17 julho 2005

A energia que irá mover o mundo

Sabemos já há bastante tempo que o petróleo há-de acabar um dia porque se gasta a uma velocidade bastante superior à da sua criação. Não sabemos muito bem quando. Parece, no entanto, que algumas grandes companhias petrolíferas estão a consumir reservas a um ritmo superior ao da descoberta de novas. Paradigmática é a trapalhada da Shell que, o ano passado, foi obrigada a rever várias vezes em baixa a sua estimativa de reservas. Por tudo isto, o preço alto do petróleo deve ter vindo para ficar.

Vejamos as alternativas. O nuclear está largamente proscrito. Pessoalmente vejo como principal problema real, mais do que a segurança das centrais, os resíduos. De qualquer forma, é provavelmente a única alternativa real, disponível hoje, que permite manter o nosso “wonderful way of living” (sic G. W. Bush) sem assar o planeta com o efeito de estufa.

O hidrogénio como fonte de energia é, para já, uma farsa. Enquanto não se descobrirem reservas naturais desse gás, temos o seguinte processo: com energia eléctrica e água obtém-se hidrogénio e oxigénio; guarda-se o hidrogénio; depois com ele e oxigénio gera-se energia eléctrica e água. O hidrogénio é um mero acumulador de energia, tipo bateria, com um rendimento melhor ou pior. Não é o que se chama uma “fonte de energia”.
A energia hídrica, no nosso país, já terá pouco mais para explorar. Também não me vejo bem num país com todos os cursos de água às poças e pocinhas. Energia eólica, sim mas as potências são limitadas e os impactos brutais nas paisagens. Ainda vamos ter, um dia, um “polis dos montes” (como é que se diz “monte” em grego?) para recuperação das paisagens degradadas. Fará sentido que em zonas de reserva natural, em que quase não se pode circular, se coloquem aqueles moinhos ruidosos e assustadores? Não queremos ser um país de turismo de qualidade?

Há outras pequenas coisas que não são centrais de muitos MW mas que somadas podem ajudar e que não estragam nada.
Veículos híbridos que recuperam a energia da travagem. Porque não juntar um painel fotovoltaico no tejadilho para carregar as baterias enquanto o pessoal está na praia e não só?
Aquecimento de águas por painéis solares. Acho que deveria ser obrigatório por lei para as novas construções.
E, já agora, utilizadores responsáveis. Não se pode ser contra as centrais nucleares, estar muito preocupado com o efeito de estufa, etc., e, ao mesmo tempo, ter o aquecimento em pleno no Inverno e o ar condicionado brutal no verão! Não é coerente, pois não?

Por longo tempo continuaremos a depender fortemente dos combustíveis fósseis. Continuará o desequilíbrio geográfico entre os locais de produção e os de consumo. Os árabes já descobriram, e demonstraram em 1973, a força que isso dá. Agora temos a Rússia que re-nacionaliza “legalmente” a Youkos. A América Latina inspira-se no estilo Hugo Chavez e desta vez foi a Bolívia a taxar sem mais a exportação dos produtos energéticos. De África e de tudo o que se passa à volta do petróleo nem vale a pena falar. Basta olhar para Angola.

Receio bem que geopolítica, e mesmo militarmente, o mundo vá aquecendo à medida que as reservas forem arrefecendo. Talvez o Iraque seja apenas um primeiro caso...

3 comentários:

Anónimo disse...

Nos últimos dias, ao ver os telejornais, tenho pensado neste texto e no que ele contém de antecipação!

Anónimo disse...

Seria muito interessante enviar este artigo aos nosssos governantes(?), para ver se de uma vez por todas conseguem elaborar um plano energético nacional sustentado!

AMP

Carlos Sampaio disse...

Caro AMP

Não sei se os governantes visitam o Glosa Crua, acho que não. Este artigo foi enviado para o Público, uma semana antes de ser aqui colocado e, aparentemente, não foi considerado merecedor de divulgação.