03 setembro 2016

O “golpe”

Dilma Roussef foi destituída por votação num Congresso legítimo. Os argumentos formais eram frágeis? Há quem tenha pior registo? A solução transitória atual carece de legitimidade? Talvez tudo isso seja verdade, mas a que propósito uma votação deste tipo é um golpe? Golpe seria uma destituição decretada por um juiz à porta fechada sem escrutínio nem recurso ou por um general de arma em punho.

Quando o último governo de Passos Coelho foi derrubado no nosso Parlamento alguns também invocaram a palavra “golpe”, não os mesmos que a usam agora para o Brasil. Esses, na altura, invocaram a absoluta soberania do órgão legitimamente eleito.

Se o árbitro marca um penalti duvidoso podemos encolher os ombros caso seja a favor da nossa equipa e gritar “bandido” (ou pior) ser for contra. A isso chama-se facciosismo e no futebol é relativamente inócuo, para lá da poluição provocada nos órgãos de comunicação que a isso se dedicam.

Em assuntos mais sérios, o facciosismo é muito perigoso porque provoca uma destruição de valores. Uma sociedade sã precisa de estar alicerçada em princípios imunes a simpatias e alinhamentos tribais. Se isso falha, abre-se a porta ao discricionário e ao injusto.

Citando um grande: “A liberdade consiste, antes de mais, em não mentir. Onde a mentira prolifera a tirania anuncia-se ou perpetua-se.”, Albert Camus.

Tirania é tirania e independentemente da cor das suas bandeiras.

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