29 março 2011

Salvação Nacional ?

Em momentos de maiores apuros é natural que se exija uma concentração de esforços para ultrapassar as dificuldades e, relativamente a Portugal, este é seguramente um momento desses. Daí, algumas vozes falarem em governos de “salvação nacional” com um amplo espectro partidário. Eu não acredito muito na eficácia de um governo tutti-frutti, ou arco-íris, como pretenderem chamar.

Um órgão executivo tem que ter competência, seguramente, mas também não funciona sem coesão. Penso que essa congregação de esforços pode e deve ser feita mas a montante, na definição das linhas políticas e das grandes opções. E existe mesmo um órgão que bem utilizado seria excelente para isso. Chama-se Assembleia da República.

Ora bem, eu tenho muita dificuldade em lembrar-me de alguma discussão construtiva que tenha ocorrido nesse plenário. Vê-se sobretudo um conjunto de senhores que arengam mais ou menos bem, com maior ou menor elegância, educação e princípios, assim a modos de ver quem faz a gracinha mais original ou cospe mais alto. Depois, há uma altura em que se vota e aí é basicamente alinhar as espingardas que cada grupo tem e fuzilar.

Ainda recentemente a brincadeira de revogar o processo de avaliação dos professores, sem entrar em discussões sobre os méritos e deméritos da mesma, é de um oportunismo escandaloso. Desfazer o que estava feito, porque se ganham votos e mais espingardas para a próxima legislatura não é sério … e quando os eleitores não se sentirem representados nessa brincadeira, vai ser mau.

26 março 2011

Curiosidade...


Os dois simpáticos senhores da foto acima, extraída do El País, são Francisco Camps, Presidente da Generalitat de Valencia e, o de óculos de aspecto simpático, Carlos Fabras, Presidente da Diputación de Castellon.


O primeiro é uma das figuras envolvidos no caso Gurtel, o tal das muitas prendas, do alfaiate e dos fatos, mas mais do que isso o de muito dinheiro com percurso estranhos, especialmente em eventos realizados em Valência, como a visita do Papa.


A cerimónia em causa na foto é a inauguração do aeroporto de Castellon cuja construção custou 150 milhões de euros, mas ainda não há aviões nem tem voos planeados, não tem licença de operação nem sabe quando a terá. Dizem os políticos que faz sentido inaugurar nestas condições porque assim o povo pode visitar as instalações tranquilamente e até passear pela pista. A necessidade de um novo aeroporto aqui também pode ser questionável, uma vez que Valência e o seu grande aeroporto estarão a cerca de 60 km de distância.


Lá como cá, estão identificados as principais molas que fazem mover os políticos:


- Realizar obras - Fazer inaugurações - Proporcionar entretenimento

24 março 2011

Credível ?

No âmbito do processo Casa Pia Paulo Pedroso esteve preso preventivamente e, justamente ou injustamente, sofreu um sério revés na sua vida a vários níveis.
Colocou um processo judicial a quem o tinha supostamente difamado, reclamando uma indemnização de 150 mil euros. Esta semana Carlos Silvino pediu desculpas a Paulo Pedroso, usando de novo o argumento de “estar medicado” quando o incriminou. Do lado de Paulo Pedroso, a resposta foi: está bem, pagas-me um cêntimo e não se fala mais no assunto. Eu se tivesse passado por uma situação idêntica poderia querer não ficar com o dinheiro para mim, mas se na base esteve realmente uma acusação sem nenhum fundamento, é demasiado grave para fechar assim com um simples pedido de desculpas e um cêntimo simbólico. Por outro lado, tenho uma enorme curiosidade em saber que medicação existe tão poderosa que condiciona os testemunhos e declarações de alguém durante anos.
Parece existir um processo de limpeza em curso, mas este episódio visto friamente cheira mais a tiro no pé.

18 março 2011

A Pensão do Zé

Terá começado há cerca de 20 anos, mais coisa, menos coisa. Uns génios financeiros profícuos em previsões macroeconómicas que o futuro costuma confirmar pouco fiáveis, começaram a dizer ao Zé que os Estados iam deixar de poder garantir a sua pensão de reforma e que ele tinha que se precaver. O Zé assustou-se e floresceram os vários produtos financeiros de capitalização como seguros e PPR’s, criando uma enorme massa que anda por aí à solta, a ser gerida pelos tais génios.
Numa primeira fase compraram, espremeram e venderam empresas, tendo sido comparados a um bando de gafanhotos vorazes, mas agora encontraram terreno mais seguro. Aquela coisa de que se fala muito recentemente, os tais “mercados financeiros”, é em grande parte a aplicação dessas poupanças dos Zés, e até mesmo do próprio coordenador do Bloco de Esquerda que tanto vocifera contra os mesmos. Descontando uma certa ingenuidade dos Estados que pensavam ter acesso ilimitado a esses mercados, reconheço ter pouca simpatia por esses gestores e dou dois exemplos que me repudiam fortemente: quando na situação actual do Japão, a sua preocupação é tentar adivinhar a evolução do yen e assim “investir” na boa direcção, independentemente do que isso pode significar de agravamento na situação do país martirizado e quando reclamam o direito de conhecerem o estado real de saúde de Steve Jobs, se vai durar semanas ou meses, para assim optimizaram a gestão da sua carteira de acções da Apple.
Depois, voltando às pensões, temos ainda o exemplo do Chile em que os “Chicago boys” implementaram precocemente este esquema de pensões de reforma privado. Parece que há fundos que derreteram e como o dinheiro em geral não nasce, há gente que está a ver a sua reforma rateada a 30% do valor previsível, e é de assinalar que o Estado Chileno não faliu.
Veremos se eu entendi bem o circuito actual: para se proteger do Estado, o Zé entrega poupanças aos fundos, este emprestam aos Estados a boas taxas de juro e terão excelentes resultados, o Estado para servir essa dívida (além de ter que corrigir outros disparates) tem que reduzir as pensões que paga. Há algo que me escapa ou parece existir aqui alguma coisa estruturalmente errada?

