ver “diferentes”, perturba-nos. É natural sentirmo-nos inseguros ao sermos confrontados com uma diversidade que desconhecemos.
Efectivamente, as demonstrações de xenofobia estão mais presentes em situações de crise, quando o nível geral de insegurança é já elevado. Mas, por outro lado, uma sociedade em que sejamos todos louros, de olhos verdes, 1,80m, com as mesmas crenças, com as mesmas certezas e etc., é uma sociedade pobre e em decadência. Quanto mais não seja por consanguinidade cultural.
Creio que o conviver plenamente com múltiplas culturas passa por identificar o nível das diferenças, separando o superficial do profundo. Uns olhos brilhantes e um sorriso de criança são iguais em qualquer parte do mundo.
E, para concluir, deixo essas lindíssimas palavras do grande Luís Vaz que, além de saber muito, também viveu muito: “Bem parece estranha, mas bárbara não.”
Endechas a Bárbara escrava
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.
Não me considero racista, mas reconheço que tenho mais depressa o reflexo de trancar as portas do carro quando vejo uma pessoa de cor atravessar a rua à minha frente do que um “dos nossos”. Não tem lógica, mas é assim. Ao conversar sobre estes temas com um magrebino, ele dizia, e acho que com razão, que, a todos, mesmo a eles, nos tranquiliza estar entre “nossos semelhantes”. O ver “diferentes”, perturba-nos. É natural sentirmo-nos inseguros ao sermos confrontados com uma diversidade que desconhecemos.
Efectivamente, as demonstrações de xenofobia estão mais presentes em situações de crise, quando o nível geral de insegurança é já elevado. Mas, por outro lado, uma sociedade em que sejamos todos louros, de olhos verdes, 1,80m, com as mesmas crenças, com as mesmas certezas e etc., é uma sociedade pobre e em decadência. Quanto mais não seja por consanguinidade cultural.
Creio que o conviver plenamente com múltiplas culturas passa por identificar o nível das diferenças, separando o superficial do profundo. Uns olhos brilhantes e um sorriso de criança são iguais em qualquer parte do mundo.
E, para concluir, deixo essas lindíssimas palavras do grande Luís Vaz que, além de saber muito, também viveu muito: “Bem parece estranha, mas bárbara não.”
Endechas a Bárbara escrava
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.
4 comentários:
Toda a gente o conhece, mas para relembrar quando insistimos em travar a porta quando um dos "não nossos" se aproxima:
"Encontrei uma preta
Que estava a chorar,
Pedi-lhe uma lágrima
Para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
Num tubo de ensaio
bem esterelizado
Olhei-a de um lado
do outro e da frente
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos
as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestigios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio."
António Gedeão, 1958
és um traste: se não és racista o que és? "um dos nossos" não contes comigo! pra lá de toda a tua cultura, viagens, intelecto, conhecimentos académicos/cientificos, escritor, um multifacetado bono, és um desgraçado porque ainda tens medo do que é diferente de ti! os pretos, dos chineses, dos indianos e das mulheres que são tão diferentes de ti! não te escondas atrás do camões que estou a ver-te loiro de olhos azuis. gosto de ti na mesma mas se calhar não te conheço ;-)
Não tenhamos dúvidas que o desconhecimento provoca a desconfiança!
A esmagadora maioria das "ideias" que temos sobre outros povos, foram-nos transmitidas ... e não vividas, daí perceber-se como é fácil a "rotulagem"...
AMP
Mónica
Respeitando a tua opinião.... talvez a minha expressão “dos nossos” não seja feliz. Ficaria melhor “semelhantes”.
Agora, diz-me lá, onde te sentes mais segura: na tua cidade em que conheces todos os cantos e esquinas e quase toda a gente, ou num local para onde te levassem de olhos fechados, em que só vias pessoas verdes de 3 metros de altura e onde nem sequer sabias para que lado fica o norte??
Não tenho dúvidas de que, em maior ou menor grau, o desconhecido provoca sempre alguma insegurança. E acho melhor assumi-lo, entendê-lo e enfrentá-lo do brincar ao faz de conta. E ainda..., já estive na Índia e tive algum medo sim, mas do que comia, não das pessoas!
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