15 março 2011

Japão



Entre os vários países que visitei e culturas com que contactei tenho um apreço especial pelo Japão. E não necessariamente pelo facto de qualquer um, mesmo o mais simples motorista de táxi, conhecer Portugal e português não ser sinónimo de padeiro, merceeiro, trolha, empregado de mesa ou afim. Para o Japão, os portugueses foram os primeiros ocidentais que ali chegaram e que lhes trouxeram, palavras, conceitos e mesmo algumas tecnologias. Respeitadores como são, não o esqueceram ao longo dos séculos e continuam a reconhecer esse contributo. Mas há mais do que isso. Há uma seriedade intrínseca e um respeito pelo semelhante enormes.
Agora, dentro da brutal desgraça que sobre eles se abateu, terramoto, maremoto e risco nuclear é impressionante a imagem que transparece de que, mesmo assim, existe organização e eficácia. E mais impressionante é: não há especulação nos preços dos bens de primeira necessidade escassos e não há pilhagens. Isto é Civilização com maiúscula e uma enorme homenagem ao “Homem” no que de mais digno tem.

14 março 2011

Custos de transporte

Se o gasóleo sobe, isso reflecte-se naturalmente na estrutura de custos dos transportadores. Se eles não o conseguem absorver só existe uma solução e que não é de forma nenhuma específica deste sector: reflectir o impacto no preço de venda. Evidentemente que não é fácil porque os seus clientes não estarão muito receptivos, mas não há outra forma lógica de tratar o assunto.
Vir ao “Estado” pedir compensação é fazer com que todos os contribuintes financiem por igual o custo do transporte dos iogurtes, das resmas de papel, dos detergentes e de tudo o resto. Eu não estou de acordo. Se o custo do transporte de um produto sobe, é a sua cadeia que o deve gerir e repercutir, conforme o mercado permitir.
Um sector que prefere chantagear os contribuintes em vez de negociar com os seus clientes, não é são. Muito menos sãos são certos discursos que recordam que “não se responsabilizam pela violência”, como se essa violência fosse uma fatalidade inevitável. Isso tem um nome muito feio.

11 março 2011

Excesso de velocidade

1- No dia 9-7-2009 cometi (e fui apanhado) em excesso de velocidade
2- Em 6-8-2009 respondi ao pedido de identificação do condutor
3- A contra-ordenação da GNR tem data de 24-11-2009
4- Mas apenas foi expedida no final de Dezembro e recebida por mim a 5-1-2010,
5- Em 11-1-2010 apresentei exposição requerendo suspensão da sanção acessória (inibição de condução)
6- A decisão da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária tem data de 30-11-2010
7- O documento tem data de emissão de 21-1-2011
8- E foi expedido em 1-3-2011
Que eles não sofrem de problemas de excesso de velocidade processual, não há dúvidas. O que estranho é que entre a produção de um documento e a sua expedição se possam passar meses.
Estou condenado com 6 meses de pena suspensa, a partir de Março de 2011. Na prática já “cumpri” 20 meses, porque se durante este período tivesse praticado uma infracção adicional, esta seria seguramente “somada” anulando a tal pena suspensa. Farão de propósito?

08 março 2011

Rasca e desenrasca

Não aprecio nada a nova expressão consagrada de “Geração à Rasca”. Nenhuma das palavras está bem. Em primeiro lugar não existe um problema específico dessa geração. Há um problema comum e, se calhar, pior estará quem fez há 20 e tal anos um curso a sério, teve o primeiro carro comprado com o seu ordenado, assumiu independência logo que pôde e agora com quase 50 anos se vê num beco de difícil saída. A geração que se diz “à rasca” está basicamente perdida. De uma forma geral viveu melhor do que a sua antecessora e tem dificuldade em assumir o seu lugar no palco da vida que se apresenta difícil. Os tempos não ajudam, mas a vitimização também não.
Depois, temos a palavra “rasca”. Quem está à rasca, busca “desenrasca” e de desenrascanços já temos que baste (considerando que nem toda a gente se pode desenrascar “tipo” João Pedro Soares). As motivações para as manifestações de rua podem ser divididas em dois grandes grupos. Aqueles que reivindicam moralização do sistema, mais justiça social, igualdade de oportunidades, chamemos-lhe melhorias sistémicas; depois há os outros que basicamente querem mais para eles, cujo grande anseio é poderem eles também serem “tipo” J.P. Soares. Nos motes reivindicativos recentes parece-me entender principalmente uma vontade de “desenrasca” e o que precisamos não é de um desenrascanço geral. É de empenho construtivo, sério e sustentável.